Revisores: Larissa Brussa Reis (@laribrussa), Rute Maria Gonçalves de Andrade (@rutemga2)
Dados epidemiológicos, apoiados em estudos moleculares, têm demonstrado que indivíduos obesos podem evoluir mais facilmente para os casos severos (incluindo óbitos) da COVID-19, doença causada pelo SARS-CoV-2, independentemente da idade.
Em agosto deste ano, nossa Rede publicou um texto baseado em um estudo sobre esse assunto, realizado por pesquisadores brasileiros de diferentes expertises e oriundos de diversos centros de pesquisa do país [1]. redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/08/01/alt…
O estudo em questão mostrou que a disponibilidade de glicose, que comumente pode se apresentar em níveis elevados na corrente sanguínea tanto em pacientes obesos quanto diabéticos não tratados, pode facilitar a capacidade de replicação do novo coronavírus,
aumentando seu potencial de virulência. Aqui no Brasil, muitos dos pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) têm obesidade, o que leva a uma grande preocupação em termos de Saúde Pública em relação à COVID-19.
Além disso, é sabido que, não somente pessoas acima dos 60 anos, mas muitos jovens com esta comorbidade (uma condição patológica que está associada à outra) têm contraído a doença, avançando para seu estado mais severo e indo a óbito.
A jornalista científica Meredith Wadman trouxe essa discussão em uma reportagem da conceituada revista Science e iremos debater os principais pontos aqui. sciencemag.org/news/2020/09/w…
Um cidadão de Vermont (Estados Unidos), por volta de 30 anos de idade, deu entrada no hospital da cidade após ter testado positivo para a COVID-19, alegando falta de ar. Imediatamente, ele foi internado na UTI e submetido à ventilação mecânica, vindo a falecer em duas semanas.
Ele era ativo, bem disposto e sentia-se saudável até então. Entretanto, ele foi avaliado pela equipe médica da UTI do hospital de Vermont como uma pessoa obesa. Aqui no Brasil, de acordo com o Boletim Epidemiológico (publicado em setembro) +
do Ministério da Saúde sobre o novo coronavírus, o número de óbitos de todos os grupos de risco (cardiopatias, obesidade, diabetes, pneumopatia, doença neurológica ou renal) é maior para indivíduos acima dos 60 anos.
Porém, quando a comorbidade associada é a obesidade, quase metade das pessoas obesas que morreram devido à COVID-19 tinha menos de 60 anos (Figura 1).
Em boletins anteriores, já ocorreu do número de falecimentos de pessoas obesas mais jovens ser superior ao de pessoas obesas acima dos 60 anos.
A obesidade é uma doença crônica, considerada como um fator de risco para o desenvolvimento de diversos quadros patológicos como infarto, hipertensão e diabetes. Para piorar, ela também está associada a taxas mais elevadas de mortalidade quando a pessoa está com a COVID-19.
A associação do aumento de risco para óbito por COVID-19 já foi assunto de duas revisões sistemáticas, publicadas em agosto deste ano [3, 4], que demonstram como o excesso de adiposidade (infiltração de gordura nos tecidos) é um fator de risco para doenças graves
e mortalidade em pessoas com infecção por SARS-CoV-2. Os estudos apontam que 74% das pessoas obesas têm mais chances de serem internadas em uma UTI e 48% delas estariam mais propensas a morrer. Caso não seja muito claro a você o que significa “fator de risco”,
eu esclareço: é qualquer situação que aumente a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde, um “sinal de perigo”. No Brasil, mais da metade da população (55,7%) tem excesso de peso. Para agravar, tem sido observado um aumento na prevalência do sobrepeso e da
obesidade na faixa etária dos 18 aos 24 anos [5]. Outra problemática relacionada é o fato da obesidade ser bastante estigmatizada, motivo de exclusão e preconceito por grande parte da sociedade, o que, muitas vezes,
leva as pessoas com essa comorbidade a evitar os cuidados médicos. Preocupante, não é? E como fazer para saber se podemos estar com excesso de peso (sobrepeso) ou obesidade?
