Com o bafo da regulamentação no cangote, a Big Tech assumiu em 2020 uma postura entre o cinismo e a indolência: fazer o mínimo possível para mudar o mínimo possível.
Facebook, Google e Twitter quiseram vender como grandes avanços atos que qlqr pessoa de bom senso encararia como básicos, como banir negadores do Holocausto ou defensores da KKK.
A estratégia de cherry picking (bjs, @LucianaGimenez) significou agir minimamente para dar impressão de ação e bater tambor na mídia.
Com casa em chamas, método da Big Tech foi jogar um copo d’água e posar de vitoriosa para as câmeras. Mas o problema continua quase intocado.
Quer um exemplo prático? O YouTube afirmou que manteria sua plataforma livre de desinformação sobre COVID.
Deletou vídeos no varejo, mas deixou no atacado uma quantia ainda maior com mentira travestida de “opinião científica”.
Esses vídeos ainda no ar, alguns monetizados, afrontam frontalmente as regras definidas pelo próprio YouTube.
No entanto, continuam lá, acumulando milhões de views, comentários e dólares em ganhos publicitários - tanto para os youtubers como para o YouTube.
A explicação taí.
Beneficiada pela migração à força para a internet durante a pandemia, a Big Tech adotou a lei do mínimo esforço.
2020 deixou claro que quem nos colocou nessa enrascada não vai nos tirar dela sem interferência externa.
Essa interferência já está engatilhada para 2021.
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Em um espaço de 3 dias na semana passada, 3 dos mais influentes canais de extrema-direita no YouTube Brasil - Brasil Paralelo, Terça Livre e O Giro de Notícias, esconderam ou apagaram, juntos, um total de 156 vídeos.
Em 8/12, o Brasil Paralelo, canal com 1,5 mi de seguidores que produz conteúdo revisionista sobre a história brasileira (como a ditadura militar, por exemplo), tornou não listados 18 vídeos.
Foram lives debatendo educação no BR e a íntegra de podcasts sobre cultura.
Tornar vídeos não listados (unlisted no jargão do YouTube) significa deixar o vídeo no ar, mas escondê-lo de quem acessa o canal. É uma prática comum quando a estratégia é levar tráfego a partir de outras fontes, como o próprio site ou apps de mensagens.
Deixa eu aproveitar o fio do último episódio da 2ª temporada do Tecnocracia para um agradecimento: o podcast cresceu nesse ano acima de qlqr delírio otimista meu.
Basicamente o boca a boca fez a base de assinantes quase triplicar no Brasil. O Tecnocracia se tornou o 8º podcast de tech mais ouvido do Brasil.
Um podcast sobre os malefícios da tecnologia, que nunca falou sobre celular novo e a partir de um site de menor alcance que outros veículos (assine o @manualusuariobr!)
Não é pouco. E tudo por uma comunidade que ouve, gosta, passa adiante e manda msg.
Já se destrinchou aspectos interessantes da campanha digital do Guilherme Boulos (PSOL), mas tem outro ponto que vale a pena ser falado.
Boulos parece ter entendido que, para ter chance, precisaria falar além da própria bolha. Isso fica claro na estratégia para YouTube. 1/N
Com um canal pequeno, a saída foi usar a audiência de canais maiores, ainda que isso significasse dialogar com quem era claramente contrário e anos antes da disputa pela Prefeitura.
Um dado antes: no YouTube, o canal oficial de Boulos tem 143 mil seguidores. 2/N
No início da campanha, eram ~56k. Vem crescendo, mas a audiência é minúscula se comparada à da direita.
Segundo monitoramento que a @novelodata faz dos canais de extrema direita, os 143k seguidores posicionariam Boulos como o 97º (!) canal de direita com maior audiência do BR