Thread by @mellziland

Vamos conversar um pouquinho da mutação encontrada numa variante de SARS-CoV-2 na Dinamarca, que está causando bastante aflição por parte das pessoas e manchetes muito mais alarmantes do que o que realmente sabemos

PS: vou ir completando o fio a medida que + infos forem saindo

Recomendo o fio da @firefoxx66 (em inglês) que aborda muito bem alguns pontos sobre isso. É a mesma pesquisadora envolvida nos achados da variante europeia, que comentei recentemente, e tem o fio incrível do @mab_sp125 falando bem didaticamente sobre!

https://twitter.com/mellziland/status/1321848627275456512

Vamos lá, o que sabemos?

Recentemente, o Staten Serum Institute da Dinamarca reportou uma mutação vista numa variante do SARS-CoV-2 em visons.

Mell, o que é visons?

É uma designação para várias espécies de mamíferos do gênero Mustela!

ssi.dk/-/media/arkiv/…

O documento descreve 2 variantes, na verdade: a mutação A22920T e as deleções de 2 aminoácidos 21766-21771, no gene da Spike. Naturalmente, isso desperta uma certa preocupação e interesse, dada a importância dessa proteína na invasão, por parte do vírus, nas nossas células

Essas deleções, segundo a Dra Emma Hodcroft, foi encontrada por toda a Europa e ao menos 1x na Austrália. Durante as análises, foi encontrada uma mutação que já despertou a atenção dos cientistas: a mutação N439K na Spike, vista na Europa (+Irlanda)

https://twitter.com/firefoxx66/status/1324095160792350726

A mutação N439K fica bem "no topo" da Spike, e o que com certeza causou bastante preocupação é o fato de ser uma parte da proteínaalguns anticorpos neutralizantes reconheceríam. Então isso coloca em cheque esse reconhecimento?

Não temos muitas evidências ainda pra afirmar isso

Alguns trabalhos já trazem maiores infos sobre essa mutação, mostrando que conferiria uma certa resistência parcial a >alguns< anticorpos neutralizantes.

nature.com/articles/s4158…
elifesciences.org/articles/61312

Agora vamos ao que interessa: isso poderia por em cheque a eficácia das vacinas?

N439K conferindo algum nível de resistência a um anticorpo NÃO NECESSARIAMENTE IMPLICA em influência na eficácia de uma vacina. Não confundam!

Esse é o tuíte

E novamente, sabemos muito pouco ainda a respeito, especialmente nos efeitos disso na prática. Dêem tempo a ciência e CUIDEM manchetes sensacionalistas ou alarmistas demais sem ter respaldo científico suficiente (ou até mesmo só respaldo).

Sobre a mutação A22920T, a Dra Hodcroft comenta que é a que encontraram nos visons. Nem todos tem, como ela bem aponta, mas foi encontrada apenas neles (a espécie).

Dessa forma, é razoável pensar que essa mutação pode ser uma adaptação nesses animais

https://twitter.com/firefoxx66/status/1324095194170642435

Podemos encontrar a mesma mutação em humanos que foram infectados por uma variante circulante ou originada no vison? Sim, MAS ela pode não ter nenhum impacto.

Não sabemos muito, e pode não funcionando tão bem em humanos, como funcionaria para os visons.

Podemos estar observando mais mutações e variantes daqui para frente, e como comentado por pessoas muito entendidas no assunto, como a @TaschnerNatalia @dogarrett @mab_sp125 e tantos outros, isso é esperado de ocorrer quando estamos tratando de vírus!

É de suma importância o maior detalhamento e compreensão dessas circunstâncias envolvendo as variantes e toda essa questão dos visons, especialmente de descrevê-las em publicações para disponibilizar amplamente para a comunidade científica contribuir nessa investigação

Muitos desses comentários são pontos que li de vários colegas cientistas os quais concordo bastante, e um deles é central: achados científicos devem ser comunicados de forma RESPONSÁVEL. Manchetes alarmistas despertam preocupação e pânico, o que agrega em nada nesse entendimento

Aqui tem a versão em inglês de uma publicação oficial Dinamarquesa berlingske.dk/nyheder/englis…

Na @newscientist cientistas comentam que numerosas mutações de coronavírus surgindo repetidamente em visons são documentadas, e nenhuma delas seria preocupante para humanos, até então.

Nessa reportagem, ainda se comenta, por parte de cientistas: "a verdadeira implicação das mudanças na spike ainda não foi avaliada pela comunidade científica e, portanto, não está clara. É muito cedo para dizer que a mudança fará com que as vacinas ou a imunidade falhem"

Vou ir atualizando esse fio a medida que consigo encontrar maiores infos, mas por hora, marco meus colegas e queridos amigos pra gente ir discutindo melhor esses novos achados: @TaschnerNatalia @dogarrett @mab_sp125 @AndersonBrito_ @otavio_ranzani @oatila @melmarkoski

@threadreaderapp compile

@mab_sp125 "Usando uma lógica simples, como poderia uma mudança estrutural na proteína S manter afinidade praticamente igual a ACE2 e possibilitar uma evasão imune?
Claro que pode ocorrer, mas as chances seriam extremamente improváveis.
+"

@mab_sp125 "Em uma mutação pontual podemos esperar perda de afinidade em um ou outro clone de mAB.
Mas numa resposta imune fazemos muitos outros de diferentes epítopes. O sistema é bastante redundante. Ademais há um processo de aumento de afinidade natural numa reexposição.
+"

@mab_sp125 "Isso sem entrar no mérito da imunidade celular. P/ novas gerações de vacinas, é imprescindível não dependermos apenas da prot. S.
Inclusive já sabemos que o nucleocapsídeo gera in vivo até mais anticorpos e, obviamente pela localização, maior resposta imune celular."

https://twitter.com/mab_sp125/status/1324734877598654465?s=19