As Diretrizes Brasileiras de Obesidade (ABESO) consideram o Índice de Massa Corporal (IMC) o parâmetro métrico que define o sobrepeso e a obesidade [6]. O IMC é obtido quando dividimos o nosso peso (valor em quilogramas) pelo valor da nossa altura (em metros) ao quadrado (Kg/m2)
Você pode acessar uma calculadora online desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Pelotas para determinar seu IMC aqui neste link. dms.ufpel.edu.br/casca/modulos/…
Assim, são consideradas com sobrepeso, as pessoas com o IMC igual ou acima de 25, e obesas as que possuem IMC igual ou acima de 30 (Figura 2). Mas afinal de contas, por que esse excesso de peso é danoso, ainda mais em relação à COVID-19?
Uma variedade de fatores fisiológicos e sociais impulsiona os números sombrios relacionados às mortes de pessoas obesas com COVID-19. A biologia da obesidade inclui características como predisposição genética, alimentação hipercalórica, desequilíbrio hormonal,
uso de determinados medicamentos, entre outros fatores, o que pode ainda levar ao desenvolvimento de outras doenças crônicas, como as cardiovasculares, o diabetes, a síndrome metabólica, etc. (Figura 3). Além disso, as pessoas obesas também podem apresentar imunidade prejudicada,
inflamação crônica e sangue propenso à formação de coágulos, fatores que estão descritos como agravantes da COVID-19 [7]. Isso ocorre porque o tecido adiposo das pessoas obesas apresenta alta expressão da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2),
que é o receptor que o SARS-CoV-2 utiliza para entrar nas células, conforme já mostrado em um texto aqui da Rede. Assim, o tecido adiposo, além de proporcionar o aumento da expressão de moléculas que causam a manutenção do estado inflamatório,
também serve como um reservatório para a propagação viral. Somando-se esses fatores, temos uma equação que inclui muitos vírus no organismo, muitos receptores nas células hospedeiras e, portanto, muitas células propensas ao vírus.
Tudo isso em um ambiente repleto de moléculas ativas nos vasos sanguíneos, que são capaze de aumentar a inflamação, causando a formação de coágulos enquanto o vírus “faz a festa”. Por isso, a obesidade é prejudicial a pessoas acometidas pela COVID-19 independentemente da idade,
pois ela acaba enfraquecendo o sistema imune que não consegue responder adequadamente ao SARS-CoV-2. E como reverter esse quadro?
A melhor maneira de fortalecer nosso sistema de defesa contra doenças é através de uma boa alimentação (contendo muitos grãos – o nosso tradicional feijão com arroz – legumes, frutas e vegetais,
além de ingerir menos açúcar, alimentos ultraprocessados e gorduras saturadas) e da prática de atividades físicas. Ambas estratégias proporcionam a ativação de mecanismos antioxidantes que ajudam a combater moléculas maléficas ao sistema imune
e previnem a formação das camadas prejudiciais de tecido adiposo. A pandemia pelo novo coronavírus causou muitas modificações em nossos hábitos. Dentre as mudanças, podemos destacar a adoção das medidas preventivas que são importantes para nos proteger da doença,
como o distanciamento físico, o uso de máscaras e os cuidados de higiene.
Logo, essas medidas tornam-se muito mais necessárias de serem seguidas pelas pessoas com excesso de peso ou obesidade. E já que mudamos tantas rotinas desde o início dessa pandemia, por que não tentar também fazer um esforço para modificar outros hábitos
(dentro da possibilidade de cada um), como aqueles que causam o desenvolvimento ou a manutenção da obesidade, visando fortalecer o sistema imune e, consequentemente, se tornar mais saudável? Sabemos que o excesso de peso é um conjunto de diversos fatores e, por isso,
é fundamental buscar ajuda profissional, tanto na questão de alimentação/atividade física, quanto nas questões emocionais que estão por trás dos transtornos de alimentação. É importante salientar que a obesidade deve ser encarada como um problema de saúde,
não como algo excludente ou motivo de preconceito e que conversar sobre essas questões com familiares e profissionais é importante. Deixo aqui o meu desafio, que pode te ajudar a se proteger da COVID-19, assim como de outras doenças!
