Ok, vcs venceram, vou responder à enigmática desaforada questão “O que é esquerda então pra você”. Se segura no fio e não escorrega. +
No começo é simples: se vc defende liberdade e igualdade políticas vc é um democrata; se, além disso, considera que uma sociedade justa é aquela é em que também há igualdade social, vc é um democrata de esquerda. Isso é tudo o q nos une e não é pouco. +
Continuando: se vc considera que a igualdade política precisa produzir igualdade ou justiça sociais, vc acaba considerando tb que a forma institucional da comunidade política, o Estado, deve ser um instrumento básico para a promoção da justiça social. Esquerda ñ é antiestatista+
Quanta igualdade social é essencial haver, quanto o Estado precisa se empenhar nisso, se se trata de igualdade de bens ou igualdade de oportunidades... tudo é discutível e variável. E ninguém deixa de ser esquerda por adotar um padrão diferente de respostas, ok? +
Mas começa a complicar: se o seu modelo de sociedade é baseado em igualdade social, mas vc dispensa, para tanto, a liberdade e a igualdade políticas, vc continua de esquerda, mas não é democrata, é um totalitarista. Nem toda esquerda é democrática, melhor não esquecer. +
Isso é a esquerda democrática em sua versão essencial. Mas aí temos a esquerda de 2ª geração. A esquerda 2G, socialista, que s forma a partir dos anos 1830. Que acrescentou umas coisinhas: 1) A democracia autêntica, acredita, tem que ser direta (contra o Governo Representativo)+
2) todas as forças autênticas sociedade estão na base social (basismo); 3) Propriedade e lucro são anátemas, pois frutos do sangue do trabalhador (anticapitalismo); 3) alinhamento e simpatia automáticos com as formas de luta dos trabalhadores (trabalhismo); +
E, por fim, 4) igualdade política e liberdades são menos importantes do que a igualdade social;
As circunstâncias da sua formação histórica são a luta contra o capitalismo e contra o fascismo, por isso a esquerda 2G tende a ser hiperdefensivas, persecutórias e dogmáticas. +
Mas há outras gerações de esquerda, viu? 3G, 4G etc. Em q acredita? Justiça social, sim, mas sem abrir mão de nada de liberdades e igualdade políticas; não pensa em termos de base social classista, mas de minorias políticas e de proteção de direitos dos grupos mais vulneráveis+
Não é anticapitalista, mas acha que igualdade política e a justiça social são um compromisso fundamental; Prefere o iluminismo (não conservador, cosmopolita e sensível a direitos) que o socialismo. +
Tem mais interesse na igualdade de oportunidades do que na distribuição igualitária de bens; Defende simultaneamente a igualdade de direitos, a dignidade política e a liberdade das diferenças humanas +
Por fim, acha a esquerda 3G e 4G acreditam que diferenças não podem significar desigualdade, a igualdade é fundamento do respeito às diferenças.
É isso, vc não precisa ser marxista para ser de esquerda. Há outras esquerdas além da convencional 2G, do séc XIX.
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Do ponto de vista da propaganda, "tratamento precoce" é um sacada genial. É um engodo, claro, pois comprovadamente nada trata, mas dá a impressão de que é uma cura eficaz, desde q "precoce". Quem o prescreve entende porra nenhuma de vírus, mas saca muito de psicologia social
A ideia de que existe uma coisa como "tratamento precoce" é tranquilizante na angústia e, sobretudo, esconde o vazio de ideias e a inação do governo. Não pressionem nem fiquem com raiva ou medo, é só fazer "tratamento precoce".
Num país em que se toma antibióticos como se toma suco de laranja, a automedicação não é desafiada. Pode ser com remédio de vermes, biotônico, homeopatia ou sangue de galinha preta, nós simplesmente adoramos curas aleatórias. Por isso prosperou aqui o tal "tratamento precoce"
Vejo pessoas reclamando da insensibilidade das pessoas que fizeram festas e ignoraram as medidas sanitárias qdo a pandemia piora de novo. Pois eu leio de outro jeito: eu acho um milagre que tanta gente tenha sido convencida a ficar em casa, a ter empatia, a aguentar + um pouco
Essas são as pessoas que aderiram ao enquadramento "seu isolamento de protege do risco da morte e ajuda o fim da doença". Para mim, é um milagre que tanta gente tenha aderido a ele, graças à OMS, à mídia, às autoridades da área de Saúde (e à revelia de certos presidentes).
