A soja é o principal produto de exportação do Brasil. Está à frente de minério de ferro, de petróleo, de celulose, de maquinário, de tudo. O produto, em grão ou em farelo, é usado principalmente para ração animal, e responde por 14% de todas as vendas brasileiras ao exterior.1/10
Das aproximadamente 100 milhões de toneladas de soja que o Brasil exporta por ano, 13 milhões vão para países que fazem parte da União Europeia, sendo que 5 milhões vão para a França, de acordo com dados atribuídos pela @abiove à @embrapa . 2/10
Pois é justamente a França – país que, ao lado da Alemanha, lidera a União Europeia, sobretudo após a saída do Reino Unido – quem lançou ontem uma ameaça explícita de boicotar a compra de soja do Brasil. O governo brasileiro se calou. As entidades do setor desdenharam. 3/10
Desde que o presidente da França, @EmmanuelMacron, disse que pretendia parar de comprar soja brasileira, por causa do desmatamento da Amazônia, não houve reação dos ministros @rsallesmma e @ernestofaraujo. O @ItamaratyGovBr sequer responde email da imprensa. 4/10
Entidades do setor, como @ABIOVEBR e @AprosojaBR, podem considerar que o montante de soja brasileira comprada pela França não é grande. A China é a grande compradora, pois fica com mais de 73% da soja exportada pelo Brasil. Mas o problema não é esse. 5/10
O Brasil espera que a União Europeia entre num abrangente acordo comercial com o Mercosul. Para que isso aconteça, é preciso que cada um dos parlamentos dos 27 Estados-membros deem sinal verde. Isso provavelmente não vai acontecer na França, como o episódio demonstra. 6/10
Mas há mais: a situação com a China tampouco é melhor. No fim do ano passado, Eduardo, um dos filhos do presidente, provocou uma reação pública irada da @embaixadachina em Brasília depois de culpar Pequim pela covid-19. 7/10
Os apoiadores do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (a quem não posso marcar enquanto estiver bloqueado) minimizam os riscos, dizendo que tanto a China quanto a França não têm opções de fornecedor. Essa é uma verdade só no curtíssimo prazo. Mesmo assim, precária. 8/10
Com apenas 2 anos de governo, a dupla Bolsonaro/Ernesto conseguiu associar-se intimamente com o governo mais contestado da recente história americana e brigar com a China, maior destino das exportações brasileiras. 9/10
Como se não fosse o bastante, as relações com a Argentina raramente estiveram no nível atual de degradação e de distância e a relação com a França, país-chave na União Europeia, está assim, como se pode ver. 10/10
Hoje cedo pedi que o @Mapa_Brasil comentasse a fala de @EmmanuelMacron. A resposta chegou às 16h17: Macron "mostra completo desconhecimento sobre o processo de cultivo do produto importado pelos franceses e leva desinformação a seus compatriotas". Segue ...
O Brasil pode "dobrar a atual produção com sustentabilidade, seja em áreas já utilizadas, seja recuperando pastagens degradadas, não necessitando de novas áreas. Toda a produção nacional tem controle de origem", diz o @Mapa_Brasil.
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É capaz que o presidente Bolsonaro, seus ministros e apoiadores atribuam a uma agenda ideológica a decisão francesa de – certamente não hoje, mas em algum momento – parar de comprar soja brasileira, como anunciado hoje por Macron. Não é ideológico, pelo seguinte:
Qualquer pessoa minimamente informada sobre a política e a sociedade europeias hoje sabe que não existe tema mais importante na agenda do continente do que a questão ambiental. Todo político europeu, incluindo Macron, precisa atender ao lobby ambiental se quiser sobreviver.
Era óbvio que a forma como Bolsonaro vinha lidando com as queimadas na Amazônia e no Pantanal traria consequências econômicas negativas para o agronegócio brasileiro, e é impossível que a diplomacia brasileira não tenha detectado e reportado esse risco ao Planalto.
Não consenso entre constitucionalistas americanos sobre se Trump pode sofrer um processo de impeachment mesmo depois de deixar o mandato, em 20 de janeiro. Dou dois exemplos de argumentos: 1/5
Michael Gerhardt, professor de direito na Universidade da Carolina do Norte e autor de diversos livros sobre impeachment nos EUA, argumenta que, sim, é possível tocar um processo de impeachment mesmo depois de o presidente ter concluído o mandato. 2/5
“Presidentes podem cometer delitos a qualquer momento do mandato, inclusive nos últimos dias”, diz Gerhardt. “Membros do Congresso podem perder o interesse em julgar um ex-presidente, mas essa é uma escolha política, e não uma diretriz constitucional.” 3/5