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Fiquei embasbacado ao ver que jornalistas e até um famoso escritor estão defendendo abertamente a reabertura das escolas.

Alguns argumentos são sensíveis, outros são puro negacionismo. Mas é impressionante como ninguém fala do professor e dos profissionais da educação.
O maior argumento é de que as crianças sofrem sem escola e, consequentemente, são aquelas que sentem menos os efeitos do COVID-19.

Certo. Mas um estudo recente comprova as crianças são bombas de contágio, muitas vezes assintomáticas.

uol.com.br/vivabem/notici…
Por mais que o sofrimento e a ansiedade das crianças sejam reais - e graves problemas de saúde - a reabertura das escolas hoje significa conter um problema da infância para estimular ainda mais uma pandemia da qual ainda sabemos muito pouco.
O "Council of Foreign Relations" fez um texto mostrando como diferentes países lidaram com a questão da abertura. Um país como Israel, que reabriu as escolas sem qualquer protocolo e o resultado foi que desde então, mais de 2.000 profissionais da educação foram contagiados.
O texto então passa a enumerar alguns protocolos fundamentais para garantir reabertura das escolas: exigência de máscaras, conferir temperaturas dos alunos e dos professores, distanciamento social, redução do tamanho das turmas, priorizar alunos mais vulneráveis...
...fazer mais aulas ao ar livre, testagens de rotina para o vírus.

E vejam, o texto na verdade defende a necessidade de abertura das escolas e, ainda assim, deixa claro que isso é custoso (nos EUA, isso exigiria mais ou menos algo em torno de 13,5 bilhões de dólares).
Quem pagaria isso? O Estado. Porque, afinal de contas, é o dever do Estado garantir todos esses protocolos de segurança para a abertura das escolas.

Enfim, o texto tá aqui, para quem quiser ler. Ele é de quase um mês atrás, mas passou desapercebido: cfr.org/backgrounder/h…
Logo, quando jornalistas falam que trabalhadores da educação não querem ter que abrir as escolas é porque eles sabem que A) esses protocolos não serão cumpridos sem fiscalização e auxílio financeiro do Estado e B) eles correrão riscos de serem infectados e infectar suas famílias.
Do jeito que fala, parece até que a recusa a abrir as escolas é um tipo de corporativismo dos docentes, que não querem trabalhar. Como se eles mesmo não estivessem sofrendo com o modelo de home office e a superexploração decorrente dele - duvidam?

brasil.elpais.com/brasil/2020-05…
Se estão sofrendo tanto, por que os educadores não lutam pela abertura das escolas? Porque essa talvez seja a categoria que mais perdeu renda dos últimos 50 anos no Brasil, constantemente humilhada por iniciativa privada e poder público.
Antes de lutar pela abertura de escolas, professores estão lutando para pagar suas contas: cut.org.br/noticias/rs-sa….
E mais: que luta é essa, né, reabrir todas as escolas???
Voltemos aos protocolos de segurança: abrir escola priorizando populações mais vulneráveis. Escola privada só bem depois das demais.

Como no Uruguai, onde as escolas rurais foram abertas primeiro: br.noticias.yahoo.com/situacao-urugu…
Mas claro, no Uruguai pesou a combinação "vulnerabilidade + densidade demográfica". No Brasil, em que a vulnerabilidade está também no coração das grandes metrópoles, isso é viável? Como pensar nesse plano?
Bem, então lamento dizer, mas ninguém tem um plano. Governo federal, estaduais e municipais, todos falam de retorno às aulas e o máximo que entendem de protocolo de biossegurança é "lavar as mãos".

O @thiamparo lembrou muito bem o que aconteceu em Manaus:
O único protocolo que vi até agora com mais seriedade por parte do Estado foi o termo de compromisso que o governo Dória mandou aos pais, para não ser responsabilizado em caso de contágio (que é um acinte, claro):

diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil…
(mas mostra que os poderes públicos só agem para tirar o deles da reta nessa pandemia, isso não é privilégio só do bolsonarismo, não)
Assim, sem protocolo, sem auxílio financeiro do Estado, sem responsabilidade jurídica, lamento, mas o que se quer é uma solução apressada e que coloca em risco os profissionais da educação usando o argumento de que as crianças estão com problemas de saúde.
Na balança, é até covardia, né? As crianças têm prioridade moral sobre qualquer faixa da população. Aceitamos inclusive a possibilidade delas nos infectarem nesse caso.

Mas e o professor? Onde que está escrito no seu trabalho que ele corre o risco de infecção?
Bem, não tá. Mas verdade seja dita, para esses "formadores de opinião", pouco importa. A verdade é que esse país odeia professores - e não é de hoje.

É exatamente isso que tá por trás dessa defesa da volta aos aulas no formato que está sendo feita hoje nas mídias.
PS: Esse é um texto de professor e pai de um bebê de 6 meses, que deveria estar indo para creche essa semana.

Mas acima de tudo, um sujeito que tem medo de uma doença que já matou quase 120 mil brasileiros e não quer que ele ou sua família sejam os próximos.
Apêndice 1: Agradecimento à @julianameato por ter me dado o toque de gente do campo progressista defendendo a reabertura das escolas. A realidade é foda... 😞
Apêndice 2: O relato do amigo @proflucianojj , de quem tá no chão da escola e que, como a imensa maioria dos professores desse país, não foi consultado sobre a reabertura (por motivos de desprezo mesmo):

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