Hoje é 2 de abril, o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, e eu quero contar pra vocês como surgiu esta data e quais são os debates e controvérsias disso na comunidade do autismo. Segue o fio:
A data foi criada no final de 2007 pela Organização das Nações Unidas, a ONU, com base na Convenção pelos Direitos das Pessoas com Deficiência em uma data para refletir sobre a presença do autismo na sociedade em uma escala global.
Esta data foi chamada de Autism Awareness Day. Essa menção é muito importante, porque no Brasil traduzimos para "conscientização", mas o termo mais semelhante seria "consciência". E uma data de "consciência" é alvo de críticas de ativistas autistas ao redor do globo.
Isso porque o 2 de abril, no mundo, foi catapultado por organizações gigantes em um ativismo de familiares, geralmente pautado pela cor azul e centrado apenas em questões negativas do autismo. É nessa data que o autismo já foi até comparado a doenças como câncer, por exemplo.
Vale reforçar que isso não é culpa da ONU. O 2 de abril já levantou pautas importantes, como o autismo em mulheres, tecnologias assistivas e mercado de trabalho. Mas toda a apropriação da data e até o fato de ter encobrido o Dia do Orgulho Autista (de 2004) é fator de críticas.
Em resposta, alguns ativistas tem levantado que o 2 de abril deveria ser o dia da aceitação do autismo. Outros, principalmente no exterior, tem proposto ironicamente um Dia da Consciência sobre as questões nocivas do Dia da Consciência do Autismo. #AutismAcceptance
Como eu me posiciono? No meu entender, quando traduzimos para Dia da CONSCIENTIZAÇÃO, temos a oportunidade de dar outra interpretação à data. Até porque o termo conscientização no português se refere ao conceito de Paulo Freire, que diz respeito a uma consciência crítica, ativa.
Um processo de conscientização realmente verdadeiro perpassa a aceitação, o que faz quebrarmos essa falsa dicotomia de conscientização versus aceitação. E isso só é possível cada vez mais que autistas se apropriarem do 2 de abril, como tem ocorrido nos últimos anos.
Fiz uma discussão nesta direção no episódio que liberamos hoje no @introvertendo. Espero que gostem e que, todo 2 de abril, esta consciência sobre o autismo seja crítica e ativa! introvertendo.com.br/podcast/introv…
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[THREAD] Nos últimos dias, surgiu uma treta na comunidade do autismo que ilustra bem uma discussão muito importante que a gente precisa ter: a participação de autistas em eventos de autismo.
Sim, agora temos que falar sobre isso.
Nos últimos anos, vários autistas, no ativismo local e na internet, começaram a exigir a participação de autistas como palestrantes em eventos sobre autismo. Até tempos atrás, autistas apareciam só em atos culturais, como um "bônus" em eventos.
Eu fiz parte entre essas pessoas que exigiram isso. Em Goiânia, durante uma audiência pública no início de 2018, questionei educadamente uma mesa formada só por profissionais e pais. Já era a segunda audiência sem qualquer autista discutindo os temas. Nem tinha o podcast ainda.
[THREAD] Ultimamente muitas pessoas estão falando em podcasts acessíveis para pessoas com deficiência. Mas você sabe o que é isso e as diferentes formas de acessibilidade em podcast? Segue o fio!
Um podcast acessível vai muito além de oferecer uma forma alternativa de consumo. É todo um pensamento e planejamento para executar uma produção que alcance pessoas com deficiência e também pessoas sem deficiência. Em primeiro lugar, precisamos entender as limitações do formato.
Um podcast é caracterizado pela existência de um feed RSS que organiza uma lista de arquivos multimídia - pode ser áudio e até vídeo. É da natureza do formato não ser acessível para PCDs, especialmente pessoas surdas.