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Então estamos nisto, né, o esgoto a céu aberto do fascismo. Nível de argumentação infantil, só faltou dizer “se uma pessoa roxa mata uma pessoa às bolinhas é racismo?”
É inteiramente possível um homicídio entre pessoa de grupos étnicos diferentes não ser motivado por ódio racial. As declarações repetidas do homicida de Bruno Candé deixam pouco espaço à imaginação. Era preciso que fosse um antifa infiltrado a querer dar mau nome aos brancos. 🙄
Lá estou eu a dar-lhes ideias. Mas eles identificam-se e empatizam (e imaginam-se) demasiado com ele para essa teoria da conspiração. Mesmo que não houvesse óbvio preconceito do homicida, não se pode remover o contexto social. Mesmo que possa haver minorias com sentimentos +
negativos sobre uma maioria no pais (ou sobre uma elite económica e política, ainda que minoritária), o poder e as instituições residem de que lado? Que violência é tolerada e empatizada e encorajada e que violência é tabu e censurada e reprimida exemplarmente? Olhem para os EUA+
Há protestos de pessoas armadas, com suásticas e bandeiras confederadas a invadir legislaturas estaduais e a polícia protege os manifestantes. Ao mesmo tempo há protestos pacíficos anti violência policial e anti racismo e são reprimidos violentamente.+
As instituições protegem quem? O Trump podia perfeitamente ilegalizar o KKK e raptar qualquer pessoa envolvida com carrinhas federais não marcadas como está a fazer com manifestantes BLM. Um grupo não ameaça a instituição da supremacia branca. Outro sim. +
E em Portugal? Tendo descido há décadas, a maior parte dos homicídios continua entre parceiros (em que o homem mata a mulher, diga-se). Casos com os de Bruno Candé são raros porque o homicídio é raro em Portugal. Homicídio entre estranhos ou pessoas menos próximas ainda mais. +
No entanto, sabemos os nomes de várias vítimas de homicídios e agressões explicitamente motivados racialmente, desde Alcindo Monteiro até Bruno Candé rr.sapo.pt/2020/07/27/pai… . Há grupos racistas anti-brancos em Portugal? Que advogam violência contra brancos? +
Há homicídios de brancos racialmente motivados em Portugal? Mesmo quando temos rixas entre diferentes grupos marginalizados, a dinâmica de poder entre eles é a mesma? E aqui entra a maior distinção entre visões políticas sobre racismo. Há uma visão ultrapassada que vê +
o racismo como os sentimentos negativos de um indivíduo sobre outro por causa do grupo em que se insere. É uma visão fácil de entender, mas que invisibiliza a relação de poder entre grupos. Foi o que ensinaram na escola. Houve tanta revolta em relação a Bruno Candé porque +
mesmo nesta visão limitada de racismo, dizer “vai para a tua terra” a um português negro antes de o matar alguém é assim um cliché quase datado do que é racismo. Mas a visão que eu acho mais útil olha para a relação de poder entre grupos. Citando Kwame Ture:
“If a white man wants to lynch me, that's his problem. If he's got the power to lynch me, that's my problem. Racism is not a question of attitude; it's a question of power.” Quando tens políticos e seus apoiantes a legitimar um discurso racista, quando há apoiantes desses +
movimentos infiltrados nas forças de segurança ou explicitamente a mostrar o seu apoio, quando há jornalistas e opinadores a prestar mais atenção às pilhagens e antifa que à causa de um protesto (e depois ignoram o protesto quando não há violência), quando tens empresários a+
apoiar financeiramente movimentos racistas, quando tens senhorios a dizer que um quarto está vago ou não consoante o sotaque que ouvem ao telefone, quando tens livros de história e figuras públicas a relativizar o colonialismo... é mesmo igual quando um indivíduo de uma minoria+
expressa sentimentos negativos sobre precisamente o grupo que nega a discriminação que ele pode ter sofrido? Em Portugal dificilmente se encontrará o branco discriminado pela sua cor precisamente porque as minorias estão maioritariamente afastadas dos corredores de poder que+
lhes dariam as ferramentas para discriminar. O resto, que se repete, sobre violência e crime, tem muito mais correlação com a pobreza a que muitos são remetidos, que qualquer questão biológica ou cultural imaginada por racistas. Mas já viram como para desconstruir uma idiotice+
Alonguei-me aqui? É muito mais fácil fingir que não há poder, que somos todos indivíduos liberais com agência total e papaguear a vitimização que acusamos nos outros. Não há maiores queixinhas que os fachos, que mesmo no poder (vejam o Trump) acham-se vítimas de quem tem menos+
poder, dinheiro e influência que eles. Há mimimi maior que o Trump ter uma super-maioria no início do seu mandato e queixar-se de estar a ser perseguido? Ou em Portugal de se matar um homem e tentarem convencer-nos que a verdadeira vítima é o Ventura?
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