Em um espaço de 3 dias na semana passada, 3 dos mais influentes canais de extrema-direita no YouTube Brasil - Brasil Paralelo, Terça Livre e O Giro de Notícias, esconderam ou apagaram, juntos, um total de 156 vídeos.
Em 8/12, o Brasil Paralelo, canal com 1,5 mi de seguidores que produz conteúdo revisionista sobre a história brasileira (como a ditadura militar, por exemplo), tornou não listados 18 vídeos.
Foram lives debatendo educação no BR e a íntegra de podcasts sobre cultura.
Tornar vídeos não listados (unlisted no jargão do YouTube) significa deixar o vídeo no ar, mas escondê-lo de quem acessa o canal. É uma prática comum quando a estratégia é levar tráfego a partir de outras fontes, como o próprio site ou apps de mensagens.
Em 9/12, O Giro de Notícias tirou do ar 101 vídeos.
O Giro é comandado por Alberto Silva, investigado pelo inquérito de fake news do STF e alvo de operação da PF em junho. Em julho, o Giro já tinha deletado 148 vídeos
Nos 101 tem de tudo: ataques a Lula, Dilma, Globo, Rodrigo Maia e até o Papa ("URGENTE: PAPA PROPÕE FIM DO BRASIL E CRIAÇÃO DA PATRIA GRANDE"), apoio ao então aliado Sérgio Moro, mentiras sobre incêndios criminosos e defesa do uso do Exército em nome do artigo 142.
Em 11/12, o Terça Livre tirou do ar 37 vídeos, com 2 focos: eleições nos EUA (“PQ TRUMP DIVULGOU O TERÇA LIVRE?”) e no Brasil (“BOLSONARO QUESTIONA SISTEMA ELEITORAL”) e pandemia do COVID-19 (“SEGUNDA ONDA: QUEREM SACRIFICAR O SEU NATAL” e “VACHINA: ANVISA QUER AJUDAR DORIA?”)
Em julho, o Terça Livre, como o Giro de Notícias, tb deletou do seu canal 272 vídeos após operação da PF.
O que aconteceu agora para mobilizá-los novamente?
Um outro inquérito do STF, sobre os atos antidemocráticos, está se aproximando desse grupo.
Um adendo: outro youtuber relevante da extrema-direita tb apagou vídeos no período: Fernando Lisboa, do Blog do Lisboa, escondeu 5 vídeos em 11/12.
4 são sobre Trump e 1 sobre Bolsonaro ("URGENTE: BOLSONARO CHEGOU A OPORTUNIDADE QUE FALTAVA - XEQUE-MATE").
Lisboa é presença frequente nos rankings da @novelodata com canais de extrema-direita que mais escondem vídeos com estratégia no varejo: em vez de uma batelada por vez, ele vai apagando aos poucos.
Lisboa tb é citado no inquérito de fake news do STF.
O relatório revela como os youtubers têm uma conexão direta com o Palácio do Planalto não só para divulgação de informações mas também nas estratégias de monetização que chegam a render R$ 100 mil por mês (!!) para os youtubers.
Os 3 youtubers que apagaram vídeos na semana passada (excluindo o Brasil Paralelo) se beneficiam diretamente e são citados nominalmente no relatório, junto a dezenas de outros youtubers.
Em miúdos: como em junho, com a proximidade da Justiça, youtubers que se beneficiam financeiramente do esquerma com participação do Palácio do Planalto para espalhar desinformção e atacar as instituições democráticas estão escondendo e apagando provas.
Follow the money
Jornalistas que queriam usar os dados, a regra continua a mesma: é livre, desde que cite na autoria o estúdio de data analytics Novelo Data (@novelodata).
o @JaildonLima levanta um ponto interessante: a PGR, que pediu a investigação aceita pelo Alexandre de Moraes em abril, não pede esclarecimentos desde julho.
Deixa eu aproveitar o fio do último episódio da 2ª temporada do Tecnocracia para um agradecimento: o podcast cresceu nesse ano acima de qlqr delírio otimista meu.
Basicamente o boca a boca fez a base de assinantes quase triplicar no Brasil. O Tecnocracia se tornou o 8º podcast de tech mais ouvido do Brasil.
Um podcast sobre os malefícios da tecnologia, que nunca falou sobre celular novo e a partir de um site de menor alcance que outros veículos (assine o @manualusuariobr!)
Não é pouco. E tudo por uma comunidade que ouve, gosta, passa adiante e manda msg.
Com o bafo da regulamentação no cangote, a Big Tech assumiu em 2020 uma postura entre o cinismo e a indolência: fazer o mínimo possível para mudar o mínimo possível.
Facebook, Google e Twitter quiseram vender como grandes avanços atos que qlqr pessoa de bom senso encararia como básicos, como banir negadores do Holocausto ou defensores da KKK.
A estratégia de cherry picking (bjs, @LucianaGimenez) significou agir minimamente para dar impressão de ação e bater tambor na mídia.
Com casa em chamas, método da Big Tech foi jogar um copo d’água e posar de vitoriosa para as câmeras. Mas o problema continua quase intocado.
Já se destrinchou aspectos interessantes da campanha digital do Guilherme Boulos (PSOL), mas tem outro ponto que vale a pena ser falado.
Boulos parece ter entendido que, para ter chance, precisaria falar além da própria bolha. Isso fica claro na estratégia para YouTube. 1/N
Com um canal pequeno, a saída foi usar a audiência de canais maiores, ainda que isso significasse dialogar com quem era claramente contrário e anos antes da disputa pela Prefeitura.
Um dado antes: no YouTube, o canal oficial de Boulos tem 143 mil seguidores. 2/N
No início da campanha, eram ~56k. Vem crescendo, mas a audiência é minúscula se comparada à da direita.
Segundo monitoramento que a @novelodata faz dos canais de extrema direita, os 143k seguidores posicionariam Boulos como o 97º (!) canal de direita com maior audiência do BR