PARTE 3. Quanto mais evidências de diferenças não esperadas por mero acaso forem sendo encontradas, mas consistência de que aquele efeito é encontrado por aquela causa. +
Mas então é preciso ficar testando indefinidamente para cada vez mais diminuirmos esta probabilidade de ter sido ao acaso o efeito observado? Certamente, não. Aí entrem outros conceitos de probabilidades esperadas a partir do que já se sabe de outros estudos, que vão +
determinar se são necessários novos estudos para comprovar aquelas conclusões ou não. +
Suponha que testemos uma medicação para a covid em diversos ensaios clínicos randomizados e que os resultados destes estudos todos apontem para uma ausência de diferença estatisticamente significativa para benefício dessa medicação. +
Mas se entre n estudos, um deles aponte um efeito estatisticamente significativo. Todos são ensaios clínicos, tivemos n com resultados negativos, mas agora temos um com resultado positivo. O que fazer? Devemos abandonar os n anteriores e basear nossas condutas no mais recente? +
O primeiro passo, é claro, é avaliar a qualidade dos aspectos metodológicos e condução da pesquisa desses estudos. Às vezes, realmente, ensaios clínicos de baixa qualidade são desmentidos quando um de qualidade melhor é realizado. +
Mas no caso de todos serem de qualidade metodológica semelhante, qual vale mais? O raciocínio nestes casos é ainda um pouco mais sofisticado e não entrarei em maiores detalhes, mas devemos aplicar um raciocínio Bayesiano. +
Sumariamente, o raciocínio Bayesiano avalia a probabilidade de um evento, baseado em um conhecimento a priori sobre este evento. Ora, muito simplificadamente, em estudos metodologicamente semelhantes, onde n apresentam um resultado X e um apresenta um resultado Y, +
a probabilidade de que este um seja um efeito do acaso é maior do que a dos outros n terem sido ao acaso. Essa é uma maneira, por exemplo, de que dispomos para avaliarmos se são necessários novos estudos para confirmar ou refutar um efeito. +
Além, é claro, de outros fatores associados aos próprios estudos já conduzidos, a plausibilidade biológica. Precisamos mais estudos para provar que uma vacina contra covid é eficaz? +
Não, baseados em todo o conhecimento que já dispomos sobre o efeito das vacinas na população, um estudo que comprove que a intervenção é eficaz reduz a virtualmente zero a possibilidade de que aquele efeito tenha sido observado ao acaso, +
mesmo que, especificamente no estudo isoladamente, essa possibilidade tenha sido hipoteticamente 1 em 1000.(e isso não significa que sabemos tudo sobre as vacinas!). Porém, a probabilidade de estarmos frente a um efeito devido ao acaso é tão, mas tão remota, +
que podemos classificar essa evidência como uma “prova”. Por outro lado, precisamos de novos ensaios clínicos para testar uma medicação que foi testada várias vezes e nunca mostrou uma diferença estatisticamente significativa a seu favor? +
Depende, mas possivelmente não. Baseado no conhecimento oriundo dos estudos prévios a possibilidade de encontrar um efeito que seja clinicamente relevante em um novo estudo é tão remota que muitas vezes não se justifica, inclusive do ponto de vista ético, +
submeter um grupo de pessoas a uma intervenção cuja probabilidade de ser benéfica é muito próxima de zero. Assim, tanto as “provas” positivas e negativas são construídas nas ciências biológicas. Seguiremos com um conceito relativamente flexível do que é uma prova definitiva, +
mas o raciocínio probabilístico a partir do conhecimento prévio somado a avaliação plausibilidade biológica de algum efeito ocorrer por determinada variável em determinada condição é tão, mas tão remota, que passamos a considerar o fato como cientificamente provado. +
Espero ter contribuído. Certamente há especialistas neste assunto que poderão explicar tecnicamente muito melhor do que fiz neste texto, mas espero que para a transmissão de uma ideia geral de como se constrói conhecimento em ciências médicas tenha sido útil.
