Thread by @TorrentTiago

Por que essa frase é bizarra? 🤪 Quer dizer, em termos linguísticos, porque do ponto de vista da sociologia está bem óbvio… E se eu te dissesse que tem um paper emblemático do Fillmore que explica isso com um toque de humor? 😁 Segue o fio 🧵

https://twitter.com/folha/status/1416424715309174787

Pra começar, temos que concordar que, do ponto de vista estritamente lógico, a frase é verdadeira. Quem acumula menos dinheiro 💰, em termos estritamente formais, fica mais pobre. Mas Tiago, alguns perguntariam, não seria melhor dizer “fica menos rico”? Claro! - eu vos diria.

Mas pra isso nós temos que reconhecer que não existe uma relação direta entre linguagem e realidade! Só que essa visão representacionista da linguagem foi dominante até muito pouco tempo atrás. E essa visão é a que o Fillmore chamou de Inocência.

No paper Inocência: uma segunda idealização para a linguística, Fillmore argumenta que a tradição nos estudos da linguagem voltados para a questão do significado se baseou desde a antiguidade na ideia de que o significado deve ser analisado em termos de condições de verdade.

Ou seja, uma frase seria bem sucedida quando ela representasse algo que é verdade no mundo representado. Fillmore então afirma que essa visão é uma idealização que pressupõe que o falante é totalmente inocente, ou seja, ele usa a língua de forma absolutamente objetiva.

Tanto que ele soa como um extraterrestre! Extrapolando o raciocínio, o falante inocente não seria capaz de entender uma expressão como “chutar o pau da barraca” de forma não literal, ou seja, ele interpretaria essa expressão como 🦵 + 🪵 + ⛺️.

Fillmore argumenta que palavras e expressões que são objetivamente sinônimas adotam enquadramentos ou perspectivas distintos sobre a realidade. Cada um deles é um frame. Assim, ficar mais pobre e ficar menos milionário podem até ser objetivamente mapeados ao mesmo saldo no banco.

Mas as cenas evocadas na nossa mente quando a gente interpreta as duas expressões é bem diferente, né? Então quer dizer que o dono da Riachuelo é inocente? Não, queridos… isso aí tem é outro nome…

Gostou do 🧵? Então leia o paper do Fillmore! Ficou com dúvida? Pergunta aqui 👇

journals.linguisticsociety.org/proceedings/in…

Correção: “Mas as cenas evocadas na nossa mente quando a gente interpreta as duas expressões *são bem diferentes*, né?”