As vezes eu tenho a impressão de que o comentário político - especialmente na internet - oscila entre dois polos extremos: ou temos a solução mágica (da semana) para instaurar uma utopia política; ou nossos inimigos são imbatíveis e só nos resta chorar.
Ambas igualmente nocivas
A esperança de que teremos um novo "Elba", um escândalo que será capaz de, numa piscadela, derrubar todos os nossos inimigos - e isso não vem de agora, lembram do Joesley? - é perigosa, sobretudo, desmobilizadora.
Primeiro pelo fato de que ela parte de um entendimento simplório da política, quase como se ela funcionasse como num filme, onde basta que o vilão principal seja derrotado para que todos os problemas estejam resolvidos.
A derrocada de Bolsonaro não é a derrocada das forças que o colocaram no poder, ele não é a origem, ele é um sintoma das nossas mazelas, de problemas mais profundos do que a sucessão eleitoral.
Derrubá-lo é o mínimo, o ponto inicial de uma retomada.
Segundo que ignora a forma como a política institucional opera nesse país, o próprio jogo eleitoral, sua temporalidade. Fatos como o de ontem tem uma importância imensa no jogo político de Brasília, o preço dos apoios aumenta, dívidas são cobradas...
Por exemplo, tudo isso pode ter um peso enorme em 2022, inclusive podem ser determinantes para que haja eleição.
Imaginar uma solução mágica nos desmobiliza. Primeiro pelo fato de que concentra os nossos esforços em situações do tipo "tudo ou nada"; se esse ou aquele ato não derrubar o presidente ele não serviu de nada.
Isso é algo que eu escuto muito sobre a CPI da Covid. Se ela não "prender" Bolsonaro ela terminou Pizza. Ignorando-se, assim, o papel de uma CPI, a pressão que ela já está exercendo sobre o governo e seus aliados e a importância que ela terá em 2022.
O outro polo, o do "nada adianta", é igualmente nocivo, pois nos lança em um estado de prostração, onde só nos resta lamentar ou pior, produz uma massa de ressentidos.
Governos, regimes, ditaduras não caem da noite para o dia. Muitas vezes lutamos por coisas que não veremos acontecer: por vezes, lutamos para que nossos descendentes vivam em um mundo melhor que o nosso, ou pelo menos vivam.
Esse imediatismo, essa sensação de que nada adianta pois as coisas não se transformam na velocidade de uma série do Netflix é, justamente, uma das armas que o outro lado utiliza para nos manter prostrados.
E isso já foi muito bem descrito, só pegar a própria atuação da Cambridge Analytica na Nigéria.
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Hoje é um dia decisivo na #CPIdaCovid, será o depoimento dos irmãos Miranda para discutir toda a questão envolvendo a compra da Covaxin. Nossa cobertura ao vivo na twitch começa agora, 09h.
Como a sessão só começar 14h, vou aproveitar para fazer uma rápida exposição sobre o que ocorreu ontem (especialmente o faniquito do Senador ChãPatinhoeLagarto) e aproveitar para explicar melhor o que envolve a história da Covaxin.
Bônus: vou falar sobre a pesquisa Ipec de ontem que aponta o derretimento do presidente e uma possível vitória de Lula ainda no primeiro turno.
Como venho dizendo na Twitch - acompanhando os grupos de whatsapp e telegram -, tem semanas que o outro lado vem ignorando deliberadamente a # e a própria CPI, mas tudo isso mudou a partir de ontem. Mais uma vez, os grupos e bots passaram a atuar forte.
Eles ignoravam a # (e a CPI) pois sabiam que estavam perdendo no tema. Levar as pessoas até ela representaria um potencial "ponto de escape" fora de ambientes controlados: o usuário médio poderia acabar indo parar nos nossos conteúdos.
Para quem não entendeu os ataques do senador ChãPatinhoLagarto ao trabalho de Pedro Hallal na #CPIdaCovid, especialmente no que diz respeito ao impacto da pandemia sobre povos indígenas: trata-se de um dos pontos pelos quais Bolsonaro pode ser denunciado em Haia.
Os ataques do Senador PiraquêSabores foram orquestrados para desqualificar o diagnóstico de Hallal e blindar o governo.
A fala de Pedro Hallal de que o governo não apenas estava ciente desses impactos como CENSUROU a divulgação dessas informações é uma informação gravíssima, talvez, uma das mais graves que a #CPIdaCovid levantou até o momento. Caracterização do genocídio.
Deixa eu ver se entendi, Onyx e Bolsonaro estão ameaçando o Lúis Miranda ao vivo? E ainda tem quem ache que isso era um plano para safar Bolsonaro?
Pois assim, se o Luís Miranda estiver combinado ele se ferrou e só resta ele abrir a boca. Afinal, agora ele e o irmão está sendo INVESTIGADO PELA POLÍCIA FEDERAL.
Eu avisei hoje na live da Twitch, eu avisei... tinha mais caroço nesse angu do que "teatrinho para blindar o Bolsonaro".
Ainda sobre Luís Miranda, é fundamental compreender que a CPI não trabalha apenas com depoimentos mas também com documentação. O superfaturamento da Covaxin já está na mira dos senadores tem algum tempo.
"Ele vai tentar blindar Bolsonaro e Pazuello". Ele pode até tentar, mas como a memória do ex-diretor da PF já entregou, não existem vestígios de que o governo fez algo para impedir o processo. Muito pelo contrário, existem indícios da ação do Itamaraty no processo.
Só lembrando que nesse momento a #CPIDACovid já tem duas linhas de investigação apontam diretamente para esquemas de corrupção ligados ao Planalto, a história do "dono" dos hospitais federais no Rio de Janeiro e o superfaturamento da Covaxin.
Luís Miranda disse que o Presidente lhe informou que acionaria a PF para apurar as suspeitas de superfaturamento na compra de vacinas. O O ex-diretor da Polícia Federal Rolando Alexandre de Souza disse que não se recorda de qualquer pedido de investigação.
Bolsonaro Desonesto
Luís Miranda também afirma que Pazuello tinha conhecimento dos fatos, correto? Pazuello foi perguntado abertamente sobre o tema na #CPIdaCovid e negou. Se ele sabia mentiu, pior, mentiu para acobertar um esquema de corrupção.
Eu avisei na minha live de hoje na Twitch, essa história ainda vai render e não é pouco.