Agora continuando a análise das duas últimas eleições presidenciais por regiões, a Região Sudeste do Brasil. Entre um terço a metade dos brasileiros (80 de 220 milhões) moram na região, a mais populosa do país.
Pelo volume de votos é uma região superimportante. Pode-se apontar uma dinâmica em que a República Café com Leite ainda estaria de pé - perder São Paulo significa que o PT tem pouca margem de erro na “Muralha Vermelha” que vai do Amapá até o Norte de Minas.
E tem MG. A última eleição presidencial em que Minas deixou de votar para o eventual eleito foi em 1950(Não havia segundo turno e o mineiro Cristiano Machado tirou votos do ganhador, Getúlio Vargas). São dois estados-chave para escolher presidente.
Em 2014, Dilma venceu em dois estados da região: Minas e Rio de Janeiro. As margens de Aécio em São Paulo permitiram que ele tivesse a maioria de votos na região.
Em MG, Aécio venceu no Sul de Minas (A parte mais “paulista” do estado) e na capital, e perdeu no Triângulo, Zona da Mata e todo norte do estado. Dilma venceu em todo norte do Espirito Santo e em municipios rurais de SP.
Na capital, Dilma perdeu só no Centro e na Zona Sul. Ela venceu a periferia da cidade, e só perdeu em dois municipios da RMRJ - Petropólis e Niterói. Ou seja, dois municipios com renda mais alta, fora da Baixada Fluminense.
Era basicamente o desenho clássico das coalisões nas grandes cidades do Sudeste antes de 2014 - Aécio venceu na Zona Sul e no Centro, Dilma ganhou na Baixada Fluminense e no resto dos subúrbios de menor renda.
Em São Paulo, o “Cinturão Vermelho” no entorno da RMSP já havia sido obliterado. Dilma venceu por margens pequenas em apenas cinco municípios, e perdeu por todo ABC, com exceção de Diadema.
Algo um tanto quanto brutal para um partido que nasceu no ABC e que sempre se identificou com a periferia. O mesmo fenômeno poderia ser notado na periferia de Campinas.
Campinas, com universidades e cidades industriais, em teoria era para ser um ótimo lugar para partidos de esquerda. Mas Dilma só venceu dois municípios na RM toda, mesmo nos subúrbios industriais na beira da Anhanguera ao norte.
Os petistas sempre gostaram de usar a palavra “Tucanistão” para se referir as derrotas em São Paulo, mas muito dessas margens de derrotas vêm de locais em que teoria seriam favoráveis a um partido de esquerda.
Em 2018, auxiliado pela impopularidade do governador petista Fernando Pimentel Bolsonaro virou o estado de Minas, ampliando a vantagem na região de Belo Horizonte, no sul, virando o Triângulo e fazendo entradas na Zona da Mata e Norte.
Dá para ver aqui algumas rachaduras na Muralha Vermelha (Que inclui, mas nãos e restringe ao Nordeste). Haddad perdeu nos maiores municípios ao norte de MG, incluindo Teófilo Otoni e Montes Claros.
Haddad também sangrou voto no norte do Espirito Santo, perdendo nos principais municipios da região. O viés rural do PT fica meio claro aqui. E claro, teve o Rio de Janeiro.
Uma coisa que 2018 apontou é que todo mundo subestimava a importância eleitoral do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro é um estado esquisito politicamente, com candidatos populares no estado que não conseguem voto em outros estados.
Jair Bolsonaro é o primeiro político com base no RJ a ser viável como presidencial em muito tempo. Leonel Brizola chegou a 1% de ir ao segundo turno em 1989, mas foi isso.
Eduardo Gomes (Sim, aquele general reaça que virou nome de doce de criança) em 1945 e 1950 ficou em segundo lugar (Não havia segundo turno), mas ele nunca foi eleito para nada no Rio.
Haddad perdeu voto em todos os municípios do estado, e só ganhou em três deles, todos com menos de 10 mil habitantes. Os municípios da RMRJ, incluindo os da Baixada Fluminense viraram com força.
Aliás, viraram com bastante força. Tive que procurar por eleições durante a Grande Depressão americana para ver tanta mudança de voto de um ano para outro, vários municípios viraram quarenta pontos.
A questão é: isso foi fruto de finalmente ter um político da casa(Ou do estado) na disputa do segundo turno? Ou aponta para uma virada a direita do Rio? Ou o quanto desse voto pode ser explicado pelos dois fenômenos? E claro, tem o fator milicia.
