Rapaz, lendo aqui a história do Bradford City no excelente "Punk Football" de @Jim_Keoghan, é basicamente um prenúncio do que vai acontecer no Brasil se continuarem com essa MALUQUICE de MP de Direito do Mandante sem diálogo entre clubes ou formação de Liga.
Keoghan cita Tom Cannon, da University of Liverpool, sobre as 3 coisas expõem o nível surreal do risco que envolve a indústria do futebol: 1) o abandono de um proprietário; 2) o rebaixamento "inesperado" (que ocorra mesmo com alto investimento; e 3) colapso de um acordo de TV.
Ele entra nessa discussão - no capítulo com o sugestivo nome "Navegando em um mar de dívidas" - por causa dos números assustadores que ilustram a situação financeira dos clubes ingleses: 36 pedidos de recuperação judicial APENAS ENTRE 2002 e 2011.
O caso do Bradford City reúne os três problemas em um só: subiram para a Premier League em 1999, se salvaram do rebaixamento em 2000, e resolveram aumentar a aposta em 2001: não adiantou, caíram com campanha vexatória e estádio vazio. Bomba de dívidas para o ano seguinte.
Já seria uma situação catastrófica por si só: um clube modesto buscando igualar competitividade contra grandes clubes, para manter o status da primeira divisão. Coisa muito comum em todo o mundo. Mas é pior, porque há o fosso entre EPL e Championship.
O que acontecia em 2002 agravaria o problema: o consórcio criado pela Carlton Television, Granada e BSkyB, vencedor dos direitos de transmissão dos torneios da segunda, terceira e quarta divisão simplesmente QUEBROU.
Como?
Apostaram que conseguiram manter a oferta de £351 mi com a venda massiva de pacotes de jogos pay-per-view. Não aconteceu, dentro do mesmo erro de sempre:
SUPERESTIMAR O APETITE DO CONSUMIDOR.
O consórcio quebrou enquanto devia metade do prometido.
Quem pagou a conta? Os jogadores? Os empresários deles? Não. Os torcedores, porque os proprietários dos clubes quebrados levaram suas dívidas para a justiça e, na melhor das hipóteses, acharam o "fiador" - um novo comprador interessado em reeguer o clube. O Sunderland de hoje.
O que estamos passando no Brasil da "MP do Direito de Mandante"? Clubes gerando uma situação de ALTO RISCO na sua PRINCIPAL RECEITA, em um contexto de CRISE GENERALIZADA provocada por uma PANDEMIA, a troco de que? De apostar no apetite do consumidor por "novas plataformas".
O mantra de qualquer atividade empresarial é mitigar riscos, mas tem muito especialista elogiando a caminhada do futebol brasileiro para o desconhecido. Ainda esse ano o tema dos direitos de transmissão derrubou a receita dos clubes franceses pela metade.
Também já foi motivo de crise no futebol alemão por volta de 2000/2001. Os direitos de transmissão estavam na mão da KirchSport, que foi à falência, deixando clubes sem a receita de TV. Crise que só foi contornada com uma linha de crédito estatal criada para socorrer os clubes.
Mas o que aconteceu na Inglaterra, França e Alemanha não foi necessariamente culpa dos clubes. No Brasil será, porque os dirigentes estão todos ávidos por um almoço no Palácio do Planalto e o presidente do país está ávido para prejudicar uma adversária política.
Todo mundo vai quebrar? Óbvio que não. Mas vai ter muito clube vítima do efeito colateral dessa ideia irresponsável de colocar a fonte de receita mais importante do futebol atual em um verdadeiro cassino. O Bradford City parou na terceira divisão.
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Cada vez mais convencido que o futebol dos anos 1990 foi uma grande chapação coletiva, um delírio de que esse era um mercado extremamente lucrativo e saudável. Quase todos "investidores" saíram do negócio alegando a mesma coisa.
Eu não consigo me acostumar com a possibilidade de assistir, com mais 6 pessoas, um campeonato de Fut7 na Rússia, com partidas simultâneas em campos GRUDADOS um no outro.
Brave New World.
Inclusive é bem provável que encontre um aplicativo que me permita apostar nesse jogo, um gol do camisa 7 do time vermelho no primeiro tempo.
Como eu cheguei nisso? Procurando jogo da nossa briosa Série D, o América-RN, campeão do Nordeste de 1998, precisa vencer o Coruripe pra passar de fase.