O ex-presidente argentino Eduardo Duhalde falou na possibilidade de golpe militar na Argentina até ano que vem. Seria uma ameaça ou um aviso? Eu diria: os dois. Segue o fio (1/13).
Duhalde, "El Cabezón", é um nome histórico do peronismo e participou da "adequação" do Partido Justicialista no pós-Guerra Fria como um partido de centro-direita. Mas ele sempre foi um nome menos radical do que Menem, seu aliado e depois rival interno (2/13).
Quando Duhalde sucede a Menem, este depois de dois mandatos, como candidato justicialista em 1999, é claro que a ala menemista torcia por sua derrota frente ao fraco De la Rua (3/13).
De la Rua, um radical mas fechado com o neoliberalismo, ganhou e fracassou, veio a crise de 2001, ele caiu, depois Rodriguez Saa caiu e Duhalde conseguiu o cargo interino de presidente para preparar o país para novas eleições (4/13).
Duhalde elegeu Nestor em 2003, que embarcou na Onda Rosa e conduziu um governo de centro-esquerda. Depois que o Kirchnerismo se afirmou, após a rápida recuperação econômica, Duhalde e os Kirchner se afastaram e mantiveram uma relação de ódio com algumas distensões (5/13).
Pois bem, hoje, Alberto Fernandez incomoda a Trump, embora tenha contado com uma surpreendente leniência nas eleições de 2019, o gesto de impedir Maurio Claver-Carone a assumir o Banco Interamericano de Desenvolvimento, um verdadeiro golpe, irritou a Casa Branca (6/13).
A linha claramente voltada a salvar vidas e não capitalistas, igualmente, enfurece a oligarquia argentina. Por padrões brasileiros, teriam morrido algo em torno de 30 mil pessoas. Graças às medidas radicais de Alberto, não morreram nem 8 mil argentinos (7/13).
A raiva da oligarquia argentina junto com a de Trump traz Macri de volta, apresentado como estadista pela mídia liberal depois de um governo que quebrou a Argentina e obrigou o país a depender de novo do FMI (8/13).
Mas e os militares? Bem, de todas as forças armadas latino-americanas, a única que perdeu o poder política foi a da Argentina, não por ter promovido uma ditadura sangrenta, mas por ter feito uma guerra populista contra os ingleses, despertando a ira do imperialismo (9/13).
Isso facilitou a redemocratização argentina e os militares sumiram como elemento político, depois de cinco golpes de Estado no século 20 -- por isso Duhalde falou que a Argentina é campeã de golpes militares -- mas pode ser que agora tentem reverter isso (10/13).
A questão é: onde e quem são os atuais chefes das FFAA argentinas e quais deles, como adidos em embaixadas argentinas, podem ter sido cooptados? Porque, meus caros, olhem para Brasil, Bolívia, Equador e Chile e não me venham negar o uso pelos americanos das FFAA latinas (11/13).
O que Duhalde disse pode ser uma ameaça ou um aviso, mas ilustra uma fato: é ilusório crer que a Argentina possa ser uma ilha livre da influência dos militares na política na AL. Mesmo regimes não alinhados com os EUA, como Cuba ou Venezuela, dependem dos seus (12/13).
Alberto corre risco real? Sim, mas tudo depende da reeleição ou não de Trump. Se o republicano vence, possivelmente o que ele deseja para o BIF seja atendido e Alberto rifado. Se não, Alberto ganha gás (13/13).
