Thread by @OQVc_Faria

Mesmo diante de tantos fatos graves, a notícia estampada no Guardian hoje é particularmente assustadora. Ela coloca no radar o despertar de um "gigante adormecido": o metano no piso oceânico. Sigam o fio para saber detalhes! 1/n
theguardian.com/science/2020/o…

Primeiro, é preciso entender porque o impacto de emissões de metano é tão importante. De fórmula química CH4, ele é um gás de efeito estufa, ou seja, é capaz de absorver radiação dentro da faixa do infravermelho térmico. 2/n

Essa absorção varia de maneira logarítmica com a concentração do gás. Ou seja, a emissão (em toneladas) de um gás de efeito estufa cuja concentração é baixa termina tendo um efeito maior do que a emissão de uma quantidade igual de um gás de efeito estufa mais abundante. 3/n

A concentração pré-industrial de CO2 girava em torno de 280 partes por milhão (ppm), tendo chegado a 410ppm recentemente. A concentração de metano cresceu de cerca de 800 partes por BILHÃO (ppb) para 1800 ppb. 4/n

A concentração de metano é 200 vezes menor do que a de CO2, daí emissões de CH4 têm efeito proporcionalmente maior. O 5º relatório do @IPCC_CH mostra que seu POTENCIAL DE AQUECIMENTO GLOBAL é 28 vezes maior do que o do CO2 na escala de 100 anos (34x, considerando feedbacks). 5/n

Emissões humanas de metano vêm principalmente de duas fontes:
- Agropecuária, com destaque para a fermentação entérica (que ocorre no aparelho digestivo de ruminantes)
- Emissões fugitivas de CH4 em operações da indústria de petróleo e gás natural (em particular o fracking). 6/n

Existe um grande perigo associado ao aquecimento global: os "feedbacks" (retroalimentações). O aquecimento antrópico pode levar sistemas naturais a emitirem grandes quantidades de CH4. Dois casos são especialmente preocupantes:
- O permafrost
- Os hidratos de metano oceânicos
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O caso do permafrost (ou pergelissolo) é mais conhecido. Grandes porções do solo congelado da Sibéria, Alaska, norte do Canadá, etc. estão expostos ao degelo como provavelmente não estiveram em milhares de anos ou dezenas e até centenas de milhares de anos. 8/n

Como num freezer que foi desligado, o derretimento do permafrost expõe a enorme quantidade de matéria orgânica nele contido e conservado (como o pequeno mamute da imagem) à decomposição. Isso pode liberar metano em grandes quantidades. 9/n

O outro reservatório de CH4 são os "clatratos" ou "hidratos de metano" que se formam no piso oceânico. Estes compostos consistem em uma molécula de metano "cercada" por moléculas de água que formam uma espécie de cápsula. 10/n

Os clatratos se formam sobre o sedimento marinho onde há matéria orgânica e se mantêm graças às altas pressões e baixas temperaturas do piso oceânico, especialmente na zona costeira de mares frios, como o Oceano A'rtico. Acontece que... 11/n

Acontece que o gelo do Ártico está em franco declínio, sendo uma região em que o aquecimento está se dando num ritmo pelo menos 3 vezes mais acelerado do que a média global. 12/n

Aumentar a temperatura significa aumentar a agitação molecular e desestabilizar o frágil arranjo molecular dos clatratos. O metano escapa da sua "cápsula" e sai do fundo do mar para a atmosfera onde vai intensificar o aquecimento global! 13/n

Este ano, o gelo marinho no Ártico chegou ao segundo menor valor de sua série histórica no período de mínimo anual (Setembro) e a recuperação do gelo, que já deveria estar ocorrendo, está atrasada como nunca antes, especialmente no Ártico Siberiano (via @zlabe) 14/n

O time de cientistas mencionado na matéria do Guardian encontrou evidências de altas concentrações de metano a 350m de profundidade no Mar de Laptev (parte do Ártico Siberiano). Pior, na superfície, as concentrações de metano estavam de 4 a 8 vezes acima do normal! 15/n

@Pirulla25 @hfernandesbio @olaciencia @obsclima @ClimaInfoNews @BarCiencia @luizacaires3 @diretodaciencia @safbf @ecodebate @o_eco @InfoAmazoniaBR @ALTourinho @nemoid321 @dragoesgaragem @debidanowski @vanecosta10 @reinaldojlopes @caiocgomes @fridaysfuturebr

Não se sabe ainda se esse efeito pode ganhar uma escala maior já nas próximas décadas ou se, como em geral visto pela maioria da comunidade científica, o "feedback dos clatratos" ainda estaria distante de ser disparado. 16/n

O monitoramento dessas emissões na Bacia do Ártico se tornou uma necessidade para confirmar ou não uma tendência de desestabilização dos hidratos de metano. De qualquer modo, é indiscutível: precisamos urgentemente por um fim às emissões de gases de efeito estufa! 17/n