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COMO SALVAR O JORNALISMO

Espoletado pela polémica recente sobre direito à informação vs. direito à recompensa pelo trabalho em relação à partilha de artigos sob paywall, vou tentar sintetizar aqui uma proposta para salvar o jornalismo em Portugal.

Começa o fio

1/21 (sorry!)
Qualquer proposta teria de assentar em quatro premissas:

1) Todas as sociedades precisam de acesso a informação de qualidade para funcionar. A informação sobre a Covid durante uma pandemia é um bom exemplo. A informação sobre a extrema-direita também.

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2) O mercado cria incentivos perversos que são contrários à função do jornalismo (consolidação de média, sensacionalismo, Nónio, foco em espaços de opinião, paywalls, publicidade disfarçada de notícia, precarização dos jornalistas).

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3) Há cada vez mais propaganda e fake news, livremente acessível, sem paywall.
4) O mercado não é capaz de resolver esta contradição. Subscrições, crowdfunding, é tudo insuficiente. Fecham cada vez mais jornais (especialmente locais), precarizam-se trabalhadores.

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Portanto, como devem ter imaginado, se o privado não resolve, é preciso uma proposta pública para salvar o jornalismo. Ora, eu entendo os medos que a potencial promiscuidade entre Estado e Jornalismo possa suscitar. Ainda hoje vemos os 15 milhões "dados" aos grupos de media

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usados como argumento de um suposto "suborno" para se manterem mansos e não criticarem o governo. Um modelo público teria de ser independente, tanto do poder político, como dos próprios interesses económicos. Como transformar a informação num serviço público?

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Parte desse serviço público é assegurado pelos media públicos (RTP, Antena 1, etc). Como não há um jornal público, não sei, mas isso é outra história. Mas para garantir isenção e pluralidade (além de não sobrecarregar o público), a sociedade civil deve ser apoiada.

7/21
A minha proposta então é um orçamento participativo para a informação (OPPAI). Simplificando:

1) Cria-se um fundo para distribuir anualmente por grupos/organizações de imprensa
2) Cada grupo faz uma proposta consoante as suas necessidades.
3) As propostas vão a votos

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anualmente, publicamente.
4) As x propostas mais votadas recebem financiamento total ou parcial.
5) Para se ser elegível seria preciso aceitar um conjunto de condições.

Por pontos:
1) O dinheiro teria de vir de algum lado. O mais simples seria um imposto.

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2) As propostas teriam de ter um limite de apoio. Ou seja, um grupo enorme e popular não poderia açambarcar uma enorme fatia por ter necessidades maiores. Mais, teria de ser explicado como utilizariam o dinheiro e teriam de apresentar contas. Pode até ser razoável

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dividir as propostas entre por exemplo jornais nacionais, regionais, online, e ainda estender publicações da imprensa cultural, por exemplo.

3) O orçamento participativo de Lisboa é feito numa plataforma online e por SMS. Para tornar algo verdadeiramente inclusivo

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e não tão manipulável, seria necessário uma campanha de divulgação a nível nacional. Voto online, porque não, mas porque não deixar votar em quiosques e livrarias onde as pessoas compram jornais? 1 voto por CC, num período de um mês, por exemplo. O voto deve ser

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por escolha preferencial, indicando várias escolhas (assim, dando hipótese aos menos conhecidos também), e potencialmente várias categorias.

4) Concluído o voto, seriam atribuídas então as bolsas/subsídios em tranches, na condição de fiscalização periódica.

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5) Fiscalizar o quê? Ao impôr condições sobre os jornais devem-se incentivar as boas práticas. Exemplo:

a) O jornal está a sair com a periodicidade proposta? O site está atualizado?
b) As reportagens respeitam o código deontológico dos jornalistas?
c) Há trabalhadores

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precários na redação? Falsos recibos verdes? Estágios não-remunerados?
d) Estão a despedir enquanto distribuem dividendos?
e) O conteúdo informativo está por detrás de paywall?

E podíamos ir mais longe! Obrigar a mais representação dos trabalhadores nas decisões

15/21
editoriais, por exemplo! Mais diversidade ideológica e não só nos espaços de opinião! Mas para manter a questão da isenção seria importante não ter grandes exigências editoriais (para além obviamente, da verdade).

E quem fiscalizaria? Era preciso ser um

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orgão independente. Se quisermos ficar doidos com isto da democracia popular, porque não por eleição popular desses órgãos na mesma votação? Mais representação sindical e, se tiver de ser, corporativa e governamental.

Há outras possibilidades que se abrem com isto:

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mesmo que fosse o fim das paywalls (nos subsidiados), e as pessoas que não lêem notícias na internet? Podia o nosso imposto incluir uma subscrição a um jornal físico? Podíamos ter mais espaços como bibliotecas, escolas, juntas com jornais para consulta?

18/21
As vantagens que vejo neste modelo são de abrir a porta a jornalismo independente do mercado e independente do governo, partidos ou dos grupos financeiros que hoje são donos dos maiores jornais. Se assumirmos que a informação é um direito, então não tens

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informação sem profissionais com segurança, sem acesso livre a ela. E muita da informação mais necessária, não dá cliques nem é rentável.

O meu objectivo com isto era abrir a discussão e apresentar novas ideias.

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Obviamente que há vários pormenores que precisariam de ser aprofundados e esclarecidos e não é um rando no twitter que vai revolucionar a maneira como pensamos no jornalismo em Portugal, mas como está há problemas graves que o mercado não resolve. Um abraço aos jornalistas.
21/21
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