Uma coisa que eu sempre falo aqui é para termos cuidado com o excesso de formalismo. Um bom exemplo do risco de se focar nas regras é olhar para as eleições americanas.
Formalmente falando, ninguém venceu as eleições. O que houve foi a definição dos delegados do colégio...
... eleitoral que irão escolher o presidente. Ou seja, formalmente, a eleição não está definida — tanto porque o colégio eleitoral não se reuniu, como porque há um período onde os candidatos podem pedir recontagem e entrar na justiça.
Ou seja, formalmente, está tudo aberto.
Porém, existe essa tradição da imprensa declarar o resultado antecipadamente, quando as “decision desks” acham que já dá para prever.
Como toda a imprensa declarou a vitória de Biden em uníssono e estão tachando de “golpismo” o uso dos mecanismos legais legítimos, isso...
... poderia intimidar Trump a recuar e não abrir os processos, pedir recontagem, etc.
Obviamente, é totalmente possível que Biden ainda vença na justiça e no processo de recontagem, mas o ponto principal é o seguinte: como Trump está brigando, ele ainda tem uma chance (por...
... menor que seja) de mudar o jogo. Se ele parar de brigar, Biden vence mesmo se tiver realmente ocorrido fraudes.
E isso me leva à grande lição disso: nunca dá para confiar apenas nos mecanismos institucionais. Esses mecanismos precisam ser ATIVADOS por ações pessoais.
Se você não usa esses mecanismos, as proteções institucionais deixam de funcionar.
É por isso que quem é formalista demais sempre se fode, para ir direito ao ponto: o cara fica pensando que tem “direito x”, mas não adquire os meios de proteger esse direito.
Bom parte desses meios são retóricos: é a capacidade de persuadir as pessoas a agirem de determinado modo. Se você fica calado e passivo, os seus direitos viram letra morta.
Esse erro é bem marcante em diversos subgrupos políticos (tecnocratas, parte da direita, etc.), que...
... se orgulham de dizer que “as instituições estão funcionando”. Muitos republicanos também entram nessa. O bom do trúmpi é que ele é brigão. Ele já foi parte de muitos processos e ele entende que é preciso agir para se defender.
E esse é o ponto que muita gente não entende...
Nós precisamos agir para nos defender (sempre dentro da lei e da moralidade, é claro, mas nós somos os agentes principais dos nossos valores e interesses).
Muita gente, em vez disso, tenta dar uma de bonzinho em vez de se defender. É como se, em vez de contratar um advogado...
... para preparar uma peça em sua defesa, você preparasse um um elogio à justiça e ao juiz, sem rebater os argumentos contra você.
Ora, isso pode parecer muito bonito, mas o juiz precisa justamente ouvir o seu lado. Enquanto você elogia a justiça, o outro lado bate em você...
... sem enfrentar resistência. Isso é a receita para apanhar cada vez mais.
Eu noto também como isso é generalizado no BR. Eu mesmo evitei muitas vezes entrar em conflito direto ou ir na justiça. Hoje vejo como isso é sinal de uma sociedade traumatizada e frágil.
A incapacidade de agir em defesa própria é um sintoma grave. Qualquer criança sabe chorar por comida e atenção. Mas o brasileiro médio acha que grandeza e maturidade é fazer de conta que não está doendo quando apanha.
Ora, grandeza é bater de volta. Defender seu território.
Essa incapacidade de se defender pode ter várias causas. Pode ser uma insegurança profunda que leva a vítima a achar que merece apanhar e que demonstrar submissão por atrair compaixão (um erro fatal).
Mas pode também ser uma estratégia escorregadia, de tentar subir puxando o...
... saco dos opressores.
Por isso mesmo, eu insisto que a coisa mais importante a fazer é cultivar personalidades fortes, autônomas, que não vão entrar em chantagens emocionais e sinalização de virtude. Isso é muito mais importante do que ter a teoria política certa.
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Cheguei no final terceira temporada de Deadwood e é impressionante como é frustrante. É a terceira vez que assisto e é a terceira vez que fico frustrado.
Parte da frustração é porque não há fim. Parte é porque a gente não quer que acabe. Mesmo sem ter rumo, a gente quer ficar habitando naquele mundo para sempre.
Mas a terceira temporada é especialmente problemática. Nas outras, há uma repetição cíclica agregadora: todo episódio é um dia na vida dos personagens, todo episódio aprofunda nosso entendimento daquelas pessoas.
Política é importante, mas é um efeito secundário da sociedade. E a sociedade é um efeito secundário da capacidade de ação individual.
A ordem pra mudar as coisas é começar pelo desenvolvimento da própria personalidade.
O primeiro passo é quebrar os condicionamentos culturais negativos da atmosfera brasileira: deixar de excessos abstrativos, abandonar a esperança do concurso público, parar com formalismo.
É preciso entender que a vida é ação, dinamismo, execução, risco.
O segundo passo é aumentar a própria capacidade ação: ser eficiente, saudável, objetivo.
Corte o açúcar, ajeite o sono, levante pesos, pratique uma arte marcial e ganhe dinheiro. Essa é a base.
Essas dancinhas pró-Biden parece muito com replicantes tentando imitar seres humanos.
“Rápido, precisamos fazer de conta que somos capazes de expressar alegria. Mexam rapidamente os braços e pernas vigorosamente.”
Creio que a falsidade é porque eles não estavam motivados por algo positivo (realizar algo), mas negativo (derrubar Trump). Porém, como a moda é sinalizar virtude, ficaria feio expressar sentimento de revanche, raiva, etc., então estão fazendo de conta que estão sentindo alegria.
A falta de conexão com seus sentimentos autênticos acaba sendo revelada pela desconexão dos movimentos.
Se tivessem um nível de consciência maior, saberiam que nem toda vitória é alegre: pode ser um momento de alívio ou até mesmo de vazio, após perder o inimigo.
Realmente é um momento histórico: a imprensa declarou que a eleição estava concluída antes dos votos terminarem de ser contados e estabeleceu que entrar na justiça é golpe.
Obviamente, é uma grande vitória da democracinha.
Uma lição que as pessoas precisam aprender: entrar na justiça não é apenas um direito legal, mas uma obrigação moral.
Se há uma injustiça sendo cometida (ou ao menos uma suspeita forte), você PRECISA acionar os mecanismos para tentar corrigí-la. Pouca gente entende isso.
Obviamente, a maioria da elite dos republicanos não fará considerações desse tipo. Vão pensar no que vai ficar melhor na fita. Vão calcular a percepção pública.
Trump também não fará, mas ele é briguento, então é possível que ele não desista.