A PANDEMIA E A DILAPIDAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL NO BRASIL
Por que as pessoas não tomam os cuidados sanitários necessários na pior pandemia do mundo (sim, a pior pandemia do mundo é a do Brasil)?
Para responder essa pergunta devemos assumir que o que está acontecendo entre nós é mais profundo do que imaginamos.
Vamos lá 👇👇👇
Toda sociedade se auto-preserva. Não se trata apenas de instinto de sobrevivência dos indivíduos. Há uma função sistêmica que garante a manutenção de um modo de vida e, ao fazer isso, também conserva a vida dos membros de uma sociedade.
Isso depende do estoque ou do fluxo de capital social (quer dizer, da rede). Quando pessoas se aglomeram como se não houvesse amanhã, correndo risco de morte, não é que elas estejam desprezando suas vidas.
É que esse mecanismo autorregulador da sociedade não está funcionando direito. Se estivesse, ninguém sairia sem máscara sem ser repreendido pelas outras pessoas.
Se estivesse nenhum ônibus ou trem poderia andar lotado: as pessoas se revoltariam e parariam o veículo.
Se estivesse, nenhuma caravana turística sairia para o litoral: os habitantes das cidades invadidas não permitiriam a entrada de carros.
Sim, quando essas reações não acontecem, quando a sociedade fica indiferente às transgressões ao distanciamento social, é um indicador (ou um sinal) de que o capital social foi dilapidado.
Ou de que a rede social (quer dizer, a rede de pessoas que chamamos de sociedade) foi danificada na sua intimidade.
Quando isso ocorre é porque houve um esgarçamento, uma deformação do campo cuja consequência é a diminuição dos níveis de confiança, de cooperação, de reciprocidade, de aceitação e acolhimento do outro em nosso espaço de vida.
O cuidado com o outro desaparece porque o outro está fora ("eles" não pertencem ao "nosso" mundo).
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Como dizer que Lula não representa uma alternativa democrática, se ele?
Desenrole o 🧵
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1) Formalmente, convive muito bem com a democracia (até o momento que tiver forças suficientes para alterar o seu genoma),
2) Optou pela via eleitoral (imaginando ganhar eleições sucessivamente para se delongar por décadas no governo, ganhando tempo para conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido),
SEM UM MOVIMENTO POLÍTICO NÃO SURGE UMA NOVA FORÇA POLÍTICA
1 - Foi ótimo o manifesto pela consciência democrática assinado por Amoedo, Mandetta, Doria, Leite, Huck e Ciro. Mas, por enquanto, é um posicionamento de personalidades. Consciência não cria força política.
2 - Como tudo isso vai se transformar numa força política? Se os signatários estiverem pensando fazer isso só em 2022, não dará tempo de formar os agentes necessários (sem os quais não há força política real). Será mais uma aposta incerta na loteria do calculismo eleitoreiro.
3 - Onde estão os agentes dessa alternativa (que não são propriamente os eleitores)? Quem ocupará as mídias tradicionais e sociais defendendo diariamente essa alternativa? Sem um movimento político não surge uma nova força política.
Mas Lula não é democrata? Lula escolheu a via eleitoral, não quer destruir as instituições da democracia, lutou ou lutará contra ditaduras (embora só as de direita). Mas isso não basta.
Veja por que?
Democratas são liberais-políticos (nada a ver com as doutrinas do liberalismo-econômico). Democratas não são populistas, quer dizer, não acham que a sociedade está dividida por uma única clivagem opondo "o povo" às "elites".
Populistas amam de paixão eleições, mas isso não é suficiente (Maduro e Ortega também amam e viraram ditadores). Populistas defendem as instituições, mas isso não basta (eles querem manter as instituições e fazer maioria em todas elas para usá-las como instrumentos do partido).
Isso não sobreveio de repente, em razão da ascensão de Bolsonaro. A sociedade já vinha sendo esgarçada há muito tempo pela política do "nós" contra "eles".
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E aí as pessoas começaram a encarar as coisas assim: os outros são sempre os "eles". O lulopetismo estabeleceu a base da divisão: os "eles" são as elites responsáveis por todo mal que nos assola e, como dizia Lula, não estão nem aí para o povo "desde Cabral".
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A cruzada de limpeza ética do punitivismo lavajatista contribuiu para acirrar isso: os "eles" são os políticos corruptos que não ligam para nós e são responsáveis por nossa situação porque roubam tudo, inclusive "o leite das criancinhas" (como falou Deltan).
Como Bolsonaro levou desnecessariamente milhares de pessoas à morte
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1 - MINIMIZOU A COVID-19 | Disse que era uma gripezinha, que não iriam morrer mais do que 800 pessoas, que a doença só ia atingir idosos com comorbidades (que já iam morrer mesmo).
Com isso, muitas pessoas acreditaram e não tomaram os cuidados sanitários necessários, se infectaram e, várias, faleceram.
Agora que todo mundo anda falando de ciência, em razão da pandemia, pode ser útil esclarecer. Ciência não é apenas ciência experimental (como as vezes se tem a impressão ouvindo virologistas, epidemiologistas e infectologistas).
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Quando Einstein escreveu a teoria da relatividade restrita, em 1905, aquilo já era ciência, embora nenhuma experiência tivesse sido feita para verificar se as predições das suas hipóteses seriam invalidadas.
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A completude e a coerência interna de um sistema de hipóteses são critérios fortes. Por exemplo, a correção e a elegância do formalismo lógico ou matemático (a estética de uma equação diz muito mais do que imaginamos).