FIM
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PARTE 2. Como são mais fáceis e rápidos de serem realizados, os estudos observacionais muitas vezes frente a uma situação inédita ou inesperada são a primeira base do nosso conhecimento sobre o novo ocorrido e a partir dos seus resultados direcionamos as nossas ações. +
Além disso que foi explicado, um estudo científico precisa ser minuciosamente descrito em todos os seus aspectos. Muitas vezes como ocorreu agora na pandemia, muitos estudos observacionais careciam de descrições às vezes muito básica, +
como por exemplo, quando a intervenção foi administrada de forma que fica impossível sequer averiguar se a administração da intervenção guarda alguma relação temporal com o evento (desfecho) que estava sendo medido. +
Neste que se inicia continuaremos escutando bastante que algo “está provado”. Mas o que é estar "provado"? O que é, afinal, uma “prova” em ciência?
Aviso, dividirei em mais de um🧵E fios longos, mas espero que sejam úteis! (PARTE 1) +
Certamente, esta é uma discussão que poderia ser bem mais formal e ir bem mais para trás no tempo, para 369 A.C., nos primórdios da epistemologia, quando, conforme nos legou Platão, Sócrates questiona Teeteto, “O que é o conhecimento?” +
Poderíamos também derivar uma ampla reflexão sobre a própria natureza da realidade, a partir das inquietudes trazidas por gigantes da humanidade, os grandes físicos teóricos do início do século XX, Planck, Einstein, Bohr e Schrödinger, apenas para citar uns poucos. +
Alguns comentários sobre o DC do RS: objetivo do modelo é evitar que os hospitais esgotem sua capacidade de receber doentes. Isso é insuficiente para evitar mortes e por isso observamos a progressão da óbitos no RS nos últimos meses. Uma intro, depois vamos aos exemplos. 1/
1o. ponto que precisa ficar claro e é A premissa falha do modelo: O leito livre não é garantia de sobrevivência. Hospitais sem sobrecarga, maior chance de sobrevivência à covid, conforme bem demonstrado em um estudo americano em 955 hospitais. 2/
Não sou matemático nem estatístico, mas alguns itens são bastante intuitivos ao analisar o que está na metodologia do modelo. Vejamos: 50% da pontuação do modelo depende da capacidade hospitalar, e metade desta vem da variação em relação à semana anterior. 3/
Como acabar com a pandemia? Pergunte ao @GovernodoRS , que criou uma fórmula absurda que é capaz de sair da “bandeira preta” para a “laranja”em 2 semanas. E o melhor, com mais pacientes com covid confirmado em UTI na região Sul hoje (48) do que há 2 semanas (44). 1/3
Também maior ocupação de UTI com pacientes com covid hoje (977) do que há 2 semanas (899). E mais, óbitos em ascensão! Média móvel 56 há 14 dias e 65 hoje! 2/3
O modelo é fracassado. É inacreditável que com tudo que aprendemos nesses últimos meses as decisões dependam de um formulismo arbitrário e sem sentido.
Imagino o q passa na cabeça das pessoas! Assim fica bem difícil. Então, como tenho dito, muito ajuda quem não atrapalha! 3/3
Vacina Pfizer, agora c uma calculadora👉 43.538 participantes, sendo que 38.955 (89.5%) receberam a segunda dose. Desfecho primário: ocorrência de covid 7 dias após a segunda dose. 94 eventos. Incidência cumulativa de 0,21%. Deve-se ter aproximadamente 21.769 em cada grupo. 1/
Foi anunciado q dos 94 eventos mais de 90% eram do grupo placebo. calculo q algo como 85 participantes do placebo desenvolveram covid (incidência de 0,39% IC95% 0,31-0,48) e 9 (incidência 0,04% IC95% 0,02-0,07 no grupo vacina). A razão de incidências (0,04/0,39) = 0,10. 2/
Tendo uma razão de incidências (ou risco relativo) de 0,10, pode-se dizer que em 28 dias a incidência de covid na vacina foi 90% menor que no placebo. O que é muito bom!!! Mas, o 90% de efetividade pode parecer que 90% dos indivíduos vacinados estarão imunes à covid. 3/