Num texto de 2014, os sociólogos Bradley Campbell e Jason Maning afirmaram que uma nova cultura surgia nas universidades americanas. Eles a chamaram de “cultura de vitimização” e descreveram três características principais: (1/6)
1.“Indivíduos e grupos têm alta sensibilidade a pequenas ofensas.” 2.“Tendem a resolver conflitos reclamando para uma terceira parte”. 3.“Procuram cultivar a imagem de vítimas que merecem assistência.” Parece que descreveram o João do BBB, não? (2/6)
A confusão entre João e Rodolfo é na verdade o choque entre a cultura da dignidade e a da vitimização. A cultura de dignidade é a dos nossos pais e avós, e de gente menos urbana e conectada. Nela, a dignidade de uma pessoa não depende do que outros pensam. (3/6)
Esse código moral foi uma reação à cultura de honra (a dos duelos, em que as pessoas são hipersensíveis a ataques a sua reputação). Na cultura de dignidade, “espera-se que as pessoas tenham autocontrole para ignorar irritações e desfeitas”, diz o psicólogo Jonathan Haidt. (4/6)
“As pessoas não veem discordâncias, desfeitas ou mesmo insultos como ameaças a sua dignidade.” Se alguém se irritar com o que outro disse, levanta a voz e retruca na hora. O conflito se resolve sem intervenção de outros ou problematização. (5/6)
É essa a diferença entre João e Rodolfo. João é um radar hipersensível aos menores deslizes e microagressões; Rodolfo não consegue entender por que o colega ficou tão ofendido. Qual dessas duas culturas morais você prefere? (6/6)

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Leandro Narloch

Leandro Narloch Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @lnarloch

10 Dec 20
Quatro ilusões de boa parte do movimento negro.
1. Acreditar que a sociedade muda de cima pra baixo. "Burocratas aprovaram uma convenção, agora o racismo vai diminuir." Mas ideias e comportamentos mudam quase sempre de forma descentralizada, de baixo para cima.+
2. Crer que só depois do fim do racismo os negros vão enriquecer. Isso levaria séculos; felizmente não é preciso esperar tanto. Judeus, imigrantes japoneses, irlandeses e muitos outros prosperaram apesar da discriminação; o mesmo acontece agora com imigrantes negros nos EUA. +
3. Crer que a ascensão social depende de poder político. Como dizia Walter Williams, nunca houve presidente americano judeu ou japonês, mas esses grupos estão bem acima da renda média americana. O mesmo vale para os indianos sikhs na Inglaterra. +
Read 5 tweets
8 Dec 20
Em 1722, médicos ingleses denunciaram uma prática repugnante. Tentando prevenir a varíola, pessoas estavam esfregando o pus (retirado de bolhas de portadores de varíola leve) em sangramentos de gente saudável. Parecia curandeirismo de ignorantes, mas era a origem das vacinas. +
A maior defensora do que hoje chamamos ‘inoculação’ foi Mary Wortley. Mulher do embaixador no Império Otomano, ela aprendeu a técnica com mães turcas. Fez igual nos próprios filhos e tentou infectá-los. Percebeu que suas cobaias ficaram imunes à doença mais mortal da história. +
Cientistas e médicos ridicularizaram a ideia. A prática sem comprovação científica era coisa de "mulheres ignorantes e analfabetos", disse William Wagstaffe, professor e membro da Academia Real de Medicina. Parecia só mais um tratamento exótico e imprestável bem comum na época.+
Read 5 tweets
30 Sep 20
Ao visitar o Brasil, entre 1817 e 1822, o botânico austríaco Johann Emanuel Pohl relatou um fato surpreendente na cidade de Goiás. Segundo ele, muitas mulheres brancas eram mais pobres que as negras e tinham vergonha disso.(+) Image
“Para estes [brancos] é rezada uma missa às 5h da manhã. Nela aparecem as brancas empobrecidas, envoltas num manto de má qualidade, para não se exporem aos olhares desdenhosos das negras que aparecem mais tarde e entram altivamente ornadas de correntes de ouro e rendas", disse. Image
Pouca gente levou a sério o que ele disse – acharam que o gringo entendeu errado o que lhe relataram. Mas análises recentes de testamentos e cartas de alforrias revelaram centenas, milhares de ex-escravas mais ricas que a média da população da Bahia, MG e RJ.
Read 12 tweets
28 Sep 20
De todos os desvarios da imprensa ligada à esquerda identitária, o mais alucinado é o deslumbre com a intervenção hormonal e cirúrgica em jovens com disforia de gênero. É absurdo simétrico à defesa da "cura gay", com danos ainda mais graves e duradouros aos jovens. 1/6
Do menos de 0,5% dos jovens que sofrem disforia de gênero, a imensa maioria resolve a questão até o fim da adolescência, frequentemente adotando a homossexualidade. Mas ativistas e médicos vendem aos pais a ilusão de que a disforia só se resolverá com hormônios e bisturis. 2/6
Em boa parte dos casos, é como sugerir uma cirurgia de emagrecimento para uma garota anoréxica que acredita estar obesa. Pior: dizem aos pais que contrariar o filho é “transfobia” e pode aumentar as chances de suicídio. Os pais ficam aterrorizados e perdidos. 3/6
Read 7 tweets
24 Aug 20
Três tipos de culturas morais. 1. CULTURA DE HONRA. As pessoas são obcecadas com a própria honra e reagem violentamente a qualquer ato que possa manchar sua reputação. É a cultura dos duelos, dos assassinatos por vingança.
2. CULTURA DE DIGNIDADE: cultiva o auto-controle, a capacidade de ignorar pequenas ofensas. Cada um é responsável pelos seus sentimentos e deve lidar com eles, por isso há certa liberdade para falar coisas possam ofender os outros. Conflitos são resolvidos em breves discussões.
3. CULTURA DE VITIMIZAÇÃO. Hipersensibilidade a insultos e "microagressões", glorificação de vítimas. Cada um é responsável pelo sentimento dos outros. Se alguém se sentir ofendido por você, a culpa será sua mesmo se você não teve a intenção. Todos temem ser mal interpretados.
Read 5 tweets
18 Aug 20
Um equívoco do feminismo recente é acreditar que escolhas dos homens devem servir de modelo para as mulheres. Se os homens jogam futebol, então as mulheres deveriam fazer o mesmo, e o mundo será um lugar melhor se mais mulheres jogarem futebol. 1/5
O equívoco vale para muitas atividades não necessariamente superiores em que mais homens se envolvem: corridas e lutas, turnos noite adentro no mercado financeiro, abuso de drogas, surf de trem, a política. Sem querer, esse feminismo impõe um modelo de vida bem-sucedida. 2/5
E cria uma pressão que restringe as escolhas femininas.
Como diz Susan Pinker, “se a maioria das mulheres prefere atividades altruístas e transformadoras à disputa do maior contracheque, o modelo masculino radical as fará se sentir infelizes". 3/5
Read 5 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!