Saiu finalmente uma publicação (preprint) da Sinovac, resultados de fase 2. medrxiv.org/content/10.110…
Nao fiquei muito entusiasmada. é uma vacina de virus inativado, o que chamamos de vacina de primeira geração. das antigas, por assim dizer. vantagem: sabemos fazer há 60 anos. desvantagem: precisa cultivar o virus e depois inativar, isso requer laboratório de segurança máxima.
Rendimento de dose por litro tb é baixo, então precisa produzir muito. Precisa de bioreator para crescer o virus. Com toda essa infraestrutura, fica caro. Outra desvantagem, não costuma dar boa resposta de células T, o que para esse virus sabemos ser importante.
Também nao costuma ser muito imunogenica, entao precisa de adjuvante, como as de proteína, que já comentei aqui. Até aí sem problemas, costumam funcionar bem mesmo assim, e temos varias como essa no mercado: polio (Salk), raiva, influenza.
Essa da Sinovac é um virus inativado que usa Alum como adjuvante. o adjuvante serve para ajudar a causar uma reposta inflamatória e recrutar células do sistema imune para o local. Dá um "sinal de perigo" para o nosso sistema imune. Alum é um adjuvante comum, usado há muitos anos.
Dependendo do tipo de adjuvante, podemos direcionar o sistema imune. Alum costuma direcionar mais resposta de anticorpos do que células T. Pra quem segue meus fios, direciona mais resposta de Th2. Para esse virus, seria legal ver Th1, e resposta de células TCD8.
A Sinovac testou a formulação de virus inativado, com Alum, em duas doses, e um grupo placebo, em 600 voluntários de 18-59 anos. Observaram resposta de anticorpos, e anticorpos neutralizantes, após segunda dose. Mas a quantidade de anticorpos neutralizantes era baixa.
Mais baixa do que a de soro de convalescentes. Nas outras vacinas estamos vendo respostas melhores. Outra coisa que observaram foi um declínio do numero de anticorpos neutralizantes com a idade. Mesmo sem testar idosos, só comparando grupos etários de 18-29, 30-39, 40-49 e 50-59.
Nao sabemos qual a concentração de anticorpos neutralizantes que é protetora. Trabalhos anteriores mostraram que mesmo quantidades muito pequenas achadas em soros de convalescentes foram protetoras, entao isso pode nao ser impeditivo.
Mas é uma preocupação. Assim como o declínio por idade, o que pode significar mais uma dose para idosos. Os autores fazem várias ressalvas dizendo exatamente que mesmo quantidades pequenas de anticorpos podem ser protetoras, e que sempre podemos aumentar o regime vacinal.
Outra ressalva feita pelos autores é que na imunidade natural, os anticorpos decaem rapidamente, entao provavelmente teremos que confiar em células de memória. Isso nao me parece uma justificativa boa o suficiente.
Pode até ser, mas seria bom ver titulo maiores e mais estáveis de anticorpos. Principalmente em um tipo de vacina que nao costuma dar muita resposta celular. Neste preprint, os autores nem mediram. Enfim, pode ser que funcione em fase 3, e nos surpreenda.
Mas até agora estou mais empolgada com as demais. Continuo fã da Pfizer, mas sempre enfatizando que isso é um crush pessoal de geneticista hehehe. Nao sabemos nada até elas todas passarem pela fase 3. Por enquanto temos apenas marcadores de imunidade.
Eficácia nao sabemos de nenhuma. Mas eu continuo incomodada em sabermos tao pouco da Sinovac. E quando publicam, os resultados ainda são bem parciais. As outras vacinas estão mais transparentes e publicando resultados melhores. Espero que a Sinovac me surpreenda.
