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O auxílio emergencial impulsiona a alta de Bolsonaro? Sim e não. Mas sim em um sentido simbólico, muito menos pela lógica que a esquerda,desde os anos 1930, busca entender o fascismo, isto é, pelo economicismo. Vamos ao fio (1/15).
Bolsonaro surge, desde o início, como uma espécie de tio passivo-agressivo e permissivo. Ele é o tio que dá doces para as crianças antes do almoço, ou que promete dar, mas não dá com medo de brigar com os outros adultos -- mas ele sempre acena para ser popular (2/15).
A esperteza de Bolsonaro é sempre não arcar com o que é impopular, mesmo que esse impopular seja necessário: e impopular é meu refiro ao que contraria nossas pulsões mais imediatas. Quem quer ficar confinado? Quem quer acreditar na existência de uma pandemia? Ninguém (3/15).
Mas Bolsonaro prefere ser o cara que não dá essa notícia e, o que é pior, é o sujeito que difama que deverá dar essa notícia ou tomar as medidas necessárias. Assim como ele sabe se adaptar às circunstâncias (4/15).
No fundo, Bolsonaro sabe que se ele não liderar a luta contra a pandemia, com todas as repercussões duras que isso exige, alguém o fará e os acertos e erros, o custo pelo stress população, não será dele (5/15).
Mas por que um cara assim é o implementador de políticas de austeridade, as quais prejudicam a maioria para enriquecer os bilionários? Pela simples razão que ele quer ser presidente e ter mais e mais poder. O ponto é que ele pode criar uma narrativa para isso (6/15).
A narrativa de Bolsonaro passa por fazer o sujeito comum se colocar como um empreendedor. O sistema todo já faz isso, ele apenas reforça. Você tem de aguentar essa política porque QUANDO você se tornar empresário, você não vai gostar de pagar altos salários, né mesmo (7/15)?
E o auxílio? Bolsonaro não queria pagar para fazer as pessoas irem trabalhar desde o começo. Ele foi obrigado a aceitar. Agora, ele pega as loas por isso, uma vez porque as pessoas não acreditam no vírus, continuam trabalhando e usam como complemento de renda (8/15).
Em parte, as pessoa usam o auxílio para poder sair de casa. E creditam isso a Bolsonaro. E ele topa. Enquanto isso, ele quer uma coisa meio boçal: talvez um auxílio menor e para sempre, tudo para acabar com a marca "Bolsa Família" (9/15)
Bolsonaro percebe o óbvio: pagar um auxílio agora, graças a seus esforços semióticos para negar o vírus, é um estímulo para desmobilizar o combate à pandemia. É um investimento que permite furar a quarentena e, ainda, permite desmontar primeiro a classe média (10/15).
Bolsonaro convenceu, sobretudo os pobres, a negar o vírus, pois é o que ele sempre faz: "você já está aí lascado, o que é melhor, acreditar na minha mentira conveniente ou em uma verdade que pode te enlouquecer mais ainda?" (11/15).
Nesse meio tempo, o governo está desmontando a classe média. Basta ver o que rola com os professores universitários que atuam nos grandes conglomerados privados: estão sendo demitidos e precarizados, finalmente surgiu a deixa para enfiar o ensino à distância goela abaixo (12/15).
Ao contrário de Guedes, Bolsonaro sabe que é preciso primeiro desmontar a classe média para depois avançar sobre os mais pobres -- os quais vão sendo anestesiados com o combo conservadorismo moral + auxílio emergencial (13/15).
De novo: não é o valor do auxílio, mas sua função simbólica dele no contexto do discurso qu Bolsonaro estabeleceu em relação à pandemia: não é a barriga, é o desejo (14/15)!
A esquerda brasileira segue sendo os comunistas/social-democratas dos anos 1930: sem dialética, sem jinga, pensando apenas na relação emprego, renda e em um materialismo feito à base dos elementos concretos desprovidos de símbolos, o que consiste em superstição pura (15/15).
P.S.: não comer é um problema. Mas isso só torna uma questão política na medida em que é...politizada. Porque eu vou desejar deixar de ser faminto? Política é gerar desejo de fome, uma vez que a fome é apenas um fato biológico.
P.S. do B: o que eu digo é lembrar Reich, proscrito pela sua análise da ascensão nazista nos anos 1930 (assim como Deutscher ou Benjamin, todos comunistas não-idiotas), de que se o desejo fosse falta, os famintos fariam greve sempre, mas eles não fazem.
P.S. 2: a solução é acabar com o auxílio? Não! E se você chegou aqui e me perguntou isso, não entendeu nada. A questão é que Bolsonaro pode se adaptar à remoção do auxílio se for preciso. Não é auxílio ou não, mas seu uso em uma narrativa desejante.
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