Alguns eventos recentes do debate público reforçam a ideia de que as esperanças de combate à corrupção que o Brasil viveu nos últimos anos não devem passar de um grande sonho de uma noite de verão.
Se liguem na thread:
Não houve a transparência devida dos entes públicos nas compras públicas diante do estado de calamidade.
Resultado: apenas o ES não registrou denúncias de possíveis esquemas;
Temos quase R$ 1,5 bilhão em contratos sob suspeitas de fraudes, corrupção e má alocação de recursos!
No Congresso, projetos fundamentais para coibir crimes de colarinho branco estão parados:
- A PEC que acaba com o foro privilegiado está na geladeira da Câmara desde 2018;
- Apesar de haver diversos projetos que recriam a prisão após condenação em 2ª instância, nenhum avançou!
Em dezembro, o Ministro do STF Kássio Nunes afrouxou as normas da Lei da Ficha Limpa a partir de uma liminar, reduzindo o período de inelegibilidade de políticos condenados criminalmente.
Agora, a força-tarefa da Lava Jato foi extinta e nem capa de jornal foi...
O mais grave é que todos esses episódios ocorreram em um contexto sem tanta comoção da sociedade civil e nem grande atenção midiática.
Ou seja, o combate à corrupção está em baixa histórica em termos de debate público no Brasil, o que aumenta a chance de termos novos retrocessos
Ou mídia e sociedade civil se engajam, ou a percepção pública será de que teremos vivido só uma peça shakesperiana:
Para alguns políticos e empreiteiros corruptos, o gênero dela será a comédia;
Para o povo, será só um drama amargo mesmo
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Comemorar porque a constituição está sendo cumprida no Brasil já diz muito sobre nosso cenário de insegurança jurídica e como isso nos deixa um país mais pobre
Não fosse pressão, a Constituição não seria cumprida:
"Na semana passada, os ministros do STF tratavam como placar garantido permitir mais de uma reeleição para presidentes da Câmara e do Senado na mesma legislatura.
Mas, o cenário começou a virar na noite de sexta-feira".
Alguns ministros mudaram de ideia por 2 fatores:
- Repercussão negativa nas redes sociais e na imprensa:
Seria necessária uma interpretação da constituição ampla demais para beneficiar Maia e Alcolumbre, o que arranharia a imagem do Supremo;
Muita gente ficou surpresa/absurdada quando publiquei aqui um levantamento recente que apontou 86% dos argentinos como favoráveis ao controle de preços.
A pergunta é:
Será que a grama dos brasileiros está tão mais verde do que a dos vizinhos?
Vamos lá:
Em 2007, 7 em cada 10 brasileiros acreditavam que o Estado deveria controlar o preço de TODOS OS PRODUTOS VENDIDOS NO PAÍS!
A pesquisa consta na obra ‘A Cabeça do Brasileiro’, de @albertocalmeida, e já dá o tom do que escreverei nos próximos tweets dessa thread
Afinal, o Brasil também tem tradição em tabelar preços:
Pode ser no passado distante do Governo Sarney, no passado recente do Governo Dilma ou ainda em dias atuais.
A regra é simples: havendo demanda popular por uma intervenção, os políticos ficarão felizes em corresponder
Maioria dos estados e municípios receberam MAIS DINHEIRO DO QUE PERDERAM com a pandemia graças ao socorro de R$ 60 Bi da União.
Mas agora isso pode virar AUMENTO SALARIAL PARA SERVIDORES porque o Senado derrubou veto do presidente à reajustes!
A ÚNICA contrapartida foi retirada
Vale lembrar que durante a tramitação desse pacote, muitas categorias de servidores pressionaram assembleias e câmaras para votarem aumentos salariais mesmo em meio ao caos da pandemia:
Houve casos de deputados estaduais trabalhando até em final de semana para aprovar aumentos!
O impacto para a União é estimado em R$ 43 BILHÕES, e a conta total de Estados e Municípios pode chegar a R$ 132 BILHÕES!
Ou seja, os senadores abriram brecha para criarem uma farra com dinheiro público com despesas que equivalem a quase 4 anos de Bolsa Família!