Acho que todo mundo razoável concorda que permitir cultos religiosos nesse momento é uma péssima medida.
Mas o tamanho desse problema não é algo tão intuitivo assim. Pra isso a gente precisa falar de eventos de superespalhamento
A gente houve muito falar do número de reprodução da doença o "R". 10 pessoas transmitem o vírus pra outras 20. E aí a gente intuitivamente pensa que cada pessoa infectada transmite o vírus pra outras 2 e assim por diante. Mas essa distribuição é bem heterogênea
É como se das 10 pessoas, 7 não transmitissem pra ninguém, 1 pessoa transmite pra 4 e 2 pessoas transmitem pra outras 16.
Esses eventos onde muitas pessoas se infectam ao mesmo tempo são chamados eventos de superespalhamento e são fundamentais pro crescimento da pandemia
Esses eventos geralmente envolvem
- espaços fechados
- muita gente
- pessoas falando alto/gritando
- pessoas sem máscara ou usando máscaras de forma inadequada
Isso porque o vírus se transmite no ar
As partículas com o vírus ficam em suspensão e se acumulam em espaços fechados. Muitas pessoas acabam inalando, muitas pessoas se infectam.
E aí vale dizer que o virus não usa a mesma régua moral que a nossa sociedade
Não importa se é bar, festa clandestina, academia ou culto religioso. Reunindo esses aspectos, temos potencial de super espalhamento.
Existem diversos eventos de superespalhamento ligados a eventos religiosos. Mas o mais famoso é o "paciente 31" na Coreia
A pandemia estava bem controlada lá no início da pandemia em 2020 com todos os casos sendo testados, rastreados e quarentenados. Isso até o paciente 31, que burlou esse sistema e participou de um evento religioso com muita gente
Isso gerou seguidos eventos superespalhadores na comunidade e em um mês era possível ligar mais de 4000 casos ao paciente 31. Isso explica porque a primeira contra na Coreia teve epicentro em Daegu
Em conclusão. Retomada de cultos religiosos com protocolos absolutamente falhos (álcool em gel, medição de temperatura e espaços fechados) é absolutamente inviável nessa fase da pandemia. Espero que isso seja revertido o quanto antes
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Eu sempre reforço que ventilação é a medida de prevenção mais importante. Mas assim como máscaras, distanciamento, vacinas e tudo mais ela não pode ser encarada de forma binária.
Abra ao máximo as janelas pelo maior tempo possível. Mas isso não garante risco zero
Vai depender do tamanho das janelas, da configuração do espaço, do número de pessoas, etc.
Sobre o ar condicionado, ele não necessariamente é vilão. Pelo contrário, ele pode ser um grande aliado. Garanta que o ar está sempre sendo renovado. Evite a recirculação de ar
Garanta que a manutenção está sendo feita da forma correta no intervalo correto. Utilize filtros de boa qualidade. Renovando o ar e com bons filtros, ele pode ajudar muito.
Sobre ventiladores, evitem a recirculação do ar interno sem trocas com meio externo
Uma das coisas que eu penso todo dia é a dor de perder alguma pessoa querida e não ter a chance de se despedir. O funeral é um processo muito importante para viver o luto.
Esse guia do CDC americano cita alguns pontos. O risco maior parece ser a interação próxima das pessoas no funeral, especialmente de familiares próximos do falecido já que é possível que quase a casa toda esteja com COVID
Funerais em espaços abertos, com uso de máscaras (de preferência de boa qualidade), com número reduzido de pessoas poderia ser uma alternativa para que todo esse processo não fosse tão doloroso para tanta gente
Mas não quer dizer que todas são falsificadas. A gente só não sabe sem ter algum tipo de testagem ou regulamentação.
Posto isso, mesmo que elas tenham boa eficiência de filtragem, a vedação que não é tão boa já não permite uso em ambiente hospitalar
Porém, pode sim ser muito útil pra uso da população em geral.
Temos que lembrar que isso já está comprado e disponível e que a maioria da população está usando máscaras de pano de baixa qualidade, de acrílico, de tricô. Uma KN95 é bem superior a grande maioria
Há uma tentativa de emplacar a narrativa de que toda a tragédia que estamos vendo é culpa das novas variantes.
A forma como o vírus se transmite não mudou com as novas variantes. As medidas de prevenção também não. Restrições de circulação sempre funcionaram
E desde o começo da pandemia vem sendo sabotadas das mais diversas formas, com todo o tipo de diversionismo possível.
Distanciamento físico sempre funcionou. E foi sistematicamente atacado, com a promoção de todo e qualquer tipo de aglomeração desnecessária
Máscaras sempre funcionaram. E desde o início foram alvo de todo tipo de fake news. Inclusive com a fúria do presidente quando algum subordinado usava. Nunca houve sequer comunicação sobre o uso correto delas e como averiguar a qualidade
PFF2 funcionam. Funcionam porque vedam bem ao rosto e filtram as partículas que estão em suspensão no ar quando respiramos.
As partículas mais perigosas são as que inalamos. A transmissão se dá principalmente por esse mecanismo: inalação de partículas contaminadas no ar
Mas melhor ainda é evitar espaços onde podem ter muitas dessas partículas em suspensão. Espaços fechados, mal ventilados e com muita gente.
Em ambientes ao ar livre, essas partículas se diluem muito rapidamente e os riscos são muito menores
Priorizar espaços ao ar livre e ventilar ambientes com ar externo é uma das principais medidas de prevenção que temos. Uma medida simples, barata e altamente eficaz.
Há um debate intenso sobre transmissão por gotículas x aerossóis.
Em linhas bem gerais se associam gotículas a partículas maiores do que 5 microns e que, por serem mais pesadas, seguem trajetórias balísticas e se depositam na boca, olhos e nariz.
Já aerossóis seriam partículas maiores e mais leves que viajam grandes distâncias e podem ser inaladas.
Primeiramente, o corte de 5 microns não é muito preciso. Partículas bem maiores podem permanecer em suspensão por bastante tempo e serem inaladas
E não necessariamente curta distância significa gotícula e longa distância significa aerossol. Quanto mais próximos estamos da fonte, maior a concentração de aerossol. Quanto mais perto de alguém fumando, mais forte o cheiro