Li um fio muito pertinente hoje que tomei a liberdade de traduzi-lo, mas não sem antes dar o crédito a uma pessoa relevantíssima nesse contexto do entendimento de ensaios clínicos na COVID-19: @EricTopol
Thank you very much for all your efforts and outstanding contributions
Antes de mais nada, o fio traz uma informação relevante pra entender o cenário: o contexto do paciente. Trump é um senhor de 74 anos, com obesidade, homem, pontos que sabemos que confere um risco maior para formas mais graves da COVID-19
Ainda, a presença de baixa saturação de oxigênio no sangue, anormalidades no tecido pulmonar (pneumonia) e a hospitalização em decorrência de tudo isso aumenta o risco ainda mais. Na imagem acima, é mostrado um risco de mortalidade de 32% observado em pacientes com perfil similar
Na Sexta, Trump recebeu um coquetel de anticorpos monoclonais, consistindo em 2 diferentes anticorpos para tentar neutralizar a ação do vírus em progredir a infecção de novas células no corpo
Como o fio muito bem mostrou, conseguimos visualizar aqui como os AC monoclonais funcionam: numa terapia de plasma convalescente, alguns anticorpos monoclonais tem propriedades neutralizantes (inibem a ação do virus - ligados ao vírus) e outros não (não ligados ao vírus)
Observando a imagem do meio, com AC monoclonais de um tipo, eles têm ação neutralizante, se ligando em 1 parte específica do vírus. Na imagem à direita, vemos o coquetem de 2 AC monoclonais, específicos pra uma porção diferente do vírus, aumentando essa "cobertura" neutralizante
Para os meus colegas acadêmicos, pesquisadores e divulgadores, no fio tem uma parte interessantíssima de uma revisão fazendo o apanhado da terapia de AC monoclonais que valeria a pena a gente traduzir ou trazer em maior explicação pro pessoal
Em ensaios clínicos de fase II, usando diferentes preparações de AC monoclonais, houve redução da carga viral com um suporte potencial para benefício clínico. Aqui temos os dados para o coquetem da Regeneron, usado pelo pres. Trump
De sexta pra sábado, Trump recebeu 2 tratamentos com drogas, a preparação de anticorpos e o Remdesivir. O efeito do Remdesivir é bem modesto, visualizado em um contexto específico para COVID-19 mais severa.
Realmente, caso seu curso melhore, provavelmente a terapia de AC monoclonais foi benéfica nesse contexto. No entanto, pode ter ocorrido espontaneamente, como também acontece na COVID-19, como bem observa o fio
Lembrando que pra evidenciar, de fato, o potencial benéfico dos AC monoclonais, precisamos investigá-lo nos ensaios clínicos de fase III. A partir dos dados que temos hoje, podemos apenas SUPOR esse benefício.
E o ponto mais alto desse fio, na minha opinião: Na perspectiva do Trump, pela melhora e potencial alta que ele vai receber, ele pode entender a COVID-19 como "nada de mais".
Mas temos que lembrar que ele é a pessoa que se negou a usar máscara, que pode ter infectado muitas pessoas nesse percurso desde o início da infecção até a manifestação de sintomas e que muitas dessas pessoas podem não ter o mesmo curso que ele.
Responsabilidade que chama.
O fio também aponta a dificuldade do preparo em grande escala e do custo de produção de AC Monoclonais. "Mesmo com todos os diferentes fabricantes e assumindo que todos obtenham a aprovação formal do FDA, o número de doses disponíveis será muito limitado"
Isso potencialmente contrastará ainda mais as desigualdades não só nos EUA (como bem destaca o fio), mas também em outras localidades do mundo. No caso dos EUA, isso ainda tem um agravante pelo tipo de sistema de saúde que existe lá, com a inexistência de um #SUS como aqui
Sabemos que os pacientes de maior risco são as minorias sub-representadas, os menos prováveis de obter acesso a saúde, testes, cuidados e esta terapia avançada que muitas vezes é cara.
Fica mais um convite para #defendaoSUS pessoal. Acesso a saúde é muito complicado sem isso.
