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Hiroshima, manhã do dia 06 de agosto de 1945.

Sadako Sasaki tomava café da manhã com sua avó, sua mãe e seu irmão, quando, do nada, um brilho enorme cegou a todos.

Sem qualquer aviso, um barulho enorme e uma grande explosão fizeram tudo ao redor desaparecer.
Sadako, que tinha dois anos naquele triste dia, foi sugada por uma onda de vácuo e sumiu pela ruína de uma janela, para desespero da sua mãe.

Por milagre, foi encontrada no quintal da casa sem nenhum ferimento, sem nenhuma queimadura, assim como todos da família.
E falo de milagre mesmo, pois a casa da família Sasaki ficava somente 1,6 quilômetro do "ground zero", o epicentro da 1ª explosão atômica em guerra do mundo, fruto da covardia dos Estados Unidos da América contra, basicamente, civis japoneses.
Olhando ao redor, se teria certeza de que o mundo havia acabado.

Casas despedaçadas.

Pessoas desintegradas no ar.

Outras, gritando pelas ruas com as peles queimadas, dependuradas.

Em algumas paredes ficaram as sobras de Hiroshima, marca de pessoas no exato momento da explosão
Percebendo a enorme sorte que tiveram, a mãe de Sadako pegou a família e correu para o rio para fugir do incêndio que tomava conta das ruínas.

No meio da fuga, a avó de Sadako voltou em casa para buscar algo e nunca mais foi vista.

Foto: Hiroshima antes e depois do bombardeio.
Já no rio, no meio da evacuação que as forças públicas faziam, começou a chuva negra, espécie de cinza nuclear que cai com a chuva depois da explosão atômica, causa de contaminação extrema.

No fim, por mais improvável que pareça, Sadako, sua mãe e irmão acabaram sobrevivendo.
Diante da explosão de Hiroshima, em 06 de agosto, e da explosão em Nagasaki, três dias depois, o Japão, curvado, assinou sua rendição no dia 15 de agosto, tendo sido ocupado pelas forças norte-americanas em 28 de agosto de 1945.

Era o fim da 2ª Guerra Mundial.
Apesar do trauma, Sadako cresceu, se tornou uma menina saudável, linda e estudiosa.

Era boa esportista, campeão em corrida de revezamento na escola, cantava e cuidava carinhosamente dos irmãos mais novos.

Só que, em 1955, após uma corrida, algo estranho começou a acontecer.
Primeiro, foi um resfriado estranho e forte; depois, uma rigidez no pescoço e o rosto inchado.

Após vários exames, descobriu-se que Sadako tinha leucemia e, nas projeções dos médicos, somente mais um ano de vida.

Sadako tinha 12 anos quando recebeu sua sentença de morte.
As explosões nucleares de Hiroshima e Nagasaki mataram imediatamente 90 mil e 35 mil pessoas, respectivamente (nas estimativas mais baixas), basicamente mulheres e crianças.

Nos dias seguintes, outras 130 mil pessoas morreram em decorrência da radiação e ferimentos.
Mas, pior do que isso, foi a verdadeira epidemia de leucemia e outras doenças surgidas por conta da radiação, doenças que atacavam principalmente crianças, exatamente como Sadako, que só queria viver.

Ela foi internada e começou um longo tratamento.
Mas, a bem da verdade, não havia muito o que fazer - e todos sabiam disso.

Os efeitos das bombas norte-americanas já eram conhecidos, mas Sadako não se conformava com aquele destino terrível, ainda mais após sobreviver ao pior, estar no epicentro da explosão.
Era a "doença da bomba atômica", como diziam os sobreviventes, a leucemia maligna aguda do linfonodo devastadora para a medicina da época.

Sadako lutou muito durante o ano de 1995. Em agosto daquele ano, seu pai, Shigeo, contou a ela a lenda dos tsurus.
Tsuru é uma ave sagrada do Japão, símbolo de saúde e longevidade.

Segundo lendas japonesas, se você fizesse mil origamis de tsurus, os deuses te concederiam a cura de doenças, e foi nisso que Sadako se agarrou fortemente.
Apesar do tempo livre no hospital, no Japão pós guerra era difícil encontrar papel, um insumo então muito caro.

Sadako começou a fazer seus tsurus com embalagens de remédios, papel de embrulho e páginas arrancadas de livros e cadernos, contrabandeados por colegas da escola.
Só que a doença avançava velozmente, deixando Sadako cada vez mais debilitada.

Em outubro de 1955, pouco depois de começar a dobradura de seus mil origamis, Sadako cansou.

Ela dobrou um último pássaro, se despediu dos pais e dormiu.

E não mais acordou.
Sadako morreu em 25 de outubro de 1955, com 12 anos, após dobrar 644 Tsurus, dos mil que a curariam da morte.

Diz a lenda que seus colegas de classe tomaram para si a missão e terminaram de dobrar os tsurus que faltavam, e que Sadako foi enterrada junto dos seus passarinhos.
Sadako acabou virando símbolo da ferocidade dos ataques norte-americanos, da morte injusta de milhares de mulheres e crianças inocentes.

Após sua morte, seus colegas de escola enviaram centenas de cartas ao redor do mundo pedindo ajuda para erguer um memorial para Sadako.
E conseguiram:

Em 1958, uma estátua com Sadako segurando um Tsuru gigante foi erguida no Parque Memorial da Paz de Hiroshima.

Chama-se Manumento das Crianças à Paz e, no pé da estátua, uma mensagem:

"Este é o nosso choro.
Esta é a nossa oração.
Paz no mundo."
Ainda há outra estátua em homenagem a Sadako, nos EUA, no parque da Paz de Seattle.

Também há um livro lindíssimo, que li quando era criança, chamado Sadako Quer Viver, do austríaco Karl Bruckner, editado pela Editora Brasiliense.
Sadako é uma "hibakusha", "pessoa afetada pela bomba", um grupo de ainda milhares de pessoas que sofrem, de uma forma ou outra, com os efeitos devastadores da covardia norte-americana.

O Enola Gay, bombardeiro que destruiu Hiroshima, ainda é exposto com orgulho.
Assim como há menções elogiosas à Fat Man e Little Boy, nomes "carinhosos" dos dois mecanismos atômicos que chocaram o mundo.

Apesar das quase 150 mortes imediatas, das mais de 100 mil mortes nos dias seguintes e das mais de 100 mil hibakusha...
...e apesar da morte majoritária de mulheres e crianças e da destruição total das 2 cidades, os Estados Unidos JAMAIS pediram desculpas por Hiroshima e Nagasaki.

Hoje faz 75 anos desse dia vergonhoso e Sadako segue mais viva do que nunca.

Fim
E uma última coisa:

1. Apesar da lenda, a verdade é que Sadako completou os mil tsurus e ainda fez mais 300 antes de morrer. Infelizmente, descobriu que a lenda não funcionava.

Sadako é um símbolo importante sobre a bestialidade da guerra, ao lado de Anne Frank.
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