Thread by @augustodefranco

😷

POR QUE É PRECISO AGIR AGORA

1 - Quando um populismo (de esquerda ou de direita) chega a ultrapassar 20% de audiência é sinal de que já há um processo de autocratização em curso.

2 - Se, no entanto, dois populismos (de esquerda x de direita) polarizarem a cena política, cada qual com mais de 20% de audiência, então é porque a democracia já foi envenenada. Pode até não morrer, se encontrar a tempo um antídoto eficaz.

3 - Todavia, se um processo eleitoral é antecipado, colocando em confronto dois populismos, cada qual com mais de 20% de audiência, então são quase nulas as chances de evitar a vitória de um dos polos se as demais forças não-populistas ficarem esperando o desfecho das eleições.

4 - Pode-se sempre apostar todas as fichas na loteria do calculismo eleitoreiro, mas a probabilidade de vitória é semelhante à de ganhar na loteria mesmo.

5 - Nestas circunstâncias, só algum movimento que desarrume a arranjo das forças políticas, desalinhe os blocos em formação e altere a configuração do ambiente onde se dá a disputa, pode nos livrar da dependência da trajetória recente.

6 - Um movimento desse tipo não pode surgir apenas a partir da vontade dos atores não-alinhados aos polos em disputa. É necessário que haja condições políticas objetivas para a sua deflagração.

7 - É necessário que esteja presente uma ameaça tão grave que seja capaz de mobilizar a indignação das pessoas comuns, independentemente de suas preferências eleitorais ou partidárias.

8 - No Brasil existem atualmente essas condições objetivas com a tragédia dos mais de 11 milhões de infectados e quase 300 mil mortos pelo SARS-CoV-2 e da condução criminosa do enfrentamento à pandemia por parte do atual governo.

9 - Essa janela de maior fragilidade de Bolsonaro - e de oportunidade de parar a sua obra de destruição de vidas e de depredação da democracia - está aberta agora, com o agravamento da segunda onda do novo coronavírus, mas pode se fechar no início do segundo semestre.

10 - Portanto, o momento é propício para que um conjunto de atores políticos democráticos, não-populistas, de forma pluripartidária ou não-partidária, se apresente à nação exigindo o fim da matança em curso e dos ataques cotidianos ao regime democrático.

11 - Antes de qualquer coisa, Bolsonaro tem que ser declarado, por esse conjunto de democratas, como um presidente ilegítimo - não porque não tenha sido eleito legitimamente e sim porque não governou legitimamente.

12 - Bolsonaro não governou legitimamente porque está colocando em risco vidas humanas que deveria proteger e ameaçando a paz social, a harmonia entre os poderes os demais fundamentos da democracia.

13 - Essa declaração de ilegitimidade deve desencadear uma ação da cidadania pela vida e não deve anunciar um nome particular para concorrer às eleições de 2022. É uma intervenção no trágico presente em que vivemos em 2021.

14 - É uma recusa a manter no poder, por mais de vinte meses, um facínora cujo tempo restante de governo não se pode mais contar apenas em número de dias, mas em vidas humanas (às centenas de milhares).

15 - Um tempo para ser contado em devastação do meio ambiente, em extinção de direitos de populações tradicionais, em destruição dos sistemas públicos de saúde e educação, em desvirtuamento da segurança pública, em desmoralização das forças armadas e policiais.

16 - Um tempo para ser contado em uso privado e escuso dos aparatos de segurança, informação e controle do Estado, em desproteção aos mais pobres e aos pequenos e médios empreendedores, em negação de direitos de minorias sociais.

17 - Um tempo para ser contado em degeneração e aparelhamento das instituições democráticas, em ataques à imprensa, em estímulo ao caos para instalar um guerra civil que jogará brasileiros (que o atual presidente quer armar) contra brasileiros.

18 - Tudo isso tem que ser parado agora. Um presidente que promove esses malfeitos tornou-se ilegítimo e não pode ser mantido no poder para que complete sua obra de destruição. Bolsonaro deve ser instado a renunciar, ser interditado ou sofrer um processo de impeachment.

19 - Se os deputados federais e os senadores não vão assumir a liderança desse movimento, a sociedade deve fazê-lo.

20 - Esse movimento amplo não pode recusar quem queira apoiá-lo, mas também não pode servir de palco para que uma força neopopulista de esquerda substitua a força populista-autoritária e reacionária de extrema-direita.

21 - Essa troca não convém à democracia. Não se pode substituir o populismo que está no poder por outro populismo, iliberal e majoritarista, que já esteve no poder e que pretenda reeditar a maligna dinâmica do "nós" contra "eles".

22 - Sim, não podemos recolocar no poder uma força política que se baseia numa visão de que a sociedade está atravessada apenas por uma clivagem que opõe o povo às elites e um líder que queira falar como único representante legítimo do povo.

23 - Por isso, um movimento desse tipo deve ser lançado e impulsionado pelas forças democráticas não-populistas que, conquanto agora dispersas, ainda constituem – como mostraram as eleições municipais de 2020 – a maioria da nação.

24 - Deixar a oportunidade passar, deixar essa janela se fechar, é se render à marcha insana de derruição da vida e da democracia que prosseguirá avançando se nada for feito. É preciso agir agora. Em 2021. Não ficar esperando 2022.