Referências
[1] Codo AC, Davanzo GG, Monteiro LB, et al. Elevated Glucose Levels Favor SARS-CoV-2 Infection and Monocyte Response through a HIF-1α/Glycolysis-Dependent Axis. Cell Metab. 2020;32(3):437-446.e5. doi:10.1016/j.cmet.2020.07.007
[2] Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde – Boletim Epidemiológico Especial 30 – Doença pelo coronavírus COVID-19, Semana Epidemiológica 36 (30/08 a 05/09), 9 de Setembro de 2020. (Acesso em: saude.gov.br/images/pdf/202…)
[3] Seidu S, Gillies C, Zaccardi F, et al. The impact of obesity on severe disease and mortality in people with SARS-CoV-2: A systematic review and meta-analysis. Endocrinol Diabetes Metab. 2020;e00176. doi:10.1002/edm2.176
[4] Popkin BM, Du S, Green WD, et al. Individuals with obesity and COVID-19: A global perspective on the epidemiology and biological relationships. Obes Rev. 2020;10.1111/obr.13128. doi:10.1111/obr.13128
[6] Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica – Diretrizes brasileiras de obesidade 2016/ABESO – 4ª Ed, São Paulo, SP (Acesso em: abeso.org.br/wp-content/upl…).
[7] Pasquarelli-do-Nascimento G, Braz-de-Melo HA, Faria SS, Santos IO, Kobinger GP, Magalhães KG. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:530. doi:10.3389/fendo.2020.00530
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Nosso painel que trata das variantes do SARS-CoV-2 acaba de ser atualizado, agora com dados até a semana de 16/01/2023 a 22/01/2023:
Mesmo com dados bem atualizados, é importante lembrar que a quantidade de amostras sequenciadas nos últimos dias é bastante pequena.
Vejam aqui o gráfico do Brasil, onde fica fácil de perceber que a quantidade das amostras referentes a janeiro de 2023 é muito baixa:
Também temos uma página específica para acompanhamento da XBB.1.5 (nesta imagem, filtrado novamente para o Brasil).
Nesta mesma página do painel podemos acompanhar todos os sequenciamentos cujo resultado foi a Omicron (qualquer sub variante), para ver como temos várias:
Esperamos que este ano seja mais tranquilo para todos nós!
Vamos iniciar com um fio rápido para vermos a situação da #mpox no Brasil? 🧵 //1
Até o dia 03/01/2023 temos 10.544 casos totais notificados, lembrando sempre que a primeira notificação se deu em 27/06/2022, onde 20 casos foram inseridos no boletim nacional. //2
Conseguimos ver algumas coisas ao olhar o gráfico do país todo:
- Vemos uma queda bem lenta na notificação dos casos, é praticamente uma estabilidade, mas com tendência de queda;
- Tivemos uma redução estranha de casos totais no final de 2022, (provável erro de notificação); //3
Com os dados de mpox atualizados até 28/11/2022, vemos que os casos continuam surgindo em uma quantidade considerável na região Nordeste do país, sendo 42% dos casos do Nordeste no estado do CE: +
Além disso, a região Norte também teve um aumento recente, no começo de novembro/2022.
68% dos casos estão no AM: +
Quando olhamos o Brasil como um todo, vemos que a região Sudeste é a região com mais casos(41% de todos os casos do país foram notificados no estado de SP).
Percebemos também que há uma tendência de estabilidade, muito provavelmente trazida por esse espalhamento em mais regiões.+
Olá, pessoal! Aqui é o @schrarstzhaupt, trazendo pra vocês mais uma atualização dos dados de #Monkeypox, agora com os números atualizados até o dia 07/11/2022.
Sigam o fio para vermos juntos: 🧵 //1
O Brasil tem 9.475 casos notificados até o momento (07/11/2022), e a gente consegue ver um aumento meio brusco nos últimos dias quando olhamos os dados do país como um todo (marquei no gráfico): //2
Ao analisar estado por estado, vemos que alguns locais se destacam, com um lançamento de casos abrupto. Vejam o DF, que lançou 18 casos no dia 07/11/2022, mas vinha lançando 3 a 5 casos por dia.
Lembrando: isso é por data de notificação, então pode muito bem ser represamento!//3
Chegamos a 9.026 casos confirmados de Monkeypox no Brasil até 24/10/2022.
Hoje (25/10/2022) tivemos mais um óbito, nos fazendo chegar a oito óbitos e ao posto de país com mais óbitos no mundo (nesta epidemia de 2022).
Sigam o fio: 🧶 //1
Quando olhamos a média móvel da taxa de crescimento de casos acumulados, notamos uma estabilidade na última quinzena de outubro, o que mostra que as notificações de casos vem entrando em uma certa consistência.
Como essa doença não é endêmica aqui, isso não é um bom sinal. //2
A maior concentração de casos continua sendo na região Sudeste, principalmente no estado de SP (44,47%), seguido pelo Centro-Oeste (GO e DF): //3