Numa das paredes da sala do capítulo, no convento dominicano de Santa Maria Novella, em Florença, há um afresco diante do qual a maioria dos visitantes passa apressadamente e que, no entanto, se presta a uma inesgotável reflexão.
lntitulam-no "os cães de Deus", por causa dos molossos malhados de branco e negro que, na parte inferior do quadro, combatem uma horda de lobos.
Na verdade, porém, esta batalha significa algo mais do que a luta dos domini canes, dos filhos de São Domingos, contra a terrível...
matilha de tentações, pecados e heresias que ronda ininterruptamente a pobre humanidade.
Seu autor, Andrea de Firenze, não é um mestre de primeira fila; a sua obra não poderia ser comparada aos Duccio, aos Ghirlandaio, aos Orcagna ou aos assombrosos Paolo Uccelo que, a dois...
passos dali, a ofuscam. Contudo, talvez nenhum outro artista cristão tenha sabido captar melhor do que ele, utilizando apenas alguns metros quadrados de superfície mural, tudo o que uma sociedade inteira quis, sonhou e tentou realizar na terra.
Plasmada numa composição única, resume-se nesse afresco a síntese de uma civilização, tal como ela própria se concebeu.
Em primeiro plano vê-se o Papa, de pé, revestido de serena majestade, representante visível dos poderes do alto.
A seu lado, quase da mesma altura, o Imperador, que diríamos estar com ele em plano de igualdade se não trouxesse nas mãos uma caveira, lembrando que os domínios da terra perecem, ao passo que os do céu não passam.
De cada lado, dispõem-se, numa hierarquia estrita, os cargos religiosos e as dignidades laicas: cardeais, bispos e doutores à direita, à esquerda reis, nobres e cavaleiros. Na base, o rebanho inumerável dos fiéis, ricos e pobres, piores e melhores, todos aqueles que levam para...
diante na terra a aventura humana do destino e do combate cotidianos. Estão representadas todas as categorias sociais, e cada uma ocupa o seu lugar nesta ordem, cada uma tem um papel a desempenhar. Qual? A obra indica-o por meio de dois símbolos, pois trata-se de uma dupla tarefa
concretamente, edificar com meios humanos a Igreja da terra, a assembléia dos batizados, cuja imagem visível é a recém-construída cúpula de Florença que se ergue no fundo da pintura; e sobrenaturalmente, participar da Igreja mística, transcender as misérias e as...
insignificâncias da terra, para elevar-se, ao longo do árduo caminho pelo qual avançam as filas dos eleitos, até o trono inefável em que Cristo, o Deus vivo, reina sobre o mundo, entre os cânticos dos anjos e as preces dos santos.
Esta grandiosa imagem, que por uma coincidência irônica o artista florentino pintou em meados do século XVI, ou seja, quando já deixara de corresponder à verdade , foi a imagem que dez gerações de homens albergaram no coração como o ideal da sua existência, como um desígnio...
e uma promessa, e tentaram transformar em realidade com o seu sangue e os seus esforços. Esta visão do mundo explicava-lhes tudo o que deviam fazer na terra e esperar do além; mostrava-lhes a humanidade perfeitamente ordenada, submetida a Deus, dirigida pelos seus...
mandamentos, regida por leis justas. Fazia-os compreender que não havia nenhuma instituição
válida que não se encontrasse inserida no quadro das intenções divinas e não devesse ajudar o homem a ascender ao céu.
Tudo possuía uma finalidade, um sentido, uma razão de ser;
a aventura dos mortais não parecia nem absurda nem desesperadora, e cada um sabia por que trabalhava, sofria, vivia, e também por que devia morrer.
Imagem grandiosa que a humanidade bem pode apreciar com nostalgia, num momento em que perdeu o sentido do porquê e do como, num...
momento em que procura inutilmente reencontrar a sua escala de valores e em que o abandono desse ideal se traduziu para ela num trágico caos.
- Daniel Rops, História da Igreja [vol 03].
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Já que a sexualidade destoa, na maioria das vezes, da aparência física imediata. É aquele negócio do círculo de latência: As pessoas precisam aceitar que o gato late e que o cachorro mia. Acredite em mim e não no que os seus olhos estão vendo.
Alguns incorporam isso tão profundamente que tomam a sexualidade como único e mais importante elemento da própria personalidade.
Isso vira a coisa mais importante, o núcleo da vida do sujeito
A civilização é a metrópole. Cada vez cresce mais a separação entre os metropolitanos e os provincianos. Enquanto estes continuam a ser os guardiões das culturas, aqueles aniquilam-se na morte das ideias, que substituem por brilhos de moeda falsa.
Estamos numa época de decadência, porque se instaura definitivamente no mundo, mais uma vez, o predomínio inconteste das metrópoles.
São elas que falam em nome dos povos. Paris é a França; Berlim é a Alemanha; Londres, a Inglaterra, e Nova Iorque, os Estados Unidos.
Esses senhores socialistas, de envolta com grã-finos malandros e jovens débeis mentais transviados, socialistas dos cafés pseudamente parisienses, dos clubinhos de sub-literatura e de artistas medíocres, previamente..
superados, desmentidos pela sua impotência e improductividade, de cambulhada com semi delinqüentes e depravados maconheiros, é que lançam, constantemente, afrontas aos que amam o bem do seu semelhante. Eles apenas odeiam e nada mais sabem fazer que odiar.
Seu socialismo é producto de ressentimento e de um marginalismo social provocado por desajustamento psicológico. Quando o seu socialismo vencer, contribuirão, por sua vez, para glória do «paredón», que seus «amigos» criarão e, como em todas as revoluções dessa espécie, serão...
O exemplo do discurso geral sobre “progresso” é, de fato, extremo. Como enunciado nos dias de hoje, o “progresso” é simplesmente um comparativo do qual não determinamos o superlativo.
Opomos cada ideal de religião, patriotismo, beleza, prazer sensual ao ideal alternativo do progresso – isto é, contrapomos cada proposta de conseguir algo do que conhecemos, com a proposta alternativa de obter muito mais daquilo que ninguém conhece.
O progresso, devidamente compreendido, tem, de fato, um significado muito digno e legítimo. Mas, se usado em contraposição a ideais morais definidos, se torna absurdo.
Assim, mesmo não sendo verdade que o ideal de progresso deva ser confrontado com a finalidade ética ou...
Eric Voegelin foi um dos maiores filósofos do século XX. Sua obra “Order and History”, em cinco volumes, sintetiza e ordena numa reinterpretação global da história uma vastidão de conhecimentos quase inimaginável, das inscrições egípcias até as últimas novidades do direito, da...
economia e da lingüística.
Dá de dez a zero em Hegel, Spengler e Toynbee somados. De origem pobre, Voegelin passou fome para estudar. Continuou homem simples, deslocado em ambientes chiques.
Muito tem se falado sobre o que pode ser a destruição total do que conhecemos como civilização ocidental - aquela baseada no direito romano, na filosofia grega e na moral cristã.
É certo que grande parte das pessoas encaram isso como uma conspiração barata, algo irrealista, produto das mentes férteis e românticas; mas você já pensou sobre o significado da palavra "destruição"?
A palavra “destruição” é composta de duas palavras em latim: o prefixo de, que neste caso significa “desfazer”, e “struo” (“construir”).
Assim, a palavra “destruição” expressa a ideia de “desfazer a estrutura”.