Mutações do CoV-2: o que se sabe, o que está em aberto
Potenciais implicações no manejo da pandemia, na gravidade da doença e na eficácia de vacinas
Segue o fio 🧶🧶
Sobre mutações virais e Cov-2
- Os vírus sofrem mutações aleatórias, naturalmente, durante seu processo de replicação (multiplicação), que podem ou não promover em maior vantagem adaptativa.
A ocorrência de mutações é muito frequente em todo tipo de vírus. As taxas de mutação podem variar imensamente entre diferentes tipos de vírus.
- CoV-2: Até o momento, as taxas de mutação do CoV-2 não pareciam ser alarmantes (algumas milhares já foram relatadas, dentre elas umas 4.000 na proteína spike), sendo menores do que as observadas para influenza, por exemplo.
- Algumas perguntas relevantes, em relação a mutações virais são:
(i) se elas induzem à evasão imunológica na infecção
(ii) se elas podem ter maior poder de transmissão
(iii) se elas podem provocar doença mais grave
(iv) se elas podem implicar em perda da eficácia de vacinas
Contexto atual Covid-19 e mutação genéticas
- Uma nova variante viral do cov-2 foi identificada no Reino Unido, fazendo emergir discussão sobre o potencial impacto na pandemia e potenciais implicações nos desfechos clínicos.
(nome da variante: VUI-202012/01 (primeira “Variant Under Investigation” em dezembro 2020). A variante foi identificada pelo “Covid-19 Genomics UK (COG-UK) consortium, composto por 12 instituições acadêmicas e instituições de saúde pública e o Wellcome Sanger Institute”.
- A linhagem nova é denominada B.1.1.7. Foram documentadas 17 diferentes mutações, com destaque para a mutação N501Y (ou seja, a mudança de um aminoácido na posição 501 da proteína spike, passando de Asparagina (N) para Tirosina (Y)).
Essa linhagem mutante foi detectada estar circulando no Reino Unido, desde setembro 2020.
- O aumento expressivo da frequência de sua detecção, em curto tempo, sugere que ela tenha maior capacidade de transmissão, sendo de 70%, em contraste com 15% de outra variante, circulando no Reino Unido.
Tal estimativa foi feita com base na aplicação de um modelo logístico mostrando que a taxa de crescimento dessa variante é bem mais alta da que de outras variantes. Porém, estudos mais refinados são necessários.
Foi feita uma estimativa de R0 = de 1.4, no entanto, os dados científicos com esses cálculos ainda não foram disponibilizados para a comunidade científica. Há relatos, ainda não publicados de que em Londres e arredores, a variante foi encontrada em até 60% dos casos.
- Sem relação com gravidade de doença – Até o momento, não há dados indicando que a variante induza doença mais grave. No entanto, essa questão merece maior investigação.
- Por que a variante poderia ser mais virulenta?
(i) Considerando que essa mutação é na proteína spike, que é a proteína de interação com o receptor de entrada na célula do hospedeiro ACE2, se a mutação conferir maior afinidade com o receptor, poderia explicar maior virulência.
(ii) se a região da mutação for alvo de resposta imune dominante e importante, a resposta imune pode ser menos eficaz na proteção do indivíduo.
Alguns dados sobre a circulação da variante:
- 3 Dezembro: 1.108 casos com a variante identificados no Reino Unido, em 60 diferentes localidades.
- 15 Dezembro: informação de que a variante identificada no fim de setembro. - Provavelmente, surgiu no no Reino Unido mesmo.
- Correlação positiva entre aumento de casos de covid-19 e frequência de variante na mesma região, mas não se sabe se é a causa do aumento.
- Já detectada também na África do Sul
Outras mutações de CoV-2 descritas:
UK: D614G: variante provavelmente relacionada à maior capacidade de transmissão. Tipo mais comum circulando do Reino Unido, mas não parece estar associada à maior gravidade de doença.
- África do Sul: nova linhagem 501Y.V2: 8 mutações na proteína spike, inclusive 3 em importantes resíduos na RBD (K417N, E484K and N501Y), potencialmente com implicações funcionais. Surgiram depois da primeira onda da epidemia, sendo muito prevalente na área metropolitana.
Disseminação rápida, passando a ser dominante, em apenas semanas. Possível maior capacidade de transmissão.
Referências:
1)Jacqui Wise, BMJ2020 Dec 16;371:m4857 doi: 10.1136/bmj.m4857
2)Tegally et al., MEDRXIV (pre review)

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