As perguntas que não querem calar quanto a COVID-19 e a tão sonhada imunidade: “quanto tempo estaremos protegidos do vírus através da imunização?” e “quem pegou a doença já está imune?” Siga o fio feito em parceria com a @mellziland! :)
Na biologia, a imunização corresponde à aquisição de proteção a um determinado agente infeccioso, criando uma resistência à doença causada por esse agente, através da estimulação de uma resposta imune!
Essa resposta pode ser dividida em 1) inata (não específica, também conhecida como nossa primeira linha de defesa) ou 2) adquirida (adaptativa, mais específica, acionada para se somar à inata) se houver necessidade de resposta mais específica.
A resposta imune adaptativa é a que envolve a ativação de células T, B, geração de anticorpos e memória imunológica. Essa resposta, que é ativada naturalmente, ganha uma espécie de “força de propulsão” quando é obtida através de vacinas.
Para lembrar: nossa resposta imune é ativada sempre que um organismo estranho ao nosso corpo entra em contato com ele. Para isso, há muitas células e moléculas específicas para a realização dessa importante e “árdua tarefa”.
Inicialmente, temos várias células (como neutrófilos e células Natural Killer, que são tipos de glóbulos brancos) e moléculas (citocinas e interferons), que respondem: “tem algo estranho no corpo, não sabemos exatamente o que é, mas vamos tentar liquidá-lo!”
Nessa primeira forma de defesa (resposta imune inata), a liberação das citocinas e interferons atua para combater e eliminar os organismos invasores, como os vírus, além de algumas barreiras químicas e físicas
Depois de alguns dias de infecção e de uma épica batalha do sistema imune inato contra esses agentes, o que pode também gerar um processo inflamatório devido à ação das citocinas, uma resposta mais específica pode ser acionada, convocando células e moléculas “especialistas”
A resposta adaptativa, células e moléculas irão aprender a identificar detalhes do agente infeccioso e a responder contra ele, de forma bastante específica. Entre as células, destacam-se os linfócitos B e T (que também fazem parte do grupo dos glóbulos brancos)
Essas células promovem respostas bem direcionadas aos invasores e também constituem a memória imunológica, ou seja, as células que irão defender o organismo quando ele for exposto novamente ao mesmo agente, mas de maneira muito mais rápida e eficiente
Já entre as moléculas, destacam-se as imunoglobulinas (os anticorpos), que são liberados pelas células B. Comentamos aqui informações gerais sobre imunidade e COVID-19

redeaanalisecovid.wordpress.com/category/covid…
Aqui sobre a interação do SARS-CoV-2 com as células do sistema imunológico

redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/07/22/a-i…
Aqui sobre como ocorre a ligação da proteína Spike com os anticorpos (ou as imunoglobulinas - Ig)

redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/07/06/a-p…
Aqui sobre os destaques na atuação das células T na resposta à forma mais severa da doença

redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/09/21/cel…
E aqui sobre a relação das células T com outros coronavírus e semelhanças do ataque a essas células pelo vírus com aquele promovido pelo HIV.

redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/04/21/cov…
Sobre os anticorpos, há uma grande diferença entre os anticorpos séricos, produzidos após a infecção (aqueles que estão circulando na nossa corrente sanguínea, usados na terapia com o plasma convalescente) e que podem decair ao longo do tempo (cont.)
Para aqueles que podem ser produzidos após o estabelecimento das células de memória longa, que constituem uma imunidade duradoura. Mas esse decaimento não significa que necessariamente você perdeu suas defesas! Calma lá!
Se as células de memória forem criadas, é possível que elas respondam com uma nova onda de anticorpos (por exemplo, caso seu corpo seja desafiado pelo agente infeccioso mais uma vez).
Ainda, temos os epítopos, que poderiam ser comparados a retratos-falados de sujeitos procurados, distribuídos aos investigadores. Essa apresentação do epítopo diretamente ao sistema imune, que é feito de forma natural pelas células apresentadoras de antígenos (cont.)
Ou, por exemplo, através das vacinas de RNA, quando queremos uma proteção robusta mas sem ter a doença, gera uma discussão interessante sobre eficiência de resposta vacinal (tema para outro fio).
De maneira geral, uma vez que uma célula T ou B entra em contato com um epítopo, ela ativa uma resposta e recebe uma espécie de status de reconhecimento no “hall da fama” do sistema imune; ou seja, ela fica “registrada” na forma de célula de memória.
Assim, toda vez que o agente invasor acessar novamente o organismo, essa célula de memória é ativada, ocorrendo o que chamamos de expansão clonal (e não consigo deixar de comparar ao exército de clones, os stormtroopers, de Star Wars!
Inclusive, fizemos esse texto relacionando Star Wars com Máscaras! redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/12/15/o-r…
Um estudo recente revelou que as células B, quando colocadas juntas com antígenos do SARS-CoV-2, apresentariam os respectivos anticorpos de reconhecimento a essas proteínas em sua superfície. immunology.sciencemag.org/content/5/54/e…
Outra observação importante a fazer é sobre os tipos de anticorpos que as células B produzem. De maneira geral, o linfócito B produz 5 classes de imunoglobulinas (IgA, IgD, IgE, IgG e IgM), que podem estar livres no sangue e/ou estarem juntas à membrana dessa célula B (cont.)
Em relação à COVID-19, destacam-se as ações das classes IgG e IgM. As IgM são aquelas mais presentes na membrana das células B, e eliminam os agentes infecciosos nos estágios iniciais da infecção.
As IgG são ativadas em estágios posteriores da infecção, e ativam respostas citotóxicas (de destruição da célula infectada).
Ainda, temos um sistema complementar (chamado, inclusive de sistema complemento), que contribui para a eliminação desses agentes infecciosos, marcando-os para ficarem “mais visíveis” para as células citotóxicas ou para a ação dos anticorpos.
Em 285 pacientes com COVID-19 internados em hospitais da China, as quantidades de IgG e IgM, começaram a ser detectados após o 4º dia do início dos sintomas, atingiram o pico máximo, respectivamente, em 17-19 e 20-22 dias após o surgimento dos sintomas nature.com/articles/s4159…
Porém, as IgM diminuíram em torno da terceira semana após os sintomas, enquanto que as IgG permaneceram por mais tempo. Esta produção e liberação de anticorpos na corrente sanguínea após contato com o organismo invasor é o que chamamos de soroconversão.
Além disso, tanto células B que expressavam anticorpos para diferentes antígenos puderam ser detectadas em todas as amostras de sangue dos pacientes desde o momento inicial da análise (4º dia após o início dos sintomas), e persistiram até o 242º dia
Não sabemos se há relação, pois os pesquisadores não discutem isso no artigo, mas dos 25 pacientes, apenas um deles era assintomático para a doença; os demais apresentaram os sintomas característicos, de leves a críticos
É possível que haja uma relação entre a resposta imune ao SARS-CoV-2, aquela que envolve a produção de anticorpos (resposta adquirida humoral), com o estado infeccioso da COVID-19, onde, talvez, assintomáticos quase não desenvolvam uma resposta humoral robusta.
Isso também poderia significar que pessoas que tiveram sintomas leves (ou não tiveram sintoma algum) podem não ter gerado as células B de memória, e poderiam desenvolver sintomas mais severos ao se reinfectar.
Acrescento que essas pessoas, os assintomáticos, poderiam talvez desenvolver a resposta inata de maneira mais eficiente no início da infecção com o vírus
Ao que tudo indica, é possível que a exposição à COVID-19, no momento em que a pessoa for capaz de ativar a resposta imune específica, a memória imunológica será gerada. Lembrem-se que nem todas as pessoas chegam ao ponto de criar essa resposta!
Muitas delas resolvem a infecção somente com a resposta inata, a primeira linha de defesa. Por isso todos devemos nos vacinar, para garantir a persistência dessa imunidade.
É sempre bom lembrar que enquanto não temos nossa população vacinada, os cuidados de prevenção devem persistir. Aliás, leve a “regra” da prevenção para a vida, pois com certeza, ela poderá ajudar na defesa contra muitas outras doenças.

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29 Oct 20
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