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Tô aqui pensando e olha, é uma doideira, mas...e se a gente inverter os pólos e pensar que:

Não é a fragmentação da esquerda que faz com que Bolsonaro se eleja, mas...

...que é justamente porque Bolsonaros são eleitos que as esquerdas se fragmentam.

Que tal?
Ou, para colocar de outra forma, são as nossas derrotas que nos fraturam e não as nossas fraturas que causam derrotas.

A esquerda já tinha suas divisões antes do capitão esgoto ganhar em 2018. Estávamos amargando derrotas, mesmo tendo vitórias eleitorais importantes.
Para ficar num exemplo: 2015 foi um ano de incontáveis derrotas com Eduardo Cunha na câmara. Nem preciso falar dos anos seguintes. As esquerdas se uniram e se mobilizaram em muitas dessas derrotas, mas foi ficando pesado.
Uma espécie de divórcio silencioso começou a ser sentido entre os partidos e aqueles que tavam indo para as ruas. Os partidos e os representantes tinham que negociar a dominação, mas nós estávamos (estamos?) putos, pouco afeitos às negociação.
Vou dar um exemplo que me incomodou muito: em 2016, fui para as ruas defender Dilma contra o impeachment. Eu não votei em Dilma, não estava no Brasil nessa época. Mas contra Aécio, era fundamental que ela vencesse.
Convenhamos: era melhor ser oposição de esquerda de Dilma do que de Aécio, né?

Pois bem, fomos para rua. Tome bomba e porrada da Brigada (nessa época ainda morava no RS).
A palavra de ordem é que tinha havido um golpe e, como tal, era uma ruptura institucional.

Mas logo em seguida vieram as eleições municipais e de repente, o golpe de 2016 ficou pequeno... Perdemos credibilidade, na minha humilde opinião.
Como atestar um golpe dessa gravidade e, ainda assim, disputar eleições normalmente, achando que se ganhássemos íamos governar normalmente? Estávamos sendo ingênuos, ou apostamos na ingenuidade dos nossos?
Sei que as opções eram poucas, claro, mas o sintoma mais grave de uma derrota é que somos obrigados a fazer péssimas escolhas. Ou seja, não somos derrotados porque escolhemos "mal", mas as derrotas anteriores que nos colocam na posição de fazer escolhas ruins.
Isso não tira responsabilidade das escolhas ruins cometidas, é verdade. Mas pede-se uma ponderação: elas são decorrentes de derrotas. No mínimo, cinco anos de derrotas avassaladoras.

No máximo, sabe-se lá desde quando estamos perdendo.
Com tantas escolhas ruins diante de nós, começam a surgir cada vez mais disensos no nosso campo.

Vale lembrar que, durante a ditadura, as esquerdas se fragmentaram. A unidade nos anos 1980, construída a duras penas, foi precedida de muito terrorismo de Estado.
Portanto, esse papo de que se criticamos fulaninho fazemos Bolsonaro vencer é tosco. Porque acha que as derrotas só vieram com o verme. Antes tava tudo tranquilo. Me poupe, né?

E no fundo, tendo a achar que tem algo mais perigoso nessa argumentação.
Ela acredita, no final, que nós, da esquerda, negociamos pouco. Que vendemos muito caro certos princípios e programas, que podíamos ter abandonado eles ao longo do caminho. Sem isso, talvez não tivéssemos Bolsonaro.
Ora, o que mais a esquerda vem fazendo no Brasil é buscar compromissos que lhe permitam existir institucionalmente - estamos sendo chamados para recuar desde os anos 1990, no mínimo!

E ainda assim, não é suficiente.
Não é suficiente e não vai ser nunca suficiente.

Leiam o 18 de Brumário, jovens!

A onda da extrema-direita atual ataca justamente a esquerda mais e mais moderada, mais e mais institucional. Cola nela a pecha de violenta, terrorista, tudo...
(nos EUA, o Trump tá chamando os protestos do BLM de "Biden Riots", como se aquele senhor, representante da oligarquia do Partido Democrata, fosse o organizador de protestos de massas da comunidade negra nos EUA)
Logo, adianta alguma coisa, nesse contexto, recuar mais? Isso só favorece Trump e Bolsonaro, que diante de uma esquerda nas cordas e paralisada, têm uma presa fácil para seu discurso anti-establishment.
Sei que o fio está longo e a reflexão caótica, mas assim...

Quem elegeu o Bolsonaro não foram os "comunistas e os anarquistas".

Foram os isentões, a grande imprensa, os fãs do Paulo Guedes, da Lava Jato, o Luciano Huck e outros afins.

É deles que vocês têm que cobrar.
É deles que eu cobro. E não de quem tá na luta, tomando porrada, amargando derrotas (e cada vez mais correndo perigo).
E assim, para que não haja dúvidas, eu ainda acho que unidade para derrotar Bolsonaro é um caminho - inclusive, ouso dizer, unidade com forças que não eram/são de esquerda.

Mas uma unidade em que sejam eles, e não nós, que abram não de seus programas e princípios.
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