Trabalhar com porcentagem é muito fácil de se perder pq a porcentagem é um número relativo a uma certa quantidade de referência, e é preciso saber qual é essa referência.
A explicação q a pessoa deu está simplesmente ERRADA. E recebeu milhares de compartilhamentos e curtidas. Tenho certeza q a pessoa escreveu com boas intenções pra explicar o q significaria os 78% de eficácia da Coronavac pra casos leves. Mas acabou espalhando desinformação.
A eficácia de vacina é uma porcentagem q tem como referência o número de casos no grupo q nāo recebeu a vacina. Se a eficácia nos casos leves é de 78%, significa q, se uma porcentagem X dos não vacinados desenvolverem casos leves, *22% de X* entre os vacinados desenvolverão.
(Nota: eficácia, resultado do teste, é diferente de efetividade, resultado na população, mas a eficácia é a estimativa inicial para como será a efetividade.) Assim, se, em um grupo de 1000 pessoas não vacinadas seria esperado q 60 desenvolvessem um caso leve...
...Seria esperado q cerca de 13 pessoas desenvolvessem casos leves num grupo de 1000 pessoas q foram vacinadas.
Digamos q uma nova linhagem de vírus chega e se espalha mais rapidamente (mas q a vacina ainda funcione) e se espera q agora 300 pessoas a cada 1000 não vacinadas desenvolvam casos leves. Entre os vacinados deverão ser cerca de 66 casos leves a cada 1000 pessoas.
Quais as chances de uma explicação como esta daqui (ñ falo da minha especificamente, mas qq uma explicação correta) ter alcance similar? Possivelmente muito, muito baixa. Pq, infelizmente, é uma explicação bem mais complexa do q a errada.
Uma demonstração da boa intenção é que o autor do tweet acabou apagando, mesmo (e em função) de haver viralizado tanto.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Como se saiu o modelo da Imperial College usado no relatório 12, de 26 de março de 2020 (qdo se sabia muito menos sobre o SARS-CoV-2 e a covid-19)? Dos 27+1 países com dados sobre excesso de mortalidade levantados pelo Financial Times, o modelo só errou: DEN, NOR, ISL, IND e KOR.
Dos países nórdicos, só a SWE ultrapassou - e bastante - o limite mínimo de mortes previstas pelo modelo do IC: chegando perto da mortalidade prevista para o cenário com restrição menos rígida. Pode haver forte subnotificação na IND. Ñ há dados para excesso de mortalidade.
A KOR, ao lado dos países nórdicos (vc ñ, SWE), foi um dos países com medidas bem intensas de combate à covid-19 (a KOR testou e rastreou muito mais - mm ñ tendo feito lockdown). E, junto com países nórdicos (vc ñ, SWE) teve mortalidade até mais baixa do q a média esperada.
Não. Significa q, se a chance de alguém ñ vacinado pegar a doença em um ano for de 7% (6,3% de quadro leve, 0,6% de caso grave), se vc estiver vacinado a sua chance será de 22%*7% = 1,54% (e só desenvolverá o quadro leve).
Esse 7% peguei pq é a taxa de infectados no BRA em números oficiais. Há subestimativas e varia de lugar pra lugar - em Manaus deve estar na casa dos 30% ou mais de infectados. E tb de tempo para tempo, as chances dos próximos 12 meses sem vacina devem ser maiores.
Enfim, quaisquer q sejam as chances (I%) de alguém não vacinado se infectar, as chances de alguém vacinado se infectar será 78% menor: 0,22*I% - e mm se tiver o azar de se infectar, deve ser apenas de caso leve, ñ precisando ser internado nem entubado.
Qtas pessoas precisam ser vacinadas? Isso depende de dois fatores - como a doença se espalha (dado pelo número R0) e quão eficiente é a vacina. Se cada pessoa infectada infecta outras duas pessoas, o R0 é 2. Se a vacina for 100% eficiente, é preciso vacinar: 1-1/R0 = 50% da pop.
Se o R0 for 4, com vacina 100% eficiente, é preciso vacinar: 1-1/4 = 75% da pop. Para vacinas reais, com eficiência menor do que 100%, só corrigir o valor obtido dividindo pela taxa de eficácia. Para uma vacina com eficácia de 78%, se o R0=2, será: [1-(1/2)/0,78] ~64% da pop.
A eficácia (o resultado dos testes na fase 3) podem ser diferentes da efetividade (a proteção na prática com a aplicação na população em geral) por diversos fatores. P.e. nos testes as condições de aplicação da vacina são mais controladas; na prática, há variação nas condições...
...de transporte, armazenamento e aplicação (em alguns lugares pode não ter geladeira ou freezer e depender de caixas de isopor). E como os testes são voluntários, por mais q se tente se aproximar o melhor possível de uma representatividade da população, nem sempre a amostra...
...do teste é uma reprodução tão fiel da população em geral. As condições nos testes tb podem ser diferentes das condições nas aplicações - novas variantes do patógeno podem ter surgido, o comportamento da população pode mudar (p.e. relaxar nos cuidados após se vacinar).
Considere q o poder econômico numa nação fascistizada está do lado do fascismo.
Talvez a questão precise ser refraseada: como se chega ao poder em um país fascistizado sem ser fascista e sem ter propostas fascistas e, ao contrário, tendo propostas pra desfascistizar?