As queimadas de origem humana têm sido utilizadas como prática comum para manejo do solo. Há registros dessa prática pelos povos indígenas, por exemplo, sempre como cuidado de preservar o seu ambiente,
pois se valorizam e se respeitam as áreas da qual eles dependem para a sua existência. O uso indiscriminado da terra, sem preocupações ambientais, tem seu início com a introdução de grandes monoculturas, criação de gado, mineração e outros processos de abertura das matas,
estando relacionados com os modelos de sociedades que desconsideram a importância da preservação do meio ambiente [1]. Este uso abusivo resulta em grandes prejuízos, não somente para o ambiente, mas para a saúde pública,
além de perdas econômicas a longo prazo, com sérios reflexos negativos para o futuro da humanidade. Nos últimos anos, em particular no Brasil, o número de queimadas tem aumentado substancialmente, principalmente na região amazônica, mas não estando restrito a essa região.
Nas últimas semanas, temos presenciado queimadas intensas na região do Pantanal, com forte destruição da fauna e flora locais. As consequências das queimadas para o ambiente são bem conhecidas, com consequências bem desastrosas, com modificações no ecossistema original local
e com influências no clima global. Mas além dos impactos ambientais, as queimadas, por liberarem uma grande quantidade de materiais particulados, têm sérias consequências na saúde pública.
As queimadas na região amazônica, em 2019, foram responsáveis por cerca de 2 mil hospitalizações [2]; e pesquisas indicam que substâncias emitidas pelas queimadas causam sérios danos nas células do pulmão [3].
Outro sério problema é que a destruição das florestas aumenta o contato dos humanos com agentes transmissores de novas doenças, das quais não temos ainda imunidade [4].
Um exemplo refere-se à atual pandemia de COVID-19, cujo vírus tem origem animal, possivelmente originário de morcegos, mas com outro animal intermediário, antes da contaminação em seres humanos [9].
Atualmente, em um período de pandemia como a que estamos vivendo, as queimadas são fatores de novas preocupações. Não apenas pelas consequências anteriormente apresentadas, mas também pelo seu efeito potencial na atual pandemia.
E quais seriam as consequências de uma queimada para a pandemia atual?
Uma consequência importante é pela quantidade de materiais particulados que são produzidos pelas queimadas, e que aumentam a poluição atmosférica.
Alguns estudos indicam que locais com alto índice de poluição atmosférica favorecem a propagação do vírus SARS-CoV-2 [5,6], que são carregados através do ar, sendo transportados por materiais particulados que estão em suspensão no ar.
A recente queimada no estado da Califórnia nos EUA fez com que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, publicasse o seguinte aviso:
“A fumaça de queimadas pode irritar seus pulmões, causar inflamações, afetar seu sistema imune e torná-lo mais propenso para infecções pulmonares, incluindo com o SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19” ( (tradução do autor).
em sua página [7], chamando a atenção para um possível efeito da fumaça produzida pelas queimadas. Quando as queimadas ocorrem perto de centros urbanos, de forma que a necessidade de evacuação de parte da população se torna necessária,
surge outro grande problema que é a da aglomeração em centros de triagem, normalmente em locais fechados e com possibilidade de ocorrer uma grande concentração de pessoas [7], o que favorece a formação dos chamados “clusters” de propagação.
A inalação das fumaças das queimadas, pelo seu potencial de causar danos no sistema respiratório [3], com doenças como asma, enfisema, problemas cardíacos, além de afetar as mulheres grávidas e seus fetos [8], pode atingir particularmente as pessoas que já são propensas a terem
complicações com a COVID-19. Uma possível explicação para os efeitos da fumaça para o desenvolvimento da COVID-19 é a de que os problemas respiratórios causados por inalação de substâncias contidas nas fumaças das queimadas, em alguns casos, tendem a aumentar a expressão da
enzima conversora de angiotensina, ACE2 [5], que é a porta de entrada da SARS-CoV-2 nas células humanas, tornando-as mais suscetíveis para desenvolverem os sintomas da COVID-19.
Portanto, além de causarem sérios problemas ambientais, as queimadas podem ser responsáveis por um aumento de COVID-19 para as populações que sejam afetadas pelas fumaças das queimadas. Além disso, as queimadas destroem o ambiente natural de muitos animais e que, por consequência
passam a ter mais contato com os seres humanos, aumentando a probabilidade de ocorrerem transmissões de doenças para as quais não temos imunidade ou proteção natural.
