Ainda me impressiona como há médicos que preferem insistir no achismo, pondo em risco a saúde do paciente, para defender um presidente que claramente não tá nem aí pro seu povo.
Isso me leva a reforçar algo que deveria ser bem óbvio na prática da saúde:
OS PRINCÍPIOS BIOÉTICOS
Existem 4 princípios bioéticos:
• Beneficência
• Não-Maleficência
• Justiça
• Autonomia
E eles servem pra nortear as ações dos profissionais de saúde em relação a vida de outros seres humanos.
• Beneficência: deve-se maximizar benefício e diminuir prejuízo.
• Não-maleficência: não se deve fazer o mal (‘Primum non nocere’)
Ex: se o uso de cloroquina/ivermectina não tem evidência científica para COVID, ou seja, não tem benefício, um médico NÃO deveria prescrevê-lo.
• Justiça: tratamento desigual para os desiguais. Reconhecer diferenças e necessidades de cada um e prioriza-las.
Ex: paciente com insuficiência respiratória grave por COVID passará na frente de quem tem sintomas leves, mesmo que este tenha chegado mais cedo ao hospital.
• Autonomia: pessoas capazes de responder por si tem direito a decidir sobre coisas relacionadas a sua própria vida.
Ex: o paciente pode participar da decisão quanto a sua terapêutica, orientado pelo médico.
Mas cuidado: isso não quer dizer que o médico é obrigado a passar o tratamento precoce se o paciente por acaso pedir, justamente porque não tem evidência científica.
Do mesmo jeito que o paciente pode recusar se o tratamento precoce o for oferecido pelo médico.
O primeiro princípio a ser seguido deverá ser o de beneficência/não maleficência, o segundo o de autonomia e o terceiro o de justiça.
A bioética, enquanto ciência, não pode se submeter a achismos e a moral religiosa.
Em razão da influência histórica, cultural e social que sofremos, devemos estar muito atentos para não corremos o risco de perder os parâmetros que devem nos nortear na atividade profissional.
O Conselho Bolsonarista de Medicina (CFM) tenta focar no princípio da autonomia e da autonomia apenas quando faz as suas notas em relação a COVID.
Mas esquece dos outros princípios e esquece que todos eles são norteados pela CIÊNCIA, que deveria, junto com a ética, ser a base.
Não se deixe enganar.
Viva a vida.
Viva a ciência.
Viva o SUS.
E não existe tratamento precoce para COVID.
Previna-se.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Desde que voltaram os atendimentos ambulatoriais pelo SUS tenho observado que muitos pacientes chegam usando máscaras bem suja, provavelmente com vários dias de uso.
Isso, além de mostrar o abismo social no qual estamos inseridos, me trouxe um questionamento pessoal.
É melhor a pessoa usar a máscara suja ou não usar nada?
Sabemos que a eficácia da máscara diminui se ela não for higienizada e usada corretamente, mas sua proteção ainda é maior do que simplesmente não usá-la.
Claro que orientamos o paciente as medidas de higienização e o quanto ao uso correto da máscara.
Mas algumas vezes, por motivos sociais e culturais, o paciente deixa até de usar a proteção pra não “levar carão” porque tá usando errado.
Não sei se vocês viram que várias médicas estão postando foto de biquíni nas redes sociais. Inclusive aquelas que geralmente só postam coisas profissionais.
Não, não é o concurso Miss Médica Brasil, nem calourada atrasada da faculdade.
Senta aqui que eu explico.
Em dezembro de 2019 foi publicado o artigo: “Prevalence of unprofessional social media content among young vascular surgeons” pelo Jornal of Vascular Surgery.
Em tradução literal: “Prevalência de mídias sociais não-profissionais na entre jovens cirurgiões vasculares”
O artigo foi escrito por 6 HOMENS e 1 MULHER que fizeram uma análise das redes sociais pessoais de 480 médicos e médicas da cirurgia vascular.
Basicamente o objetivo da coisa era identificar comportamentos não-profissionais supostamente “mal vistos” por chefes e pacientes.
Pediram pra eu contar minha experiência pessoal (como paciente) com a COVID.
Então senta que lá vem história.
Sim, pra quem não sabe, me infectei no final de abril, muito provavelmente em conseqüência aos diversos plantões (praticamente diários) que eu tinha na linha de frente.
Na época a sala de parada do hospital (onde também faço plantão) ainda não era uma área covid.
Ou seja: Não recebíamos paramentação para trabalhar lá.
Tínhamos que nos contentar com nossos próprios EPI e as N95 recebidas a duras penas e mta humilhação pessoal a cada 14 dias.
Como toda sala de parada, vários pacientes chegavam graves, desacordados, tendo que ser prontamente entubados e estabilizados.
Após o manejo inicial pra manter o paciente vivo, íamos coletar a história com os familiares e tcharam: paciente tinha sintomas de gripe.
Vi algumas pessoas comemorando a diminuição de mortes por COVID nas últimas 24h.
Pois então.
Não trago boas notícias...
Reforço que, além deste número estar claramente subnotificado, há também atraso na notificação de alguns dados.
Lembro também que ainda não estamos no pico. Por isso uma diminuição súbita no número de mortes deveria soar no mínimo estranho.
Muitas dessas mortes ocorreram há alguns dias e só entraram na contagem geral agora por ‘n’ motivos, como, por exemplo, o resultado do teste só ter saído após a morte do paciente.
Muitas mortes por COVID ainda estão atestadas como “pneumonia” ou “insuficiência respiratória”.