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A final entre PSG e Bayern é o jogão do ano.

O duelo do talento de Neymar e Mbappé contra o forte time dos alemães. Individual contra sistema.

É um pensamento que parece lógico...só que futebol não é tênis ou handebol! Não dá para separar a individualidade do coletivo. Fio👇
Perceba que todo mundo, antes do jogo, olha a escalação e faz uma soma: quem tem os melhores jogadores é o favorito. Ganha quem tem mais talento. Se tem um muito acima da média, então ele ganha a tarefa de ser protagonista e liderar seu time.

globoesporte.globo.com/futebol/futebo…
Fazemos isso de uma forma inocente e inconsciente. Porque é assim que a gente é ensinado a ver o mundo: por dualismos.

Ou é bom, ou é ruim.
Ou é feliz, ou é triste.

Ou um time tem talento acima da média ou é coletivamente forte. Dualismo.
As expectativas no jogo são bem dualistas: "O Bayern é uma máquina, um sistema" e "O Neymar tem que decidir sozinho".

Já pararam para pensar que o craque precisa receber um bom passe do time para decidir na cara do gol?

O dualismo é uma forma incompleta de olhar para o jogo.
Quando você junta várias pessoas numa missão, é mais provável que conseguirão produzir coisas que ninguém conseguiria sozinho. Isso acontece porque um interage e influencia o outro e faz com que o todo seja sempre maior do que a soma das partes.

Não faz sentido separar.
Logo, futebol não é a simples soma dos melhores na escalação mas sim a INTERAÇÃO entre esses jogadores.

O PSG jamais chegaria na final se fosse bola nas costas do Neymar. Existe um sistema, tão coletivo e bom quanto o do Bayern, para que ele apareça.
O mesmo vale para o Bayern: eles jamais chegariam na final se fossem só coletivos. Na verdade, é o coletivo forte deles que POTENCIALIZA o talento na área do Lewandowski, a visão de jogo do Kimmich ou a velocidade do Gnabry.
O Neymar vem jogando muito. Tá comprometido...

E as INTERAÇÕES do time POTENCIALIZAM o talento dele. Ele vem jogando centralizado. Para que Ney fique solto no campo, Ander Herrera e Marquinhos jogam um pouco mais atrás e ATRAEM marcadores, liberando espaço para Ney receber livre
O novo posicionamento de Neymar foi algo planejado. Pensado. É um SISTEMA para fazer a INDIVIDUALIDADE do jogador crescer, aumentar o número de gols e assistências e aproximar a equipe da vitória.

O Ney depende do PSG assim como o PSG depende dele.
globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Gnabry iniciou os dois primeiros gols contra o Barcelona e fez dois no pior momento do Bayern contra o Lyon. Foi o grande protagonista.

Nossa visão dualista já vem e fala que ele é craque. Como a lógica afeta o sentimento, é irresistível criticar o Arsenal por dispensá-lo...
O que a gente não vê é que o sistema do Bayern POTENCIALIZA as características do Gnabry: explosão, condução em alta velocidade e finalização.

No início da jogada, o Kimmich corre para trás uns 3 metros em direção ao gol do Bayern e recebe do Thiago.
Parece ruim correr pro próprio gol atacando, mas o movimento do Kimmich atrai Cornet, um ponta improvisado como ala que está acostumado a seguir laterais.

Esse pequeno recuo fez com que Gnabry recebesse a bola com tempo e espaço para mostrar toda sua individualidade.
É por isso que técnica e tática NÃO SÃO EXCLUDENTES.

Um panda morre na China toda vez que alguém fala que o "sistema tático está tirando a liberdade dos jogadores".

Não existe sistema tático sem existir o talento do jogador. Um é causado e "reformado" pelo outro.
Por isso discordo respeitosamente da coluna do Tostão hoje na @folha quando ele diz que "Existe uma adoração, um fetiche, pela tática, como se ela explicasse todas as atuações e todos os resultados."

O problema não é a tática, é nosso olhar cartesiano.
www1.folha.uol.com.br/colunas/tostao…
Jogar futebol é controlar emoções (psicológico) para fazer movimentos (físico) e colocar o corpo em algumas posições (técnica) de forma a gerir um determinado espaço dentro de campo (tática).

TODO JOGO de futebol é PURAMENTE tático, técnico, físico e emocional.
Tática não é um "sistema rígido" que "prende os jogadores", não é "esquema tático do treinador".

Tática é a ferramenta para entender como os espaços em campo são ocupados. Técnica é a ferramenta para entender o movimento dos jogadores.

Ferramenta. Não molde.
Isso é tema para outro texto, mas não existe futebol sem tática. Tem tática na pelada do condomínio. No jogo de várzea. No brasileirão e na Liga dos Campeões.

A gente só precisa parar de olhar ela como algo do contra. Ou separado do talento, o que tá totalmente errado.
Essa visão dualista e míope é tão ruim pro nosso futebol que cria mitos e falsas conclusões que não se sustentam quando replicadas.

Um grande exemplo é o Messi.

O Messi do Barcelona é diferente do da Argentina porque o contexto muda. As relações mudam.
Outro exemplo é o Brasil de 1994. Meu pai até hoje fala que o Romário ganhou aquela Copa sozinho...seu pai deve achar isso também. Isso é cartesianismo puro.

Até a gente ver como aquele time era rico em ideia de jogo, dinâmica e o craque que foi o Dunga!
globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
O dualismo criado por René Descartes ainda é a forma mais comum de olharmos para o mundo. Julgamos pessoas com conceitos antagônicos. O sistema judiciário é pautado assim. O ingresso na vida adulta é feito assim: se vai bem no vestibular, entra na faculdade, se forma e trabalha.
O cartesianismo nos trouxe uma visão míope do mundo. Ele até resolve problemas técnicos, mas nos fez crer que tudo se resume ao indivíduo e a juízos de valor.

Resultado? Competição em massa, estresse, acúmulo de dinheiro sem propósito e duas guerras em menos de vinte anos.
Já outros filósofos estudam o mundo por um viés mais sistêmico. Um dos mais interessantes é o chileno Humberto Maturana, que é adepto do pensamento multidisciplinar e sistêmico. Agora, resolver problemas é uma tarefa de encontrar soluções e não mais julgar certo ou errado.
No futebol, a visão dualista, sistêmica e míope de que as coisas se dividem em bom ou ruim ou em individual e coletivo ainda é muito comum.

E vai ser difícil a gente olhar a relação entre elas...na maioria das vezes, não temos tempo e queremos apenas relaxar!

Errado não tá!
A xis da questão é quando a gente pensa em dualismos que não existem e age com base neles.

Neymar não vai decidir sozinho. Ele vai precisar do coletivo do PSG, assim como o Bayern precisa do Lewa e do Muller pra vencer.

Porque, no fim, coletivo e individual se misturam.
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