Thread by @hugoalbuquerque

Bolsonaro está realmente mudando, se movendo de verdade para uma agenda social só que de extrema-direita? Tenho ouvido bastante isso nos últimos dias, mas me parece uma enorme besteira. O único movimento relevante é o silêncio e o ataque conjunto a Moro via Aras. Vamos lá (1/10):

Bolsonaro aprovou o auxílio emergencial sob muita pressão da oposição e da direita normal, esta última preocupada com o eventual caos social. Hoje, o auxílio está sendo pago de forma burocrática, enquanto a população segue sendo empurrada para voltar totalmente à ativa (2/10).

De um lado, a prisão de Queiroz obrigou Bolsonaro a ficar quieto e isso, meus caros, não foi à toa. Aí, entra Guedes obrigando Bolsonaro a assumir uma fase "paz e amor" e girar o Brasil em campanha, enquanto ele, Guedes, realmente governa (3/10).

E, nesse sentido, eles já cederam muito espaço para o Centrão em cargos e fundos, enquanto todos agora têm um adversário em comum, que é Moro. Há pressa em Brasília para remover Moro, sobretudo para não esperar a próxima eleição americana (4/10).

E nesse sentido, Aras funciona como um grande conciliador: ele já entrou mostrando para Bolsonaro que Moro talvez não fosse um grande negócio, e quanto mais Bolsonaro o ouviu, mais cedeu só que mais teve governabilidade (5/10).

Isso interessa a grande parte do sistema político brasileiro: a derrota de Moro, por variados motivos, que vão da ética -- e a Lava Jato é um cabedal de abusos, não é difícil provar -- até a disputa eleitoral com ele, passando pela turma do fisiologismo (6/10).

Muita gente acha que Bolsonaro é o maior favorecido, mas não é, ele é Aras, alguém sem pretensões político-eleitorais que mira uma cadeira no STF (7/10).

Moro não entendeu o que Lula disse para ele na audiência, Moro hoje é quem está na posição do linchado, exatamente como Lula esteve em 2016-2018. Só que Moro não é Lula (8/10).

De resto, a aposta Bolsonaro funcionou no sentido de que ele conseguiu operar uma das maiores transferências de renda dos pobres para os ricos da história, em plena pandemia, sem causar nada muito relevante. Se ele vai ser útil em 2021 é outra história (9/10).

Para a elite brasileira, depende muito o que vai rolar nos próximos meses e, sobretudo, se Trump vai se reeleger nos EUA. 2021 é um ano tranquilo para ela decidir, uma vez que a depender do que role, não precisaremos ter eleições diretas (10/10).