Assim, o combate das queimadas passa a ter uma importância primordial para a saúde da população e para o futuro da humanidade.
[2] Queimadas na Amazônia estão ligadas a mais de 2 mil hospitalizações em 2019, diz relatório, Mariana Alvim , BBC News Brasil, 26/08/2020. bbc.com/portuguese/bra…;
[3] Poluente emitido pela queima de biomassa causa dano ao DNA e morte de célula pulmonar. K. Toledo, Agencia Fapesp, 11 de setembro de 2017. revistapesquisa.fapesp.br/poluente-emiti…
[6]Can atmospheric pollution be considered a co-factor in extremely high level of SARS-CoV-2 lethality in Northern Italy? E. Conticini, B. Frediani, D. Caro ; Environmental Pollution; Junho 2020, p 114465.
[9]Six months of coronavirus: the mysteries scientists are still racing to solve. E. Callaway, H. Ledford e S. Mallapaty; Nature ; News 3 de julho de 2020. nature.com/articles/d4158…
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Nosso painel que trata das variantes do SARS-CoV-2 acaba de ser atualizado, agora com dados até a semana de 16/01/2023 a 22/01/2023:
Mesmo com dados bem atualizados, é importante lembrar que a quantidade de amostras sequenciadas nos últimos dias é bastante pequena.
Vejam aqui o gráfico do Brasil, onde fica fácil de perceber que a quantidade das amostras referentes a janeiro de 2023 é muito baixa:
Também temos uma página específica para acompanhamento da XBB.1.5 (nesta imagem, filtrado novamente para o Brasil).
Nesta mesma página do painel podemos acompanhar todos os sequenciamentos cujo resultado foi a Omicron (qualquer sub variante), para ver como temos várias:
Esperamos que este ano seja mais tranquilo para todos nós!
Vamos iniciar com um fio rápido para vermos a situação da #mpox no Brasil? 🧵 //1
Até o dia 03/01/2023 temos 10.544 casos totais notificados, lembrando sempre que a primeira notificação se deu em 27/06/2022, onde 20 casos foram inseridos no boletim nacional. //2
Conseguimos ver algumas coisas ao olhar o gráfico do país todo:
- Vemos uma queda bem lenta na notificação dos casos, é praticamente uma estabilidade, mas com tendência de queda;
- Tivemos uma redução estranha de casos totais no final de 2022, (provável erro de notificação); //3
Com os dados de mpox atualizados até 28/11/2022, vemos que os casos continuam surgindo em uma quantidade considerável na região Nordeste do país, sendo 42% dos casos do Nordeste no estado do CE: +
Além disso, a região Norte também teve um aumento recente, no começo de novembro/2022.
68% dos casos estão no AM: +
Quando olhamos o Brasil como um todo, vemos que a região Sudeste é a região com mais casos(41% de todos os casos do país foram notificados no estado de SP).
Percebemos também que há uma tendência de estabilidade, muito provavelmente trazida por esse espalhamento em mais regiões.+
Olá, pessoal! Aqui é o @schrarstzhaupt, trazendo pra vocês mais uma atualização dos dados de #Monkeypox, agora com os números atualizados até o dia 07/11/2022.
Sigam o fio para vermos juntos: 🧵 //1
O Brasil tem 9.475 casos notificados até o momento (07/11/2022), e a gente consegue ver um aumento meio brusco nos últimos dias quando olhamos os dados do país como um todo (marquei no gráfico): //2
Ao analisar estado por estado, vemos que alguns locais se destacam, com um lançamento de casos abrupto. Vejam o DF, que lançou 18 casos no dia 07/11/2022, mas vinha lançando 3 a 5 casos por dia.
Lembrando: isso é por data de notificação, então pode muito bem ser represamento!//3
Chegamos a 9.026 casos confirmados de Monkeypox no Brasil até 24/10/2022.
Hoje (25/10/2022) tivemos mais um óbito, nos fazendo chegar a oito óbitos e ao posto de país com mais óbitos no mundo (nesta epidemia de 2022).
Sigam o fio: 🧶 //1
Quando olhamos a média móvel da taxa de crescimento de casos acumulados, notamos uma estabilidade na última quinzena de outubro, o que mostra que as notificações de casos vem entrando em uma certa consistência.
Como essa doença não é endêmica aqui, isso não é um bom sinal. //2
A maior concentração de casos continua sendo na região Sudeste, principalmente no estado de SP (44,47%), seguido pelo Centro-Oeste (GO e DF): //3