Não são poucas as falas nostálgicas de colegas sobre a universidade no passado, quando ela supostamente era uma ilha de excelência diante de nossa tamanha desigualdade.
Nesse ponto, vejo que a extrema-direita soube capturar esse lamento, transformando-o em arma ideológica.
Na guerra cultural que ela promove, há esse insólito encontro do fascismo com docentes que se recusam a repensar suas abordagens didáticas, seus comportamentos e até mesmo o papel da universidade. Aquele chorume que a própria Piauí publicou de um anônimo reclamando...
...da mentalidade dos seus alunos é um bom exemplo disso. Não toca nas questões estruturais e fica chorando diante do fato de que agora os alunos se sentem aptos para cobrarem dos professores determinadas posturas profissionais.
No fundo, a mudança no perfil sócio-econômico durante os anos do PT no governo é a mudança das agendas de pesquisa, ensino e extensão nas universidades. É também a ampliação da assistência estudantil, da infraestrutura, dos serviços oferecidos para a comunidade...
E por sua vez, é também a perda de autonomia financeira, pois para dar conta dessas transformações sem alterar radicalmente a forma política pela qual a universidade se organiza, muito dinheiro de fora teve de ser inserido. E a verba pública não se expandiu na mesma proporção.
Na verdade, ela de desceu desde 2016 - que, segundo o estudo citado pela Piauí, é quando a presença dos mais pobres na universidade passa a estagnar.
E 2016 é também o ano do golpe (que, na minha leitura, sempre foi para solapar conquistas dos trabalhadores em época de crise).
Para ilustrar o que isso significa: sempre comento que em 2004, minha bolsa de monitoria pagava algo em torno de 250 reais. O salário mínimo na época era 260 reais.
Minha bolsista de IC hoje recebe 400 reais. O salário mínimo atual está em 1.100 reais.
Aluno não é problema em uma universidade carregada de contradições entre projetos políticos em disputa e um orçamento cada vez mais engessado.
Ainda assim, é a mão de obra de boa parte dos serviços da universidade e tem sua participação em conselhos e consultas reduzidas.
O governo Temer teve que fazer uma normativa para impedir que alunos e técnicos tivessem mais do que 15% de peso em conselhos e consultas. Isso também é fruto do golpe de 2016.
O discurso aí também encontra respaldo, afirmando que os docentes "merecem" maior participação política pois têm maiores responsabilidades.
Como dizia um professor meu, a Revolução Burguesa não chegou nas universidades brasileiras.
Diante de aumento de infraestrutura, assistência estudantil, ações afirmativas e institucionalização do ENEM como forma de acesso à universidade, ela passou a precisar de mais verbas, de maior participação política dos discentes e, claro, uma atualização do corpo docente...
Ainda estamos esperando "Godô", a democratização da universidade pública corre o risco de ser um processo inacabado se não sanarmos essas carências. E diante do corte mais fundo nas verbas das universidades, elas passam a se tornar inviáveis já esse ano.
É preciso lutar cada vez mais para que a universidade não volte a se tornar o espaço da branquitude rica e medíocre, como tanto deseja Paulo Guedes - ele mesmo um exemplar da raça.
PS: nem comentei sobre as intervenções de Bolsonaro nas universidades. Isso eu infelizmente preciso botar também como responsabilidade desse período... A lista tríplice é uma excrescência que se mantinha sob um pacto de cordialidade. Mas deixo quieto pois já falei demais aqui.
*decresceu (maldito corretor)
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Não acompanhei a CPI, mas apesar de querer, sei que o foco não é prender ninguém.
CPI é palco.
Nesse ponto, o fato do Flavinho caganeira ter ido lá fazer chacrinha é sintomático de que é preciso criar factóide pra não ser engolido no tsunami de merda.
Isso não quer dizer que a CPI vai necessariamente dar em pizza, mas... né, o primordial dela é fazer palco, mostrar que os caras são culpados mesmo para a opinião pública. Nesse ponto, o Waisifuden lá contribuiu lindamente.
A narrativa da CPI o Planalto já perdeu faz tempo. Mas vai rolar cada vez mais chinelagem.
Renan vai jogar com chuva, no La Bombonera e sem policiamento. Vai ser bonito de ver.
- 400 mil mortos.
- Abril foi o pior mês do COVID no Brasil (e no Rio Grande do Sul também, bairristas).
- Secretaria da Educação defende que máscara de pano é tão boa quanto a PFF2.
A Rosane é a porta-voz do grupo RBS e representa o medo deles perderem anunciantes se, por acaso, defenderem coisas como testagem em massa, obras estruturais em escolas, distribuição gratuita de equipamentos de biossegurança para a comunidade escolar...
Todos esses são protocolos defendidos pela OMS, que só recomenda a retomada das escolas quando o contágio estiver baixo.
Lidar com pais sempre foi a pior parte de trabalhar em escola privada.
Numa delas, as reuniões trimestrais com os pais aconteciam no ginásio da escola. Cada professor recebia uma mesa, uma cadeira e uma água e, na hora designada, os pais iam lá.
Determinados professores recebiam filas imensas de pais que não vinham só para saber do desempenho escolar dos filhos. Vinham cobranças de toda sorte e a gente lá, rebolando, sem poder bater boca com os pais porque direção e equipe pedagógica estavam sempre por perto.
Já que o @carapanarana puxou a discussão, vocês lembram quando o papo de "doutrinação esquerdista" na escola saiu do esgoto da internet e veio parar no semanário mais vendido do Brasil?
Eu lembro...
O professor do Anchieta, que ganhou destaque por ousar dizer que "o que gera desemprego é a máquina" numa aula de Revolução Industrial, conseguiu processar a Óia anos depois. Mas o estrago tava feito.
Foi uma década inteira da revista e seus articulistas nessa toada.
Um deles vocês ainda têm a cara de pau de chamar de "tio". Aliás, salvo engano, depois do Olav.o, o tio de vocês foi o primeiro a divulgar o clube de assediadores do Miguel Nagi.b, conhecido também como "Escola sem Partido".
Massssssss...se eu fosse chutar, o que tá rolando é o Lira com medo de não controlar o Congresso (e por isso travando tudo). A última dele, de dizer que passa as reformas ainda esse ano, é quase pérola do humor.
"Ah, mas ele passa tudo mesmo".
E chega no Senado o troço não avança e todo mundo sabe disso - sempre lembrando que política é performance. Fazer de conta que é operador é útil para 2022.