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Nesta quinta, 10 de dezembro, é comemorado o centenário da escritora Clarice Lispector. Foi reconhecida desde o início da profissão e, depois de décadas, também foi aclamada.

Ainda criança, Clarice atravessou o mundo ainda bebê. Aqui, foi atravessada pela arte 👇🧶

(Foto: AE)

Clarice nasceu em 1920 na Ucrânia, na aldeia Tchechelnik, tão pequena que sequer figurava nos mapas. O lugarejo, enrijecido pelas temperaturas que atingiam trinta graus abaixo de zero, foi berço de um dos maiores nomes da literatura brasileira.

"Fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito", partilhou Clarice em 1968. "Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança".

A família emigrou por causa das guerras e da perseguição antissemita. Ela chegou ao Brasil dois meses após o nascimento. Batizada de Haia Lispector, aqui virou Clarice Lispector.

Viveram em Maceió e no Recife, até se estabelecer no RJ.

(Foto: Acervo Clarice Lispector)

Ainda criança, em 1930, inspirada em uma peça de teatro, Clarice escreve “Pobre menina rica”, obra em três atos. No ano seguinte, começa a submeter contos para o jornal Diário de Pernambuco. Entretanto, não obteve retorno positivo.

Clarice foi naturalizada brasileira em 1943. No mesmo ano, finaliza o curso de Direito e publica o 1º livro, “Perto do coração selvagem”.

Em 45, publica o 2º romance, “O Lustre”, ao término da Segunda Guerra Mundial.

A obra solidifica o estilo literário de Clarice, com uma narrativa não linear. “Que estou eu a dizer?”, refletiu, décadas depois, em uma de suas últimas obras.

(Ilustração: Carlus Campos)

Publica em 1949 o terceiro romance "A cidade sitiada", escrito durante a primeira gravidez. Após um hiato, publica a antologia de treze histórias “Laços de Família” em 1960. O livro marca seu retorno às vendas das livrarias.

Em 1961, retorna aos romances com “A Maçã no Escuro”. Também recebe o prêmio Jabuti por “Laços de Família”. Em 1964, publica o romance “A paixão segundo G.H.” , além do volume de contos e crônicas “A legião estrangeira”.

O ritmo de produção retomado na década de 60 é interrompido por um acidente. Em 1966, Clarice sofre graves queimaduras após adormecer com o cigarro aceso. Seu quarto foi destruído e ela permaneceu meses hospitalizada.

A situação deixou sequelas em sua mão. Por isso, teve dificuldades para escrever depois do acidente. Em 1967, apesar de emocionalmente abalada por causa das cicatrizes, lança o primeiro livro infantil “O mistério do coelho pensante”.

Em 1968, entre manifestações contra a Ditadura Militar, lança o segundo livro infantil, “A mulher que matou os peixes”. O lançamento teve que ser cancelado com a instituição do AI-5. Publica “Uma aprendizagem ou O Livro dos prazeres” em 1969 e “Água Viva” em 1973.

Ao longo da carreira, Clarice colaborou com diversas publicações. Sua parceria mais duradoura foi com o Jornal do Brasil, do qual foi dispensada em 1974. Após isso, se dedica ao trabalho como tradutora e passa a pintar quadros com técnicas variadas.

“Quem sabe escrevo por não saber pintar?”, chegou a questionar Clarice. Ao todo, ela produziu 18 pinturas: "É a coisa mais pura que faço.”

(Foto: Itaú Cultural)

“Para que escrevo? E eu sei? Sei não”, escreveu no livro 'A Hora da Estrela'. E, na mesma obra, completa: “Só me livro de ser apenas um acaso porque escrevo, o que é um ato que é um fato”.

Em 1977, no mesmo ano em que publica “A Hora da Estrela”, descobre um câncer no ovário que não tinha cura, pois já estava em estágio avançado. Clarice Lispector morre meses depois, na véspera de seu aniversário.

(Ilustração: Carlus Campos)

Mais de quatro décadas de sua morte, Clarice tem percorrido um caminho inverso ao de seus companheiros literatos: enquanto a maioria dos clássicos brasileiros permanecem sendo consumidos por uma pequena parcela da população, Lispector se popularizou com frases na web.

Esse leitor que conhece a escritora por meio de trechos divulgados no meio virtual percebe somente uma parcela finita do mundo de Clarice. É necessário mergulhar nesta terra tantas vezes explorada, mas que continua desconhecida, para ouvir sua voz:
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Em homenagem a seu centenário, O POVO promove a Semana Clarice, com conteúdos especiais, live, vídeo perfomance e até ebook.

Nesta quinta, às 18 horas, a live "Visões de Clarice" discute legado da escritora brasileira:
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