Em São Paulo, o chamado “Cinturão Vermelho” foi triturado de vez. Haddad só venceu em um único município da RMSP – Francisco Morato, talvez o município com menor renda. Perdeu em todos os outros municípios da região, mesmo que tenha virado algumas partes da periferia da capital.
O mesmo fenômeno pode ser visto em Campinas, aonde Haddad perdeu em todas as zonas eleitorais. Como apontado lá em cima, Campinas vota bem mais à direita que seria de esperar pelo perfil da região.
Os problemas urbanos do PT não se restringiram a essas RMs. Haddad perdeu todos os municipios da RM de Vitória, e só venceu em quatro da RM de Belo Horizonte, todos muito rurais. Perdeu em Betim e Contagem, duas cidades em que o PT tem tanta história como no ABC paulista.
O elefante na sala é a quantidade de gente que deixou de votar, quase dois milhões em apenas dois estados, SP e MG. Bolsonaro teve menos votos que Aécio Neves em São Paulo, mas ampliou a margem em 3,65% apenas com base nas abstenções.
Este tipo de número é assustador considerando que o voto é teoricamente obrigatório. Os votos que sumiram em quatro anos nesses dois estados são mais que o aumento de votos que Bolsonaro teve no estado do Rio. Deveria haver um debate maior sobre isso.
Em quatro anos é possível ver como os petistas perdem espaço em Minas Gerais e a virada violenta no Rio de Janeiro:
Um fenômeno que pudemos observar foi de que as áreas centrais das capitais, que votaram em peso em Aécio, movendo levemente para a direita. É algo que pode ser observado no Rio, naquela área delimitada pelo metrô.
Essa é a área central do Rio, aonde fica o Cristo Redentor e as areas preferidas pelos turistas.
Em São Paulo e na Baixada Santista podemos observar ganhos em partes da periferia, mas também ganhos em bairros centrais e areas mais nobres.
Podemos observar que tanto a área de periferia no Capão Redondo quanto a area de muito mais renda no Morumbi indo levemente à esquerda.
Em Campinas, Haddad teve ganhos na parte norte da cidade, que inclui um subúrbio de alta renda (Barão Geraldo) e a Unicamp (Embora, vale lembrar, isso tudo ocorreu em areas que Aécio Neves teve alta votação)
Pode ser um efeito “Ele não”? Ou isso aponta para uma eventual polarização por educação e renda mais próxima do que enxergamos na Europa e Estados Unidos?
O perfil de Bolsonaro é bastante diferente do candidato tradicional mais à direita no Brasil, mas esta é uma boa pergunta, em especial num eventual futuro sem Lula.
O perfil de Bolsonaro é bastante diferente do candidato tradicional mais à direita no Brasil, mas esta é uma boa pergunta, em especial num eventual futuro sem Lula.
O consolo para os petistas é que o espaço para sangrar votos no Sudeste é pequeno. Bolsonaro tem feito eventos no Norte e no Nordeste porque sabe que a única chance de ganhar votos é quebrando a Muralha Vermelha.
Por outro lado, o Sudeste tem uma quantidade monstro de votos, e perder o Sudeste por grandes margens limita o que pode ser feito nacionalmente. Significa que na melhor das hipóteses não haver falhas na área da Muralha Vermelha, no Nordeste em especial.
Pequenas movimentações em estados como São Paulo e Rio fazem muita diferença, não adianta meramente culpar os evangélicos ou o tucanistão. Perder São Paulo por quarenta, cinquenta pontos significa vencer o Nordeste por grandes margens e ainda perder.
Por fim, note que eu não usei uma palavrinha aqui: “periferia”. Como podemos ver até aqui, não existe um padrão muito preciso em como as áreas majoritariamente residenciais das grandes cidades votam.
Mesmo quando essas áreas teoricamente são parecidas, demograficamente falando, elas podem votar de forma bastante diferente entre si. E mesmo quando estas areas votam de forma parecida os motivos não são exatamente parecidos.
Fala-se bastante em periferia, mas ninguém sabe direito o que se quer dizer com isso. E desconfio que superar essa ideia, que oscila entre um estereotipo e uma romantização, seja importante para a esquerda conseguir vitórias.
Em poucas semanas, a última parte desta série, com o Sul, e iremos concluir esta série.
As outras regiões da série- Norte:

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4 Jun
#ElectionTwitter(International)- Now, continuing the maps of the last two Presidential elections in Brazil: the Southeast, the most populated region in the country.
Versão em português do fio, thread, novelo, como vocês preferirem:
When foreigners think about a specific place in Brazil they are probably going to think about somewhere in the Southeast. Both São Paulo and Rio de Janeiro are there. Between one third to half of the population of Brazil lives in the region (80 of 220 million).
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