7 ESFERAS E 7 DE SETEMBRO
1/17 Eis que o cara das 7 Esferas convocou a galera pro protesto de 07/09. Isso é grave? Sim. Mas eu acho que o buraco é mais embaixo.
Para entender isso, 2 frases dele no vídeo são a chave desse fio. Pega uma água e senta que lá vem história:
2/17 1º: "As questões políticas vão afetar tendências culturais, e as tendências culturais vão afetar a maneira como vivemos a nossa espiritualidade"
2º: "É muito mais espiritual que você imagina"
O que temos? Em (1), uma visão da política que as mudanças vêm "de cima para baixo"
3/17 Em (2), a afirmação que essas mudanças são marcadas por um forte elemento espiritual.
Essa é a base da ideia das 7 Esferas. Johnny Enlow, que pregou na igreja Monte Sião, fala que a igreja deveria ocupar espaços "que moldam cultura" para "lutar contra o espírito de Jezabel".
4/17 Isso é uma estratégia para recuperar o domínio sobre toda a Criação, que o Diabo roubou da humanidade na Queda. Para lutar contra os espíritos malignos e "trazer o Céu para Terra", a igreja precisa de pessoas "alinhadas" com o propósito de Deus: os profetas.
5/17 Esse livro mostra que essa é uma das razões pelas quais as 7 Esferas fazem sucesso: oferecem uma possibilidade de engajamento político-cultural, inserido numa narrativa de uma luta espiritual de proporções cósmicas, que atingem todas as áreas da vida. amazon.com.br/Rise-Network-C…
6/17 Mas, nem tudo é novidade: a ideia de pessoas "alinhadas com o Céu" para liderar a igreja na retomada de domínio cultural tem sua raiz no movimento de Batalha Espiritual, na restauração do ofício apostólico para serem "generais" na guerra espiritual.
7/17 Inclusive, Roberts Liardon elaborou uma série de livros chamada "Os Generais de Deus",com uma leitura da História do Cristianismo a partir dessa lente profética/apostólica.
8/17 Porém... tem um furo nessa estratégia das 7 Esferas. O papo é sobre como chegar nos "espaços que moldam a cultura", mas o que a gente faz quando chega lá? Fica só esperando o "profeta" receber o direcionamento espiritual?
9/17 No vídeo do Hayashi, tem a dica: a pauta é liberdade religiosa, e ser contra o aborto, o comunismo e ideologia de gênero. Considerando a influência da Batalha Espiritual, isso é novidade nenhuma: já aparecia nesse livro da Cindy Jacobs 👇 amazon.com.br/Manifesto-Refo…
10/17 Só que tem uma coisa interessante no "Manifesto da Reforma": Jacobs cita nas notas Kuyper, Schaeffer, Gary North e R. Rushdoony. Do calvinismo holandês aos teonomistas, Jacobs encontrou uma base mais "intelectual" para justificar o domínio cultural.
11/17 E mais: essa "base intelectual" que Jacobs usou para justificar o domínio era alinhada com um movimento político dominante no evangelicalismo dos anoa 1970-90: a Maioria Moral. O objetivo dessa galera? Restaurar os "valores cristãos" da América.
12/17 Esse artigo resume bem o rolê da Maioria Moral: a crença que os EUA foram fundados por um "modelo bíblico" de governo, com a missão de ser um exemplo pro mundo, mas o secularismo atacava essas bases que os "Pais Peregrinos" trouxeram da Europa.
13/17 (Aqui fica a recomendação de um livro excelente sobre o pessoal que era evangélico - ou sejam não era "liberal" - e bastante crítico da Maioria Moral)
14/17 Ainda, o apelo do pessoal da Maioria Moral aos "Pais Peregrinos" reforça uma característica dos EUA desde os tempos coloniais - a crença que a chegada dos puritanos na América criaria uma "república cristã" que fosse "luz para as nações". Essa é a ideia Destino Manifesto.
15/17 Eu disse que o buraco era mais embaixo, né? Deixa eu concluir aqui:
1. Não é um problema de 2018, lidamos com uma mentalidade teológica e política que foi alimentada por uns 30 anos no Brasil 2. Essa mentalidade é autoritária pelo tom moralizador "de cima para baixo"
16/17 3. O fato de Jacobs encontrar em autores reformados elementos para justificar o domínio pode indicar pontos cegos na tal "cosmovisão cristã/reformada"*, a ponto de justificar autoritarismo
4. Estamos lidando também com (mais) uma importação acrítica dos EUA.
17/17 *[Obs.:] Cosmovisão cristã/reformada com aspas pois, do calvinismo holandês aos teonomistas, o uso do conceito é bem diverso (leiam o livro do David Swartz e o artigo abaixo). E a interpretação que Jacobs faz de Kuyper é questionável.
"REFORMADOS" E ROMANOS 13
(1/20) Passei muito tempo dizendo que liberalismo era "bíblico" (especialmente a partir de Rm 13). Aqui, conto um pouco de como passei a questionar essa posição.
*"REFORMADOS" (entre aspas) porque existe divergência entre calvinistas nesse assunto.
(2/20) Desde que me identifiquei com a teologia reformada, vi em diversos estudos e vídeos na internet; em livros e alguns congressos que participei que calvinistas só poderiam interpretar Romanos 13 da seguinte forma:
(3/20) Paulo estaria definindo, nos versículos 1-7, um princípio que limitaria as ações do Estado apenas à aplicação da justiça para "punir o mal e louvar os bons" (geralmente restrito a punir crimes). O que passasse disso, era antibíblico.
GRAÇA SELETIVA?
Por conta dos protestos antirracistas nos EUA e aqui, tive contato novamente com um texto de um teólogo reformado que denunciava o "mito" Martin Luther King. Ao ler, desconfiei de algumas coisas, que compartilho aqui. Segue o fio 👇
(2011) Sobre MLK, o autor diz: Não se pode "canonizá-lo", "santidade estabelecida pela mídia", "não deixou legado expositivo", "plagiou doutorado", "traía a esposa", "liberal", discursos "não passam no teste da ortodoxia", não é "exemplo de cristão".