Lidar com pais sempre foi a pior parte de trabalhar em escola privada.
Numa delas, as reuniões trimestrais com os pais aconteciam no ginásio da escola. Cada professor recebia uma mesa, uma cadeira e uma água e, na hora designada, os pais iam lá.
Determinados professores recebiam filas imensas de pais que não vinham só para saber do desempenho escolar dos filhos. Vinham cobranças de toda sorte e a gente lá, rebolando, sem poder bater boca com os pais porque direção e equipe pedagógica estavam sempre por perto.
Saíamos estafados (embora não tenho a menor dúvida que a sobrecarga maior era sobre as colegas professoras), mas é isso. Era uma única vez em todo trimestre que tínhamos esse contato.
Se esse contato fosse se tornar cotidiano (como aconteceu por conta da pandemia), as chances dele dar errado eram imensas. Por que?
Porque a escola privada instituiu a mentalidade da educação-serviço e, a partir disso, a relação entre a comunidade escolar não é horizontal.
Ela virou uma relação baseada na dinâmica cliente-prestador de serviço. E ela é extremamente nociva, pois os pais realmente enxergam-se como clientes. Eles esperam que, com o "investimento" que fazem, seus filhos estejam capacitados o quanto antes para a faculdade...
...e de lá, para o mercado de trabalho. Tudo que complexifique esse processo, questionando, por exemplo, o porquê desse modelo de ensino, se torna um obstáculo a esse investimento.
Os professores, nessa toada, são rifados pelas direções e equipes pedagógicas (que nas escolas privadas, em grande parte, assumiram a função de gerente ou capataz do corpo docente) como trabalhadores que são.
Afinal, se você pede um McBurger numa lanchonete e ele vem sem carne, a culpa é do atendente. A lanchonete tem as fotos mostrando que o lanche tem carne, os gerentes instruem que tem que ter carne no meio do pão... Você pagou o lanche com carne, a culpa é do atendente.
Da mesma forma, no ensino privado, se o professor ensinou algum conteúdo que você, pai, não gostou, você vai reclamar, afinal, você pagou o lanche com carne. "Me vê uma aula de redação, mas sem cebola, sem picles e sem doutrinação ideológica".
Enfim, eu nunca sistematizei isso porque, né, tem muita memória doída de assédio aí. Mas quando li o livro de Christian Laval, "A escola não é uma empresa", entendi melhor o tamanho da merda e me convenci, de uma vez por todas, que o modelo de ensino privado não funciona.
Ele é incompatível com a grande narrativa iluminista de que a educação pode emancipar os sujeitos.
Uma empresa privada regida sob a lógica do capital nunca vai garantir a emancipação de ninguém. E em tempos pandêmicos isso fica ainda mais evidente.
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- 400 mil mortos.
- Abril foi o pior mês do COVID no Brasil (e no Rio Grande do Sul também, bairristas).
- Secretaria da Educação defende que máscara de pano é tão boa quanto a PFF2.
A Rosane é a porta-voz do grupo RBS e representa o medo deles perderem anunciantes se, por acaso, defenderem coisas como testagem em massa, obras estruturais em escolas, distribuição gratuita de equipamentos de biossegurança para a comunidade escolar...
Todos esses são protocolos defendidos pela OMS, que só recomenda a retomada das escolas quando o contágio estiver baixo.
Já que o @carapanarana puxou a discussão, vocês lembram quando o papo de "doutrinação esquerdista" na escola saiu do esgoto da internet e veio parar no semanário mais vendido do Brasil?
Eu lembro...
O professor do Anchieta, que ganhou destaque por ousar dizer que "o que gera desemprego é a máquina" numa aula de Revolução Industrial, conseguiu processar a Óia anos depois. Mas o estrago tava feito.
Foi uma década inteira da revista e seus articulistas nessa toada.
Um deles vocês ainda têm a cara de pau de chamar de "tio". Aliás, salvo engano, depois do Olav.o, o tio de vocês foi o primeiro a divulgar o clube de assediadores do Miguel Nagi.b, conhecido também como "Escola sem Partido".
Massssssss...se eu fosse chutar, o que tá rolando é o Lira com medo de não controlar o Congresso (e por isso travando tudo). A última dele, de dizer que passa as reformas ainda esse ano, é quase pérola do humor.
"Ah, mas ele passa tudo mesmo".
E chega no Senado o troço não avança e todo mundo sabe disso - sempre lembrando que política é performance. Fazer de conta que é operador é útil para 2022.
Muita gente já falou, mas vou trazer aqui: além de todo o terror que ameaça paralisar a política pública no Brasil, a economia brasileira também vai entrar em colapso.
Investidor estrangeiro só vai botar grana aqui se der retorno rápido e imediato, tipo esquema de pirâmide.
Falando sério: sem dados atualizados sobre emprego, sobre economia, demografia, ninguém de fora vai botar dinheiro aqui.
É literalmente converter o tripé econômico em bolo de pote, app de entrega e venda de cosmético. Como quer o apresentador da Globo.
Agora imagine você, economista liberal que se acha muito sábio e inteligente e que caiu nessa de que tinha que diminuir o tamanho do Estado, que Paulo Guedes ia nos salvar.