Há exato 1 ano eu escrevi um texto sobre os conceitos de empatia, desejo e mortem relacionando com o momento vivenciado pela pandemia e o governo brasileiro
Li hoje o texto e resolvi fazer um fio corrigindo apenas a quantidade de mortes - 66.741 pessoas para 526.892 em 365 dias
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Andrew Martin, o Homem Bicentenário de Asimov dos idos de 1975, recebeu o título de "ser humano". Ele só alcançou tal status após ligar seu cérebro positrônico em nervos orgânicos e, com isso, ser visto a partir do que nos é inerente: a morte.
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Não é desejo, amor, ódio, tristeza ou alegria. Não é tesão, dor, sofrimento, êxtase. É termos noção da própria morte - segundo esta ideia de Asimov.
Esta noção é tão forte para Andrew, que supera a 3ª lei da robótica, em que um robô tem que proteger sua própria existência.
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Andrew, ao desejar ser humano apresenta o que é proteger sua existência em um momento ímpar deste conto: "apenas optei entre a morte do meu corpo e a dos meus sonhos e aspirações". Morreu o corpo, permanecendo (e prevalecendo) o desejo, de forma ciente.
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Há quem considere desejar a morte do outro um ato horrível.
Desejar a morte do outro é ato proveniente de raiva, amor, carinho, ódio, pena. É desejo. Latente e pulsante. Em nada se compara à falta de empatia.
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Empatia é sentir o sentimento do outro (ou de outros - plurais), buscar assumir seu(s) ponto(s) de vista, compreender seu(s) ato(s). Não há falta de empatia em um desejo movido pelos sentimentos anteriores.
A falta de empatia é descaso com a morte do outro.
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Em um ato de egoísmo total e completamente autocentrado, ensimesmado, não se importa ao ver, sei lá, 526,892 óbitos confirmados de uma doença, qdo ainda há outras tantas mortes suspeitas por falta de testes, leitos, condições, protocolos.
(no texto original era 66 mil óbitos)
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Ou, ainda, há mortes e exposição por falta de ações específicas que salvariam milhares de fome e frio, em meio a uma grave crise sanitária: só por descaso. Falta de empatia é não se importar, olhar, ver morrer e perguntar: e daí?
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O Desejo pela morte -por dor ou livramento, por raiva ou carinho, por ódio ou amor- tem, como fonte primária, empatia. Se não pelo ser que objetificamos como desejosos de sua morte, por todos os que eventualmente se salvariam pela morte deste 1º, ou de toda a dor que ele causa.
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O descaso pela morte, caros amigos, esta sim carece de empatia.
Retira do outro a dignidade mínima de ser reconhecido a ele o que o torna humano - a única certeza, o que nos faz dar sentido aos nossos dias, nossas lutas, nossos risos, nossos passos. É o significado último.
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Ignorar este momento como o que nos torna humanos é o auge da falta de empatia, ignora nosso momento mais certo e involuntário. Ignora, junto, tudo pelo o que vivemos antes.
Se nada de nossa vida importa, nem mesmo o tempo, nema dor e a leveza de nossa morte, então...
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isto se dá é por nos retirarem tudo o que temos de humanidade.
Não é falta de empatia desejar morte. Falta de empatia é ignorá-la, obtendo ganhos próprios pelo amontoado das carnes sem nome, nem destino.
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Nada pode ser pior do que o descaso com a morte daqueles que têm desejos e aspirações, com a vida, a carne, o corpo que pulsa e luta por estes desejos, para validar seu próprio eu, como se nada mais valesse.
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É pela morte sem descaso que lutamos, é pela vida com desejos que seguimos vivos, sabendo de nossa finitude.
E é pela empatia que temos balizado toda a gana voraz em dizer o que temos dito.
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É por nos saber findáveis que temos questionado as ações com todos aqueles que tem sido roubados de sua possibilidade de serem considerados humanos por serem usurpados não da possibilidade da morte, visto que é nossa única certeza, é mais do que isto...
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É por irem para valas comuns misturando-lhes os desejos, embaralhando seu teor, ignorando suas singularidades, em vida.
