Olá, pessoal! Vi que algumas pessoas ficaram, quase que ao mesmo tempo, dizendo que havia mais uma "cidade mágica" onde a COVID-19 não atacava. Dessa vez era São Lourenço, em MG. Fui dar uma olhada pra ver. Sigam o fio: 🧶//1
A primeira coisa que fui olhar, antes de tudo, foi a mobilidade, para ver como a cidade estava em relação ao pré pandemia. Percebi que a mobilidade de transporte público e comércio se manteve baixa desde janeiro. //2
Também percebi que teve um grande aumento em mercado e farmácias e, desde o final de fevereiro, uma pequena queda em residências e um aumento de locais de trabalho, como se a cidade tivesse "saído do período de férias". //3
O que isso normalmente quer dizer? Que se havia uma queda de casos devido a essa mobilidade baixa, esse aumento súbito em locais de trabalho há mais de 15 dias pode indicar uma mudança de fluxo da população, trazendo uma reversão de tendência. Pois bem, o que aconteceu? //4
Percebam que os casos vinham com uma queda na taxa de crescimento (consistente com a mobilidade menor) e aí, aproximadamente 14 dias depois do aumento de mobilidade (vejam só), tem um salto considerável em casos, que faz a taxa de crescimento reverter a tendência. //5
Óbitos também já começaram a aparecer (infelizmente, não há milagre). Isso tudo veio das notificações do ministério da saúde, ou seja, há atraso. Eu até fui atrás de São Lourenço a imaginando como um outlier (ponto fora da curva) ou uma exceção, mas infelizmente nem isso é. //6
O que eu vi também, é que São Lourenço é uma cidade turística. Em cidades turísticas, muitos dos contaminados não residem na cidade. Pegam, ficam mal, e voltam para as suas cidades. Vi isso em Gramado, em Búzios também. Se virar uma exponencial, aí pega os residentes também. //7
Por isso, se tem alguém de São Lourenço que me segue: se cuidem, façam distanciamento, usem máscara, façam a higienização, e peçam para os responsáveis pensar em cortar o surto atual, que pode piorar.
Seguindo a dica do @msoares, fui atrás dos dados de SRAG de São Lourenço, e vejam o que temos no SIVEP (atualizado hoje, com dados até 15/03): De 21/02 para cá, 6 pacientes RESIDENTES em São Lourenço com SRAG confirmada ou suspeita para COVID-19 e internados EM São Lourenço:
Também verifiquei todos os pacientes com SRAG, independente da causa, e temos 11, todos residentes em São Lourenço, mas 9 internados em São Lourenço, 1 em Belo Horizonte e 1 sem preenchimento de município de internação.
Inclusive, a frequência de internações começou a aumentar nos últimos dias, condizente com o que os dados de notificação nos mostram, uma reversão de tendência. Percebemos que cidades turísticas possuem uma mobilidade menor em locais de trabalho/transporte público.
Acredito que isso mostra que não é real a informação de que não tiveram mais nenhuma internação de residentes a partir de 21/02, ou digitaram tudo errado no SIVEP.
Abraços a todos!
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Oi, pessoal. Vou fazer uma atualização rápida das situações das regiões e dos estados brasileiros para que possamos ver juntos qual o tamanho dessa onda (é grande😔). Sigam o fio: 🧶 //1
Olhando o gráfico do Brasil vemos que continuamos com tendência de crescimento tanto de casos como de óbitos, e que a média móvel da taxa infelizmente continua apontando pra cima. Pra mudar isso hoje, só com restrições de mobilidade. //3
Pessoal, um ponto importante que eu acredito que valha a pena abordar: estamos em uma época dura (a mais dura até aqui), e ver tantas internações, histórias de hospitais e, principalmente, óbitos (cada vez mais perto) nos modifica em algumas coisas. Sigam o fio: 🧶 //1
O que estamos vendo ao nosso redor pode causar ansiedade, pânico, e até desespero em algumas pessoas. Temos de nos ajudar e nos confortar. O desespero não é algo simples, não é apenas choro, e ele traz um comportamento consigo: //2
Ele faz com que queiramos muito, muito, achar boas notícias: isso nos deixa mais permissivos com algumas notícias que ainda são muito incipientes, ou seja, estão em fase inicial. Vemos algumas notícias que não estão nem em um preprint e já saímos celebrando. //3
Mais de 2.200 óbitos notificados nas últimas 24 horas. Estamos novamente flertando com o crescimento exponencial. Na primeira onda, conseguimos frear o exponencial, e foi por pouco: 1,6% a menos na taxa de crescimento diário: redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/09/04/o-e… 🧶//1
O professor @PauloLotufo me lembrou bem que eu havia, ainda em agosto, escrito este texto, junto com a @laribrussa, e fez uma síntese muito boa aqui:
O que isso quer dizer? Que lá na primeira onda, graças a muitas pessoas que ficaram em casa e reduziram a taxa de transmissão, transformamos um crescimento exponencial em um crescimento linear. 1,6% a menos ao dia. na taxa de crescimento evitou mais de 1 milhão de mortes. //3
Pessoal, só em Porto Alegre existem 185 pessoas confirmadas com COVID-19 aguardando UTI.
Faço um apelo: busquem esses dados junto aos seus municípios. Além da ocupação, precisamos saber qual a velocidade de crescimento de novos doentes, para entender se há desaceleração. //1
Isso que vou falar pode parecer óbvio, mas para muitas pessoas não é: no momento em que há o esgotamento do sistema de saúde e não monitoramos o número de pessoas aguardando leitos, as internações em UTI "param de crescer" simplesmente por não ter mais leito. //2
Essa informação é importante para que possamos entender quais os efeitos das restrições de mobilidade atuais em cada local. Restringir mobilidade é duro e difícil, então NÃO DÁ PARA ERRAR. //3
Oi, pessoal. Hoje foi bem difícil, mais do que o habitual, mas atualizei os dados. Ver o resultado de meses de alerta acontecendo deixa a gente meio abalado, né? Sigam o fio para ver como está a epidemia aqui no país: 🧶 //1
Primeiro vamos dar uma olhada no Brasil como um todo. Percebemos casos E óbitos subindo, ultrapassando os dois pontos máximos anteriores. Percebam que a queda leve de casos de janeiro nem apareceu nos óbitos. Isso é provavelmente devido aos colapsos (aumenta a mortalidade). //2
A média móvel da taxa de crescimento de casos, que já era positiva, começou a crescer a cada semana. Como eu calculo isso em cima de casos notificados, e não temos como notificar a mais (só a menos, devido ao atraso), isso significa que a situação é *no mínimo* ruim assim. //3
Oi, pessoal. Fiz a atualização das taxas de crescimento e vou dividir em dois fios: este aqui para as regiões e os estados, e outro depois para os municípios que me foram solicitados. Sigam o fio que a notícia não é boa...🧶 //1
Acredito ser importante contextualizar a situação atual. Em um super resumo: Tivemos uma queda um pouco mais sustentada de casos em agosto, em setembro aumentamos mobilidade, tivemos reversão de tendência na virada pra outubro, aumento sem controle até dezembro... //2
...pequena queda de mobilidade em janeiro também seguida por pequena queda de casos e depois, em fevereiro assim que a mobilidade volta ao normal, temos o que parece ser o início do tsunami previsto ainda lá atrás. //3