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By the way, não acho que “acha que Portugal é racista?” seja uma pergunta fácil. É, de facto, uma boa armadilha política para dividir as pessoas que têm opiniões fortes sobre o que uma construção política abstrata (o país) ou geográfica concreta (as suas fronteiras) ou uma (1/20)
população inteira não homogénea “sente”. A exigência de uma resposta binária (ou Portugal é 100% racista ou 0% racista) como cada lado exige é absurda. Temos pessoas não-racistas, como temos racistas convictos como temos racistas casuais que defendem o blackface. Estas (2/20)
pessoas não sentem o mesmo e mesmo muitos dos convictos não se vêem como racistas porque sabem do tabu social (racismo = mau). No entanto podemos medir efeitos (mal em Portugal devido à color blindeness exigida pelos censos) de racismo e sondar pessoas pelas suas (3/20)
opiniões. Esta sondagem por exemplo. Muitos dos nossos iluminados não racistas como o João Miguel Tavares das “culturas superiores” encaixariam facilmente no racismo cultural. Temos uns liberais praí muito preocupados com a emigração islâmica para a Europa. Ou pessoas (4/20)
muito preocupadas com a vandalização e motins e pessoas andarem de transportes sem passe, do que propriamente com o racismo. A negação da existência de racismo não é, em si, racista? Eu, ao negar a existência de um problema, não estou a facilitar a sua continuação? (5/20)
Não duvido que Rui Rio na sua vida pessoal seja uma pessoa correcta para com pessoas de etnias diferentes, tal como provavelmente o Venturra não terá coragem de ser abertamente racista em situações sociais (até tem amigos que são...). Mas quando Rui Rio diz que não há (6/20)
racismo, o que ouvimos? A negação das condições em que vivem as pessoas afrodescendentes no Bairro da Jamaica, da violência sobre Alcindo e Cláudia Simões e Ihor, das bocas racistas na rua, no café, na escola, na televisão, na política. Ouvem alguém dizer “eu não vou (7/20)
fazer nada para resolver isto.” E quando ouvimos alguém dizer que sim, Portugal é racista, o primeiro pensamento é defensivo, mas se eu sou português e até gosto do Mantorras, como posso ser racista? Como pode Portugal (o país de onde sou) ser racista se EU não sou? (8/20)
Claro que isto tem que ver com a maneira como ensinamos e aprendemos o racismo. Que primeiro, é irrelevante quem faz a quem (liberais não percebem poder) e segundo, que é uma letra escarlate que as pessoas MÁS carregam para sempre. Convém separar os dois tipos de racismo. (9/20)
O pessoal é ignorância aprendida. Todos temos preconceitos e todos podemos aprender e crescer e deixá-los para trás. Ser chamados à atenção é uma oportunidade para reflectir e melhorar. Devemos deixar o ego de lado e estar abertos a conhecer melhor o mundo. (10/20)
O segundo é o tal estrutural/sistémico. Não se pode olhar para a história de Portugal, uma país que enriqueceu e se construiu com a exploração colonial e a escravatura (até ao século XX!!!) e pensar “ah mas eu não beneficio disso”. Devolvemos tudo, foi? Houve algum reset? (11/20)
Claro que como temos países mais ricos que o nosso achamos que somos uns pobretanas. E a desigualdade faz-se sentir entre classes. Os trabalhadores certamente não se sentirão privilegiados. Mas não deixamos de andar lá nos top 30s do mundo. Comparados com os países (12/20)
que explorámos, não nos safámos mal. Além da história recente, temos de pensar em como aprendemos a história hoje, a ideia de missão civilizadora, que fomos menos maus que os outros, que sempre fomos excepcionais no nosso multiculturalismo. Isso ainda está presente (13/20)
no ensino, tal como a nossa adopção de certos símbolos nacionais (Vasco da Gama, por exemplo) de historial questionável. Em termos económicos, laborais e académicos é fácil olhar para resultados e %s e perceber que se houvesse igualdade de facto que o “elevador social” (14/20)
funcionaria de igual para todos. Nem para as mulheres funciona e elas são a maioria da população. Finalmente, olhemos para a nossa produção cultural. Onde estão os nossos escritores, realizadores, intérpretes afrodescentes? Ou até de outras comunidades de tamanho (15/20
relevante como a chinesa, ucraniana... cigana? Quanto controlo têm sobre a sua representação cultural? Quantas vezes são eles chamados a contar as suas próprias histórias, a fazer rir e chorar do seu ponto de vista? Somos bons a esconder as pessoas e a proteger-nos (16/20)
do racismo e de ver as suas consequências. Às vezes só proteger-nos intelectualmente, arranjando justificações biológicas, culturais ou morais (“não viste o início do vídeo”) para não termos de lidar com o racismo, porque obviamente... é desconfortável. Não queremos (17/20)
que achem que somos más pessoas. E é isso que se está a perguntar. Se Portugal é um país “mau”. Se tu és uma pessoa “má”. E a resposta é... sim e não. O mal do racismo existe na nossa sociedade, mas podemos corrigi-lo. E não temos de sacrificar ninguém para o fazer. (18/20)
A maior parte das medidas que corrigiriam os efeitos do racismo (programas universais públicos) seriam bons para todos. Corrigir a visão da história mesmo sem moralismos é um serviço à ciência e ao conhecimento. E reconhecer o nosso próprio racismo e como podemos melhorar (19/20)
só nos ajuda a ser mais felizes. A largar rancores, a fazer mais amigos. Basta largar o ego. (20/20)
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