A capacidade do presidente Bolsonaro de se esquivar de responsabilidade no meio da pandemia é impressionante. E o pior: essa narrativa funciona com os seus apoiadores. (+)
Essa pandemia tá longe de ser uma situação padrão de Estado, então quando ele afirma em momentos de crise que "fez tudo ao alcance do seu governo" é baseado em quais parâmetros? Qual outra experiência desse alcance nós tivemos pra saber se isso é plausível? (+)
A história de que o STF "tirou a sua responsabilidade" é o maior exemplo. A decisão era clara de que o governo não poderia agir de forma UNILATERAL nas restrições, mas em conjunto com estados e municípios não só tava permitido como era essencial. (+)
Bem no início da pandemia apesar de sempre criticar as decisões de alguns governadores, Bolsonaro afirmou algumas vezes que a ideia das restrições era pra achatar a curva e que o pacto federativo deveria ser respeitado. (+)
Acabou que a decisão do Alexandre de Moraes que visava manter ações em acordo com o que todos os especialistas recomendavam para combater disseminação do vírus, se tornou de forma distorcida a desculpa que o Bolsonaro sempre quis para não se responsabilizar. (+)
Dessa forma ele continuou vendendo um tratamento ilusório contra a Covid-19 invertendo o ônus da prova. Quem deveria mostrar a eficácia era ele, que estava sugerindo algo enquanto todos os estudos sérios demonstravam a ineficácia da cloroquina e outros medicamentos. (+)
Com isso ele montou a sua narrativa calcado em duas bases: utilizou diversos exemplos próximos a ele que se trataram com cloroquina e se recuperaram, e o exemplo da África Subsaariana para tentar dar aquele verniz de base científica para o argumento. (+)
A primeira base simplesmente não possui sustentação factível e utiliza uma falsa interação entre correlação e casualidade. E a outra simplifica uma situação que depende de N fatores e difícil de ser rebatida tamanha a complexidade de se comprovar a efetividade das ações. (+)
Dessa forma ele inverteu o ônus da prova e passou a desafiar quem era contra o tratamento precoce, comprovadamente ineficaz, a mostrar uma outra solução que todos sabemos que não existe. A partir do momento que você não tem o que mostrar, o argumento falacioso ganha força. (+)
Ai caímos no dilema do distanciamento social ou lockdown. Todos sabíamos que a ideia dele era mitigar o problema e não resolver. Como fica quase impossível mensurar quantas vidas foram salvas com o isolamento, ele novamente inverte a lógica. (+)
Passa a dizer que a sua solução miraculosa foi responsável por salvar milhares de vidas e que muitas outras poderiam ter sido salvas caso não tivessem "tirado o seu poder", ao mesmo tempo em que põe em xeque a eficácia do isolamento social já que muita gente morreu. (+)
Toda essa narrativa construída foi vendida para um público que desde a sua eleição gosta de soluções simplórias e milagrosas sem se importar o quão factível elas são. Ele entregou justamente a esperança que elas queriam e se manteve anti-establishment. (+)
O segundo grande exemplo foi a crise em Manaus. Novamente ele usou o discurso de que o "seu governo fez tudo que estava ao seu alcance" e que ao saber do problema da falta de oxigênio mandou imediatamente o seu ministro pra lá. (+)
Acontece que o ministro ao chegar no local quis empurrar tratamento precoce pra todo mundo, um aplicativo criminoso e a questão do oxigênio só se movimentou pra resolver dias depois, quando a situação estava surreal e o clamor popular enorme. (+)
Nesse momento novamente começa uma mudança de narrativa. Abandona-se o "estou de mãos atadas com estados e munícipios" para "fui o salvador". Quando uma crise desse tamanho estoura, qual o único ente federativo com poder e tamanho para resolver? O governo federal. (+)
Então é natural que quando uma catástrofe ocorra, o governo central precise agir. Não que ele não deveria ter feito algo antes, como falei lá no início nunca tivemos uma pandemia nessa proporção, então o governo federal deveria coordenar todas as ações desde o início. (+)
Então passou-se a usar um argumento válido de sucateamento histórico e de que estados e municípios são os responsáveis por cuidar da saúde na linha de frente, para aliviar a barra do governo federal como se ele não fosse corresponsável por isso também. (+)
Ao mesmo tempo em que foram propagandeadas as ações emergenciais (que obviamente só ele teria capacidade de fazer) se vendeu a ideia de que o governo é apenas um hub distribuidor de dinheiro para estados e municípios e nada mais. (+)
Com isso o presidente e seu governo construíram uma narrativa e a venderam para seus apoiadores de que a única culpa da situação que ocorreu em Manaus foi do governador do Amazonas, do prefeito, da corrupção e de quem mais você quiser escolher. (+)
O governo federal por sua vez fez o papel dele que era destinar recursos e entubar cloroquina em todo mundo. As demais ações foram realizadas não por ser a obrigação dele também, mas porque o presidente é honesto e ajudou a população quando mais ela precisou. (+)
Ao mesmo tempo a comunicação do governo vem divulgando os recursos destinados aos demais Estados como uma forma já de se precaver de futuras contas que obviamente serão cobradas dele também. (+)
Além disso em TODAS as mensagens governamentais a figura do presidente é utilizada como a central. Soma-se a isso o fato de que seus apoiadores renegam a imprensa tradicional e consomem tudo divulgado por ele, a verdade do Bolsonaro passa a funcionar com quem precisa.
Bom, a thread ficou muito maior do que eu tava imaginando e espero que pelo menos ela tenha feito algum sentido pra vocês hahaha
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Motivos pelos quais a Elsa (Frozen) seria uma governante melhor do que o Bolsonaro durante a pandemia, apesar de ser uma monarquista.
A THREAD
01 - Elsa possui mais de uma década de experiência forçada de isolamento social, e apesar de todo trauma causado pelos seus pais sem noção, soube como salvar Arendelle. Saberia orientar os cidadãos nesse sentido.
02 - Ela conseguiu construir um castelo de gelo em 2 min, sem custos para os cofres públicos. Imagina equipamentos para enfrentamento do vírus?
Mandetta na Globonews nesse momento. Vamos acompanhar...
Na primeira fala já chegou dizendo que essa terrível marca de 180 mil mortes é de responsabilidade do Bolsonaro e falou que tentou de tudo pra convencer o fungo e não conseguiu.
O Ministério da Saúde está completamente sem norte.
Isso só foi possível graças ao planejamento que fizemos nos bastidores, que começou ainda em Setembro, e com a participação de todos do MIDCast Política.