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9 Oct, 14 tweets, 2 min read
Como o Brasil pode se tornar um muito isolado do resto do mundo nos próximos dias

O fio🧵
Por anos, o Brasil tentou construir uma imagem de relevância internacional, pra sentar nas mesas de negociação com algum destaque.

E a principal arma do Brasil pra soar representativo mundialmente sempre foi o nosso destaque regional.
Não por acaso, o Brasil liderou a criação de estruturas de integração regional na América do Sul e América Latina por décadas, como ALALC, ALADI, Grupo do Rio, MERCOSUL, Unasul, Celac, entre outros.
Os benefícios da posição de liderança eram sentidos regionalmente, com conexões sólidas com os vizinhos, e globalmente, já que ganhava voz ao se posicionar como representante de toda a região.
O governo atual rompeu com esta lógica. A ênfase regional das últimas décadas passou a ser associada aos governos “de esquerda” (o que envolve presidentes como FHC) e o objetivo passou a ser construir uma ligação direta com os EUA.
Voluntariamente, o Brasil se retirou de instituições que ele mesmo liderava, como CELAC e Unasul, e enfraqueceu o Mercosul, que foi prioritário para o Itamaraty nos últimos 30 anos.
O cenário fica ainda mais caricato quando o Brasil troca a Unasul por uma proposta de integração - a Prosul - que foi proposta por Chile e Colômbia.

Na prática, o Brasil se desfaz da sua própria liderança pra aderir à liderança de vizinhos muito menos relevantes.
É o dono da casa fugindo de casa.
Os benefícios da adesão ao projeto norte-americana tem resultados muito duvidosos. Mas talvez o pior esteja por vir.
Na prática, o Brasil não se aproximou dos EUA, e sim da administração Trump. Isso fica claro com a resposta atravessada do presidente ao candidato democrata “John Biden”.

Na eventualidade da derrota de Trump nas eleições do ano que vem, o Brasil fica com o pior dos cenários. Não lidera mais a sua própria região (por vontade própria); e não poderá contar com a simpatia do possível presidente democrata.
O Brasil apostou todas as suas fichas em uma única opção e com isso abriu mão de sua posição de ator global, que era sustentada pela América Latina.

O que resta?
A relação com a Argentina está no pior momento em décadas; as relações com tradicionais parceiros europeus é péssima, com trocas de farpas constantes com Macron e Merkel; a relação com a China nunca foi, de fato, confortável; e o Reino Unido tem como foco imediato o Brexit.
O Brasil ainda vai contar com a simpatia de países como Israel, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Polônia e República Tcheca

Mas caso Trump perca as eleições, restará como parceiro de fato relevante… ninguém.

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16 Jun
🇨🇳🇮🇳 Eu não deveria, mas sempre acho um pouco cômico quando os exércitos de duas potências militares e nucleares entram em confronto na fronteira usando pedras e porretes.

O medo de as tensões crescerem na fronteira entre China e Índia os leva a evitarem o uso de armas de fogo.
A China alega reagiu depois que militares indianos cruzaram a fronteira ontem. Morreram 3 militares indianos e, segundo a Índia, faleceram também militares chineses, o que não foi confirmado.

As autoridades já estão em contato pra contornar as tensões.
É a primeira vez que um confronto entre chineses e indianos leva a mortes desde 1975.

A fronteira entre os dois tem cerca de 3,5 mil km e não é muito bem definida. Quando a Índia iniciou a construção de uma estrada na região, ano passado, a China contestou.
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9 Jun
Como a Argentina levou uma volta na origem do seu programa nuclear: a thread
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Mas os olhos de Perón brilharam mais ainda com a possibilidade de ter um programa nuclear único, depois que conheceu, em 1947, o austríaco Ronald Richter.
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19 May
Asma al-Assad é casada com o presidente da Síria, Bashar al-Assad, desde 2000, ano em que ele assumiu a presidência do país. Ela ficou muito conhecida pelas suas aparições como socialite, mas vem tendo um papel maior do que se imagina na política do país.

Segue a thread 🧵
O presidente sírio, Bashar al-Assad, é filho de Hafez al-Assad e de Anisa Makhlouf, ambos pertencentes a famílias alauítas de Latakia.

Os Assad representam o poder no país desde que Hafez chegou ao poder, em 1971.

Os Makhlouf são uma das famílias mais ricas do país.
O casamento Assad-Makhlouf é a junção da fome com a vontade de comer: a família mais poderosa do país passou a ser financiada por uma das mais ricas.

O resultado é que os Assad estão no poder há quase 40 anos e os Makhlouf controlam cerca de 60% da economia do país.
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4 May
Hoje completam 40 anos da morte de Josip Broz Tito, uma das figuras que mais simbolizaram o século XX.

Nasceu na Croácia, ainda no Império Áustro-Hungaro, em 1892

Era filho de um croata e uma eslovena; curiosamente, foi presidente de um país de maioria sérvia
Lutou a Primeira Guerra pela Áustria-Hungria e foi levado para a Rússia como prisioneiro do exército do Czar. Por isso, participou da Revolução Russa, em 1917, in loco

Na Segunda Guerra, liderou os Partisan, a resistência contra os nazistas na Iugoslávia
Após a guerra, se tornou primeiro-ministro e depois, presidente do seu país. Esteve no comando entre 1945 e 1980, quando faleceu.

Apesar de ser comunista, não se manteve alinhado à URSS. Foi um dos líderes do terceiro-mundismo e tinha diálogo aberto com Washington e Moscou.
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4 Jan
Boletim da crise, o fio:

* Diversos mísseis foram lançados hoje na Zona Verde, em Bagdá - onde fica a embaixada dos EUA. Áreas próximas, onde há instalações militares americanas, também foram alvo. Nenhuma instalação foi atingida com gravidade.
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* O Reino Unido está usando a marinha para escoltar navios de bandeira britânica que passem pelo Estreito de Ormuz.
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* Ações de combate ao Estado Islâmico, lideradas pelos EU, tiveram seu ritmo reduzido, em nome segurança dos militares americanos diante da possibilidade de ataques iranianos.
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14 Mar 19
Ernesto Araújo participou da live do presidente e ressaltou que uma das prioridades dos primeiros 100 dias de governo é voltar com o brasão brasileiro pra capa do passaporte.

Segue a thread explicando pq concordo com a volta do brasão:
Antes de mais nada... eeeerrr
Peraí, to pensando aqui
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