Não tinha nem 5 meses de casa, comecei a ser destacado pelo dono para as missões mais complicadas.
Se alguma negociação travasse, era eu quem resolvia. Se alguém fizesse besteira, era eu quem desfazia.
Não demorou, recebi um belo aumento.
Lembro bem do dia em que cheguei na firma de carro novo, o comentário geral que foi. Só tive que ignorar os invejosos, nos sussurros de "protegido" "queridinho" e tal.
Eu já era formado, ganhando bem, jovem e cheio de confiança, e não seriam aqueles caras que me deixariam mal.
Nada do que pudessem dizer me atingiria.
Só que, dias depois, as coisas começaram a ficar estranhas.
Só voltei a sentir o incômodo de noite, já em casa, mas continuei sem encontrar a causa.
Fui dormir.
"Cedo ou tarde vai sair", pensei, mal sabendo que estava muito enganado.
Mal desliguei, comecei a procurar um médico que pudesse me atender o quanto antes.
Só que a médica revirou meus olho quase do avesso, sem entender nada. Fora minha reclamação, aparentemente meus olhos não tinham nada.
Sai de lá completamente perdido, sem um diagnóstico e com uma receita enorme de remédios.
Voltei para casa quase sem conseguir enxergar e tratei de dormir.
Levantei tateando nos móveis em busca do meu celular, para tentar ligar a alguém, mas ele não estava no lugar de sempre.
Procurei por tudo e nada.
Meu desespero só aumentava.
Me guiando pelas paredes, fui caminhando em direção à porta, sempre seguido pela respiração misteriosa.
Precisava sair dali urgentemente.
- Para com isso! Não to gostando dessa brincadeira!
- Se se aproximar eu juro que te meto essa faca...
E assim eu avançava, cercado pelo ser misterioso que me cercava, até que cheguei na porta.
Mas, mal toquei na maçaneta...
Ali, percebi que tinha de fazer algo, ou morreria logo. Num último esforço desesperado, consegui segurar na maçaneta e, com um golpe, abri a porta.
No momento seguinte eu estava no chão do corredor, ainda cego, mas vivo.
Também não havia qualquer marca de esganadura no meu pescoço, apesar das mãos que quase tiraram meus pés do chão.
Ela pediu para dar uma olhada em casa, mas não encontrou nada. Não satisfeita, pediu para procurar no meu carro, e lá descemos nós.
Descobri, da pior forma, o mal que a inveja podia causar.
- Isso é alguém do teu trabalho - ela explicou, mas algo que já desconfiava.
Não foi um grande mistério descobrir quem havia feito aquilo. bastou reparar em quem se decepcionou com minha repentina volta ao trabalho.
Apesar de todas as proteções que sempre fiz, com auxílio da Eugênia, muitas outras coisas me aconteceram, ao ponto de não aguentar mais e pedir demissão.
Ninguém entenderia meus motivos, então sai calado.
Preferia a paz do que precisar, constantemente, viver com medo da próxima ameaça, que certamente sempre chegaria...
Fim
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