A partir de 2008 expoentes da direita brasileira tomavam as páginas de semanários pra falar sobre a problemática "doutrinação" nas escolas e universidades. A direita brasileira se retorcia a cada derrota e logo acharam bodes expiatórios em professores e pesquisadores.
Começaram a atacando as humanidades, rechaçando o conteúdo do ensino de história e gritando contra aulas de sociologia e filosofia no currículo do Ensino Médio. Não demorou para que avançassem sobre as ciências ambientais e, mais recentemente, sobre a medicina.
Em 2018, durante a campanha, conhecidos enchiam a boca para dizer que tudo seria melhor pois a direita sempre escolhia nomes "técnicos" e não estava impregnada de "ideologia". O atraso do Brasil, segundo eles, se daria por causa de figuras como Paulo Freire.
E não estou falando de pessoas sem instrução não, estou falando de gente com curso superior e meios. Tinham descoberto todo uma verdade "oculta" em publicações de whatsapp: um Brasil glorioso que desconheciam por causa dos "professores doutrinadores".
Pessoas que nunca tinham ouvido falar em Paulo Freire na vida trocavam textões e memes sobre como o pedagogo era nefasto. Trocavam aquelas montagens com frases e citações tiradas de sites, com direito a falseamentos tipo Decálogo de Lênin e coisas que Churchill nunca disse.
Esse material enganoso era usado para "revelar" o que estudantes aprenderiam nas escolas e universidades. Um choramingava por não haver uma disciplina numa federal que o ensinasse a ser trader. Outro jurava ter sido doutrinado no ensino médio mas tinha cursado colégio militar.
Um dia numa interação com um deles tentei explicar quem nenhuma daquelas frases sobre "corromper a família" tinha sido dita por Gramsci. Recebi uma resposta que não esqueço até hoje: "é claro que Grasmci disse isso: você não sabe de nada porque estudou demais".
A utopia dos "técnicos sem ideologia" não se materializou. Agora esses mesmos dizem que o problema é "o Brasil não tem jeito", "o brasileiro não respeita nada", e que o Bolsonaro é "uma merda" pois "é igual a todos os outros políticos".
Antes disso não faltou esperanças depositadas em Guedes e Moros. Ninguém fala mais sobre "doutrinação" e quando indagados sobre as presepadas do governo em torno de coropina e quetais eles meio que dão de ombros "foda né".
Muita coisa ali atrás era um ressentimento que parece quase inexplicável de maneira racional. Essas escolhas parecem mais estéticas e emocionais que qualquer outra. Minha dúvida é em que nível isso continua operando depois do tombo.
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"A reportagem apurou que Bolsonaro pediu a saída de Azevedo após uma entrevista do general Paulo Sérgio, responsável pela área de saúde do Exército (...) o militar apontou a possibilidade de uma 3.ª onda da covid-19 no País e defendeu lockdown." politica.estadao.com.br/noticias/geral…
Não dá pra dizer que o exército não é bom em reabilitar a própria imagem, com a devida ajuda da cria deles, aliás.
Aliás, pode ser esse o motivo da demissão: com a saída de Araújo o Bolsonaro deve fazer outra mini reforma ministerial pra se cercar de gente mais doida e tentar uma aventura ou, simplesmente, acomodar gente mais próxima do Centrão.
"Sua gestão à frente da diplomacia brasileira acabou tendo um comando compartilhado com Eduardo Bolsonaro e o assessor Filipe G. Martins. Todos são seguidores do guru Olavo de Carvalho, que promove teorias conspiratórias." dw.com/pt-br/ernesto-…
"Sob Araújo, o Itamaraty passou a implementar uma chamada agenda "antiglobalista”, endossando ataques de Eduardo Bolsonaro à China - o maior parceiro comercial do Brasil - e transformando o ministério num palco de palestras para blogueiros propagadores de fake news."
"O país também se alinhou sem ressalvas ao governo de Trump e passou a colaborar diplomaticamente com regimes ultrafundamentalistas como Arábia Saudita para sabotar iniciativas internacionais de promoção aos direitos humanos."
"Muitos pacientes falam que não usavam máscara, que tomaram ivermectina ou o 'kit covid'". Em algumas situações, há descrença quanto à própria existência da doença." uol.com.br/ecoa/colunas/r…
"Caso da aposentada Esther, que deu entrada com quadro severo de falta de ar. Mesmo necessitando de ajuda externa para respirar, Esther insistia: "Essa doença é uma invenção". A todo tempo tirava a máscara de oxigênio e, aos médicos, exigia ir para casa."
"A alternativa da equipe foi organizar uma videochamada com um parente próximo. "Expliquei ao familiar que a ideia era incentivá-la a seguir o tratamento. A capacidade pulmonar estava piorando rápido e a possibilidade de intubação era real". "
Tive que ver amigo enterrando mãe e pai, tive que ver amigo perdendo estabelecimento, decretando falência. Tudo isso porque o asno presidencial disse que o "vírus é igual chuva todo mundo vai pegar". Agora é cemitério cheio e geladeira vazia.
Cansado de ter que ficar explicando o óbvio o dia inteiro enquanto playboyzinho e político bolsonarista lucra clique e voto em cima da desgraça dos meus amigos, do meu povo. Cansado de acordar pensando em vacina e ver deputado filho de um égua falando asneira sobre autogolpe.
Que porra é essa? O que aconteceu com esse país? Vão ficar dormindo enquanto esses asnos acabam com tudo? E a troco de quê? "Responsabilidade fiscal" não veio, corrupção tá aí pra dar e vender com direito a aparelhamento das polícias. É pelo prazer de matar pobre é?
Lembram que há um ano atrás, quando o Brasil precisava urgentemente de medidas sanitárias e um plano de contenção da pandemia, Bolsonaro e filhos começaram a divulgar vídeos mentirosos feitos por seus apoiadores para criar pânico generalizado e atacar prefeitos e governadores?
Depois de ficar um ano mentindo sobre coropina e ivermectina, sabotando a vacinação e atacando qualquer autoridade que tentou conter o avanço da pandemia, Bolsonaro transformou o Brasil no epicentro da doença. O país hoje representa um grave risco para o mundo.
Não satisfeito com os centenas de milhares de cadáveres que ele ajudou ativamente a produzir, Bolsonaro agora quer repetir a mesma ladainha de que medidas emergenciais não podem ser tomadas. E volta com A MESMA retórica do ano passado.