(Até um robô deveria saber disso)
1/n Eu acho que é sim um absurdo as datas da vacinação atrasarem por falta de envio das vacinas pelo governo federal.
Porém fica o questionamento: de que forma as cidades e os estados estão se organizando para abrir categorias de vacinação (seja pelo critério que for) SEM doses?+
2/n Perceba:
Cada categoria deveria ter um estudo de quantidade de pessoas em municípios e estados. É assim que se faz política pública, coletando e analisando dados, para gerar uma ação específica.
Como montamos datas de vacinação com previsão se não existe doses suficientes?
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3/n Seria isto propaganda de atos particulares de governantes, sapientes de q faltarão doses, para culpabilizar o federal?
Veja, não tô aliviando o federal, pq vem sendo criminosa sua ação. MAS alardear datas s/ vacinas suficientes e levar os louros de ter tentado não é ruim?
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O que eu mais gosto dos dados que o Isaac debate é que eles são todos públicos e não necessariamente vinculados à “saúde” em um sentido estrito. E mostram o quanto analisar saúde é uma complexidade absurda e que precisamos estar atentos a muitas variáveis
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Isso é importante ressaltar pq são dados que certamente os governos têm acesso - e tem condições de analisar, enquanto corpo técnico tanto estatutário, quanto de consultoria.
Ter acesso a estes dados, compreender a análise e não agir são decisões públicas sabe? Isso que dói.
"Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra
Afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu"
Sempre que eu escuto este verso eu estanco os segundos...
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Desde que a pandemia começou e tenho visto amigos, conhecidos e parentes frequentando espaços públicos aglomerados, as palavras me atravessam com uma voracidade incrível... Consome, entristece, varre cada pedacinho em ares despedaçadamente.
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A ideia de que fomos vencidos pela individualidade, algoz e vaidosa reside no pensamento, enquanto tento afastar de tudo o que possibilita que eu continue...
Há dias de continuar apenas viva para além do óbvio pulsar. Há dias que é preciso mais.
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Aparecida Vilaca diz "é impossível não pensar na pandemia desassociada deste governo", ao falar sobre a questão indígena e a vivência da COVID-19, as violências sofridas neste processo - que se agravou além do que já existia.
Aparecida Vilaca nos lembra o quanto tempos de crises aumentam (e muito) a busca por minérios específicos - como ouro - e o quanto isto aumenta a violência contra indígenas, a invasão de terras, a morte da população para roubo, garimpo ilegal.
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"Olha a matéria para a imprensa amanhã, vou dar matéria para vocês aqui"
O presidente da república acabou de nos dar uma aula sobre como a comunicação em toda a sua gestão vem sendo absolutamente eficiente e tem pautado uma corrida desesperada de cientistas em redes sociais
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A cada fala - absolutamente genocida, gravada e intencionalmente estruturada - nós choramos, corremos para nos posicionar indignados, vamos à exaustão e, eventualmente, desistimos.
Todos os dias desde o início da pandemia e todos os dias desde o início da gestão dele, em 2019.
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Ele tem pautado a imprensa, tem pautado a divulgação científica que tem caído, sistematicamente, em sua linha de direção.
Embora tenhamos crescido em seguidores, nos debates, tenhamos SIM ganhado espaço é absolutamente insuficiente para nos estabelecermos como discurso +
O Brasil agora engrenou finalmente no discurso da vacina, mas tá se jogando nas cordas e relaxando geral as medidas não farmacológicas. E dê-lhe se contaminar... os números que o Léo traz (junto com o que os do @schrarstzhaupt trouxa dia desses) são absolutamente preocupantes
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Gente, promessa de vacina não interrompe transmissão não, viu?
Pra darmos conta de segurar o rojão nos próximos meses precisaríamos com urgência do que não fizemos até agora com eficiência: distanciamento social, máscara e um isolamento BEM feito.
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Os governos estão apostando duro na vacina - e estão certíssimos nisso.
Mas não basta. Temos que parar de circular este vírus maldito: não tem outro jeito não.
A vacinação ainda está lenta demais e estamos próximos do colapso (de novo...).
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