Pois basta que um moleque faça as contas e ele vai perceber que 0,1% da população brasileira morreu de Covid-19. Esse número, de um ponto de vista de uma escolha racional, não amedronta ninguém. Muito menos um sujeito com alto senso de invulnerabilidade ou baixa empatia social
A pergunta central que fazem é justa: "quais condições institucionais contribuem para que o tribunal alcance as melhores decisões possíveis?. Mas vale em geral para a democracia, trocando "tribunal" por "governantes". Eles acham que o "ao vivo" não ajuda, eu discordo
Tb acho que governantes não eleitos pela massa popular, sem obrigação de lhes prestar conta nem de decidir "sob o sol" (a Ágora ateniense) poderiam, em princípio, tomar melhores decisões. Para que serve a publicidade, então, de Clístenes a Kant, de Bentham a Habermas?
Serve para constranger os que tomam decisões. Um utilitarista diria que o sujeito só realmente considera o bem comum se estiver sob o chicote do olhar público. Não vou discutir em profundidade o ponto aqui, mas os autores conhecem a literatura tanto quanto eu.
Quem diz platitudes como "fake news sempre teve e sempre terá" não entende o que é isso e confunde com notícia mal apurada ou parcial. Não é. 1º) fake news é mais uma falsa informação do que uma informação falsa. A falsificação é dupla: é um falso relato sobre um fato falso
2º) fake news têm como propósito a manipulação política. Por isso elas politizam tudo: questões sanitárias, ciência, economia, comportamento, jornalismo, decisões judiciais, religião. Não se falsificam fatos e notícias por nada, mas para unir a facção e atacar os inimigos
3º) Fake news se explicam pelo surgimento da nova extrema-direita, que nasce digital, e que: a) é hiperidentitária (a identidade tribal é decisiva), b) baseada em conflito perpétuo e aguçado e c) convencida de que tudo vale na disputa por narrativas e enquadramentos de fatos
Distribuição ideológica dos partidos brasileiros. Pegue 4 caixinhas. Lembre-se que tudo começa com Arena e MDB. Na 1ª caixa põe MDB e os “autênticos do MDB”, o PSDB. Também o PPS, linha auxiliar dos tucanos. Até 2012 coloque o rótulo Antigo Centro. Em 2016, mude p/ Nova Direita
Pegue a 2ª caixa e coloque o PT, PDT e PSB. Acrescente Psol e Rede, se houver. Até 2012, o PV entra aí. No rótulo escreva Esquerda. É uma caixinha pequena, pinte de vermelho.
Na 3ª caixa, junte os pedaços maiores da Arena. Insira aí, então, o DEM e o PP e acrescente o PL(PR) e o PSD. Escreva no rótulo Direita Um (Arena 1) ou Direita Fisiológica Clássica. Deixe espaço livre, está crescendo.
Não importa o resultado da eleição paulistana, superou-se algumas provas de conceito importantes para a esquerda: 1) há saídas à esquerda sem que o PT esteja no centro de tudo. Boulos/Erundina é um case de sucesso de um articulação de esquerda não ptcêntrica,
2) A afeição demonstrada por Erundina, uma política da esquerda tradicional, mostra que as pessoas sabem distinguir e reconhecer o valor da esquerda íntegra, coerente e honesta. Pelo visto, ela passou incólume pela tempestade e continua de pé e respeitada.
3) A esquerda é digitalmente obtusa, mas isso não é destino, é escolha. A equipe de comunicação de Boulos e o próprio candidato fizeram uma campanha digital nota 10 e não precisaram recorrer a fake news, teorias da conspiração e discurso de ódio. Um show.