Esse é Heberson, ele foi injustamente preso por dois anos e sete meses pelo estupro de uma menina de 9 anos, até ser inocentado do crime. Entretanto, foi estuprado por mais de 60 detentos e contraiu HIV.
No dia 8 de setembro de 2003, em Manaus, uma garota de 9 anos foi estuprada por dois homens. A garota dormia no seu quarto com os irmãos, quando dois homens invadiram e colocaram uma faca no seu pescoço levando-a para o quintal, mandando ela tirar as roupas e abrir as pernas.
Após os estupradores irem embora, ela foi até o quarto dos pais contar o que havia acontecido, ainda sangrando. Os pais foram ao 26º Distrito Policial de Manaus denunciar o estupro da filha.
Em depoimento a garota disse que mesmo estando escuro conseguiria identificar os homens, e contou que doeu muito. O laudo do IML constatou um sangramento vaginal e uma “cópula anal recente”.
Dois meses depois, a polícia circulou com a menina no bairro onde morava, para ver se reconhecia os homens. A garota apontou para Heberson Lima de Oliveira, que estava bebendo em um bar com os amigos. Ele foi preso sem flagrante ou mandado de prisão.
Em seu depoimento, Heberson admitiu ter passagens pela polícia por brigas de gangues e furtos, mas negou ter estuprado a criança. Ele se defendeu, dizendo que na noite do estupro estava com sua mulher e seus dois filhos.
Porém a palavra da vítima prevaleceu. Na cela da delegacia o homem tentou se matar por causa do desespero, porém foi impedido por um criminoso do bairro que chamou a polícia e deu conselhos para Heberson.
Heberson foi transferido para Unidade Prisional do Puraquequara, ou UPP. Sua mãe, dona de casa, e seu padrasto, pintor e pedreiro tentaram o tirar mais rápido da cadeia, pois mesmo quem é de fora sabe qual é o destino de quem é preso por estupro.
Os advogados que a família contratou tentaram de tudo, mas nada funcionou, porém enfatizou a demora para a justiça decidir se Heberson era culpado ou inocente. Com a demorada espera da liberdade e do julgamento, um dia Heberson foi estuprado por 60 detentos durante horas.
"Na hora, a gente não tem ação, não pode ter resistência de força nenhuma. Se a gente tiver uma resistência, a violência vem em triplo. Não existe grau (limite) de perversidade dentro da cadeia" contou.
Após 7 meses da violência que ele sofreu começaram vir suspeitas de HIV. Heberson pediu a psicóloga de plantão para ir em um hospital referência em tratamento de AIDS para fazer os exames, e um mês depois, o teste saiu, dando positivo.
Após 1 ano e 2 meses de prisão, Divaldo, padrasto de Heberson, encontrou a defensora pública Ilmar Faria. “Quando eu peguei o caso para ler direito, vi que aquilo era uma injustiça. Estava claro que não tinha sido ele" disse Ilmar.
Ilmar encontrou incoerências nos depoimentos. Para a polícia, ela disse que já tinha visto o estuprador antes do crime, que ele foi à casa dela procurar pelo pai em busca de emprego. “Para a Justiça, no entanto, ela disse que nunca tinha visto o estuprador antes”.
A menina disse que o estuprador foi até à casa procurar emprego e acabou conversando com a empregada, mas em depoimento a empregada disse que não era Heberson de quem a menina estaria falando.
"Ninguém estava duvidando de que a menina foi estuprada. O problema é que quem quer que a estuprou, não foi o Heberson", diz Ilmair. Também havia uma incoerência sobre a aparência do criminoso.
A menina o descreveu como: “moreno claro, cabelos enrolados, arcada dentária saliente e sem dentes caninos”. Em maio de 2005, Ilmar pediu um laudo do IML para provar que Heberson não tinha nenhuma das características.
O laudo foi realizado e pronto em abril de 2006. Nesse meio tempo Heberson foi transferido para a Cadeia Raimundo Desembargador Vidal Pessoa, após sofrer ameaças.
As perguntas foram objetivas:
“1 - O acusado tem a arcada dentária saliente?
2 - Ao acusado faltam os dentes caninos?
3 - O acusado é pessoa morena clara?
4 - O acusado tem os cabelos enrolados?"

"Não" foi a resposta para todas, dando esperança de convencer o juiz.
O Ministério Público recuou ao dar pareceres contrários à soltura nas vésperas do julgamento. Em maio de 2006, o Ministério Público reconheceu que as provas contra Heberson eram frágeis, apontando contradições nos depoimentos da vítima dois anos antes.
No dia 17 de maio de 2006, Jorge Manoel Lopes Lins, o juiz do caso, absolveu Heberson. Heberson ficou 925 dias na cadeia, preso injustamente. No seu primeiro dia de liberdade, Heberson quis voltar para a cela.
"Eu já estava vivendo a vida da cadeia. A doutora (Ilmair) estava do meu lado e me empurrou. Ela disse: “Para de leseira, Heberson. Vamos embora”, contou. O homem teve algumas dificuldades após sair da cadeia, pois, segundo ele, já não sabia viver o mundo do lado de fora.
Também diz sobre os problemas que enfrenta depois que contraiu o HIV: “Minha saúde não é mais a mesma. Eu já não tenho mais aquela força de antes. Eu só espero estar vivo para ver meus filhos serem reparados".
"Eles querem que eu faça o que para provar que aconteceu? Eles querem ver como o meu ânus ficou?", relatou Heberson, que após anos em liberdade, tenta uma reparação (indenização) do Estado - que apesar de tirar 925 dias de sua liberdade, afirma que não cometeu nenhum ato ilegal.
Infelizmente, até onde se sabe os verdadeiros abusadores da pequena vítima não foram encontrados até o momento, e não se tem atualizações sobre como ela está.

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