O STF faz jus ao ditado de que no Brasil até o passado é incerto.
Após quase 2 décadas parado, o Ministro Dias Toffolli retomou um julgamento e seu voto pode abalar todo o sistema de concessões de serviços públicos no Brasil, especialmente o setor de infraestrutura.
Explico:
Quando uma empresa que detém a concessão de um ativo enfrenta dificuldades no cumprimento do contrato, ela pode transferi-la a outra empresa.
Não pode haver mudanças nas regras estabelecidas pela licitação, e é uma forma de preservar o contrato, garantindo o serviço à população
O entendimento atual é que não é necessária anuência do poder concedente para a transferência.
Mas Toffoli julgou que essa transferência viola o art. 175 da Constituição, que proíbe que haja concessão sem prévio procedimento licitatório.
Isso causa enorme insegurança jurídica!
Se prevalecer o entendimento de Toffoli, todas as concessões transferidas acabariam e seria preciso uma nova licitação em até 2 anos.
Mas temos DÉCADAS de doutrina e jurisprudência de Tribunais de Contas e de órgãos de controle que entendem o exato oposto do Ministro
Mudar as regras no meio do jogo é injusto e gera consequências perversas.
Se coloque no lugar da concessionária: imagine que, após investir muitos milhões de reais ao assumir uma concessão, você seja obrigado a devolver antes mesmo de recuperar os valores.
O que você faria?
O day after será de dezenas de ações no Judiciário com pedidos de indenização!
Quantos bilhões de R$ o poder público terá de desembolsar para compensar essas empresas?
Em parte, é por decisões judiciais bizarras assim que temos uma bomba de precatórios crescente no Brasil
O voto de Toffoli:
- Desincentiva investimentos;
- Aumenta riscos nas concessões porque se perde uma alternativa caso haja problemas na execução de contratos;
- Gera prejuízos bilionários à iniciativa privada e setor público.
E tudo sem demonstrar prejuízos no sistema atual!
Cria-se insegurança jurídica, ameaça a credibilidade do país, abala-se a confiança de investidores e do mercado de capitais, os cofres públicos perderão bilhões em indenizações e o cidadão ainda fica sem o serviço..
Esse voto representa o famoso "vai todo mundo perder" da Dilma!
Há ainda os custos indiretos:
Há a projeção de que ao final de 2021 teremos cerca de R$ 100 bilhões em rodadas de investimento de infraestrutura para concessões
Mas se o voto de Toffoli prosperar, esse tipo de investimento tem o risco aumentado e, óbvio, se torna menos atrativo
Se esse entendimento bizarro prevalecer, brasileiros podem ficar sem metrô, continuarem sem saneamento básico e com as rodovias esburacadas.
Enquanto isso, fica a pergunta: o que acontece com os ministros do STF inconsequentes?
Lula disse que o mercado conviveu com o PT por 14 anos em seu governo e com Dilma e afirmou não entender "do que o mercado teria medo".
Como mostra esse gráfico do @terracoecon, o Ibovespa em dólar cresceu mais de quatro vezes ao longo de seus 8 anos de governo.
O que explica?
Primeiro, boa parte do mau desempenho do mercado acionário no 2º governo de FHC se deu em virtude do chamado "Risco Lula".
Lula liderava as pesquisas, mas havia incertezas sobre qual seria a política econômica de seu governo diante de seu histórico discurso "socialista sindical"
Dólar hoje está caro, custando quase R$ 6, certo?
Mas se descontarmos a inflação, o recorde da desvalorização do Real perante o Dólar ocorreu justamente às vésperas do 2º turno das eleições presidenciais, batendo R$ 7,64.
Ou seja, o governo Lula assumiu com o mercado "na baixa"
Alguns eventos recentes do debate público reforçam a ideia de que as esperanças de combate à corrupção que o Brasil viveu nos últimos anos não devem passar de um grande sonho de uma noite de verão.
Se liguem na thread:
Não houve a transparência devida dos entes públicos nas compras públicas diante do estado de calamidade.
Resultado: apenas o ES não registrou denúncias de possíveis esquemas;
Temos quase R$ 1,5 bilhão em contratos sob suspeitas de fraudes, corrupção e má alocação de recursos!
No Congresso, projetos fundamentais para coibir crimes de colarinho branco estão parados:
- A PEC que acaba com o foro privilegiado está na geladeira da Câmara desde 2018;
- Apesar de haver diversos projetos que recriam a prisão após condenação em 2ª instância, nenhum avançou!
Comemorar porque a constituição está sendo cumprida no Brasil já diz muito sobre nosso cenário de insegurança jurídica e como isso nos deixa um país mais pobre
Não fosse pressão, a Constituição não seria cumprida:
"Na semana passada, os ministros do STF tratavam como placar garantido permitir mais de uma reeleição para presidentes da Câmara e do Senado na mesma legislatura.
Mas, o cenário começou a virar na noite de sexta-feira".
Alguns ministros mudaram de ideia por 2 fatores:
- Repercussão negativa nas redes sociais e na imprensa:
Seria necessária uma interpretação da constituição ampla demais para beneficiar Maia e Alcolumbre, o que arranharia a imagem do Supremo;