Eric conclui que "o caso do Trump e dos AC monoclonais pode pressagiar o melhor e o pior. Melhor: medicamentos pudessem ser usados para interromper a progressão de doenças e salvar vidas. Pior: acessíveis apenas para poucos e provavelmente para quem não precisaria deles."
Essa conclusão pode ser lida na íntegra abaixo (não deu espaço no tweet anterior):
E por fim, Eric traz uma alternativa que achei tão legal que farei um fio exclusivo sobre, e já estamos elaborando um texto para a Rede @analise_covid19 explicando: nanocorpos (ou nanobodies)
@EricTopol thank you very much for summarizing many important findings in monoclonal antibodies therapy and keeping us updated with reliable information!
Hoje tivemos a notícia que duas mulheres cientistas serão premiadas com o Nobel de Química - 2020!
Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna irão dividir o prêmio pelo desenvolvimento de uma técnica de edição do genoma!
Como funciona isso? Vem de fio nobelístico!
Vamos com um pouco de perspectiva histórica, afinal, não foi da noite para o dia que as duas cientistas desenvolveram essa técnica, não é? Foi fruto de anos de dedicação, investimento, recursos humanos e ciência!
O sistema em questão se chama CRISPR-Cas9, e essa palavra grande e complexa relata diferentes funcionalidades: CRISPR é a abreviatura de repetições palindrômicas curtas regularmente interespaçadas agrupadas.
Quê? Então, observe a sequência abaixo de um DNA qualquer
Saiu um pré-print super interessante, com ciência BRASILEIRA, traçando paralelos interessantes com o HIV na forma com que o SARS-CoV-2 infecta as células do sistema imunológico
Vou comentar sobre o trabalho, e o que sabemos sobre o vírus em células do sistema imunológico! - 🧶
O trabalho foi coordenado pelo @MoriLabe e pelo Alessandro Farias, dois grandes pesquisadores brasileiros!
De acordo com a publicação, se observou que tanto o HIV, quanto o SARS-CoV-2 tem como um dos alvos celulares as células do sistema imunológico ditas como T CD4. Essas células, em resumo muito resumido, são responsáveis por coordenar a resposta imunológica adaptativa
Atualizações da Moderna: a empresa que está produzindo a candidata a vacina de RNA para a COVID-19 afirma que não estará em posição de distribuí-la amplamente até 2021, afirmou o CEO da empresa!
Ainda, o CEO mencionou que, por volta de 25 de Novembro, seria o momento em que teremos dados de segurança suficientes para colocar em um arquivo de autorização de uso de emergência que seria enviado ao FDA, órgão regulamentador e fiscalizatório
Fiz um fiozinho com alguns dados sobre vacinação no mundo :) esses dados que traduzi podem facilmente ser verificados e obtidos através do site Our World in Data (link nas referências)
Vamos aos FATOS?
Aqui, o gráfico mostra a cobertura vacinal global de crianças de 1 ano com algumas das vacinas mais importantes recomendadas pela @WHO . Para muitas vacinas essenciais, a cobertura em 2018 foi muito superior a 80%.
No entanto, as taxas de vacinação ainda não são suficientes :(
E estão cada vez menos suficientes, devido à queda da cobertura vacinal (ou seja, nº de pessoas que estão se vacinando)
Um grupo de pesquisadores enviaram uma carta para a Pfizer (e irão enviar para todas as outras empresas de desenvolvimento de Vacinas ) justamente alertando o perigo que é divulgar dados precoces da vacina em relação a confiança da população, que impacta na adesão vacinal
Vacinas precisam de tempo, financiamento, pesquisadores esoecializados, adesão vacinal para ter uma boa cobertura, que garantirá que sua eficácia e segurança se projete pra população
Vacinas não precisam de instabilidade e viés político interferindo no seu processo.
A vacina utiliza um vetor adenoviral, parecido com o que a vacina de Oxford/AstraZeneca realiza, para carregar a informação de construção da proteína S do SARS-CoV-2 para as nossas células