Agora vou contar a história de como o pobre imigrante japonês Sukeji "George" Morikami se transformou num dos mais generosos milionários do Sul da Florida. A vida de George foi uma montanha russa inacreditável! Vale um filme. Vem como curtir essa história incrível.
Em 1906, aos 19 anos, Morikami se apaixonou por uma moça no seu vilarejo na Japão. Pobre, os pais dela não deixaram o romance prosperar. O jovem japonês ficou profundamente triste e deprimido. Aí apareceu uma oportunidade de ouro! Um negociante japonês radicado na Flórida fez uma
proposta para o jovem Sukeji: “Pago a viagem, dou casa, comida e roupa lavada (neste caso, provavelmente não, mas tu entendeu). Tu trabalha para mim por três anos. No final do contrato, te pago 500 dólares e mais a passagem de volta!” Em 1906, 500 dólares era
um baita dinheiro. Morikami pensou: “Hummm! Fico três anos fora, ganho um dinheiro que não ganharia aqui em 10 anos, volto e quero ver recusarem o casamento com meu amor.” E lá veio ele para a América! Desembarcou na Costa Oeste e passou dias viajando de trem até a Flórida.
O jovem trabalhou duro plantando abacaxi e alguns tomates. Quase no final do contrato, quando estava quase retornando ao Japão, adivinha? O negociante japonês morreu. Não havia contrato. Morikami ficou sem lenço, sem documento, sem os 500 dólares e sem a passagem para voltar.
Morikami nunca mais deixaria a Flórida. Ele se pôs a trabalhar de novo. Pouco a pouco foi adquirindo terras. Mas a vida não era só trabalho! Morikami arrastou asa para uma imigrante alemã. Ou ela se encantou com aquele rapaz robusto! Enfim, se enrolaram. Não houve casamento.
Mas aí, adivinha? Seis meses após viverem juntos, ela adoeceu e morreu. Pá, pum! Morikami superou o luto enfiando a cara na plantação de abacaxi! Aliás, a vida dele e abacaxi, metaforicamente, combinavam. E de-lhe comprar terra e plantar e plantar. Ficou ricaço nosso imigrante!
A vida seguia seu curso, Morikami tinha uma boa extensão de terra e dinheiro no banco! Quis doar cerca de 80 hectares para a prefeitura para fazer um parque. O prefeito recusou! “Quem esse japinha pensa que é para doar terras pra gente?” Morikami ofereceu então ao Estado.
O governador riu! “Quem esse japinha pensa que é para oferecer terras ao Estado?”, teria comentado entre os seus alvos assistentes. Para completar, adivinha? Veio o crash da Bolsa de 1929 e plau! Morikami perdeu quase todo o dinheiro e, com isso, suas terras para saldar dívidas.
Levantamentos apontam que “George”, como ele passou a se apresentar, perdeu algo como 250 mil dólares em 1929! Era dinheiro pra caramba! Mas muito! Bom, sobraram alguns hectares e lá se pôs o jovem imigrante a fazer o que fazia de melhor: plantar abacaxi e tomates. E progrediu!
Morikami abriu uma fábrica para processar os abacaxis e os tomates, além da venda in natura! Vendeu para quase todos os Estados Unidos. Com o dinheiro fez o quê? Claro, comprou terra! E de-lhe plantar. Estava tudo bem, tudo bom. Dinheiro no bolso, mas aí, adivinha?
Veio a II Guerra Mundial e com ela Pearl Harbor! Os japoneses atacaram os EUA. “George” que havia desembarcado na América aos 19 anos em 1906, já tinha 56 anos! Morava nos EUA a mais tempo, 37 anos, do que havia morado no Japão! Mas não teve conversa!
Os militares americanos tomaram a maior parte das terras dele e transformaram em base área. Ele foi mandado para um “campo de concentração”, dentro dos EUA, junto com outros japoneses. Estes campos são controversos porque serviram para isolar os japoneses da xenofobia americana
por causa de Pearl Harbor e também porque alguns se entusiasmaram com o Eixo, assim como aconteceu com alemães e italianos. Enfim, não é nosso tema aqui. Mas para se ter uma ideia do tanto de terra tomada de nosso querido George, hoje
nestas terras estão um aeroporto municipal e a FAU, uma das maiores universidade públicas da Flórida. Há controvérsias sobre se houve indenização no pós-guerra e se elas foram justas! Mas ok. Acabou a guerra e George seguiu o baile. Juntou o que sobrou, foi plantando abacaxis e
tomates. Apesar de tudo, veja que alma evoluída: ele continuou oferecendo aqueles 80 hectares para a prefeitura e para o Estado fazerem um parque. Ambos continuaram recusando. O tempo passou e George, aquele simpaticão milionário, finalmente caiu nas graças dos políticos.
Apenas em 1967, 61 anos depois de colocar o pé nos EUA, o país concedeu ao nosso valente imigrante a cidadania americana! Ah, George era agora um americano de origem japonesa e um próspero homem do agronegócio! O prefeito de Del Rey Beach não só aceitou as terras que George
oferecia há mais de 20 anos como também lhe deu um diploma de “Prefeito Honorário”! Tudo o que George queria em troca era um parque com museu que mostrasse a cultura japonesa e como foi a vida dos primeiros imigrantes japoneses que povoaram a zona de Boca Raton!
E assim foi feito! Já estamos nos anos 70, aí por 1974. Começaram as obras e tal. O homem era uma felicidade só! Ele disse: “Cheguei nesse país sem nada. Fiz fortuna. Agora devo deixá-lo sem nada também”. Mas adivinha? Menos de um ano antes do parque ser inaugurado,
nosso Sukeji George Orikami morre. Era 1976. Ele não conseguiu ver pronto o parque que coroaria a homenagem aos imigrantes e à cultura japonesa, ao fim e ao cabo, a ele mesmo. Conforme seu pedido, foi cremado. Parte das cinzas foram enviadas ao Japão, para sua cidade natal
onde há um monumento em sua homenagem por bem representar seu povo. Seus sobrinhos, nosso herói não deixou filhos e esposa, não quiseram nada de seus bens. Talvez tenha sido o troco nos arrogantes políticos que por décadas esnobaram o jovem Morikami. Parte de suas cinzas ficaram
nos EUA para um monumento no parque tão sonhado por ele. Mas você não vai acreditar! Adivinha? Algum burocrata perdeu as cinzas de George que ficaram nos EUA! Anos se passaram! Só nos anos 80, no fundo de um armário, havia uma gaveta esquecida num almoxarifado e lá estavam as
cinzas restantes de George, que finalmente ganhou seu monumento no parque que leva seu nome, nas terras que ele doou, depois de chegar aqui sem lenço, sem documento, mas com muita vontade de vencer. Essa foi sua última foto.
Hoje existe o Morikami Museu, num parque que remete ao Japão. É lindo. E meus filhos imigrantes aproveitaram deste espaço hoje. Como imigrante nestas plagas também, pago aqui meu tributo ao pioneiro japonês. Obrigado, Sekeji George Morikami. Fim.
*comigo

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31 Jan
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“O parecer da corregedoria afirmou que a conduta da juíza é repreensível do ponto de vista ético-funcional e é grave no contexto excepcional de epidemia. Segundo o parecer, (segue) conjur.com.br/2021-jan-27/tj…
(...) “ultrapassa a esfera particular e atinge o interesse público na medida em que a Magistrada orienta a como descumprir determinações impostas pelo poder público".
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27 Jan
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26 Jan
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3) Entao, entendo que as quantidades e tipos de alimentos, bem como sua finalidade, devem ser escrutinados sim.
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26 Jan
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